Eu tentei me reinventar, para se, ao acaso, te encontrasse pela rua. Dizer que conheci alguém novo naquela boate que você sempre se recusava ir e que as coisas caminhavam para algo mais sério, talvez. Isso de tentar mostrar que eu segui sem você e que tudo andava muito bem obrigada. Só não poderia confessar que desde a nossa última noite eu me encontrava jogada no sofá, chorando com qualquer pequena cena romântica que passasse na TV. É tudo que me lembro além do gosto amargo da vodka toda manhã. Mas então me toquei que para te encontrar eu primeiro teria que sair de casa, o que não fazia a um tempo considerável. Uma amiga veio tentar me salvar do melodrama do nosso fim antes que eu me afogasse em tantos lenços de papel. Eu disse que precisava de você. Ela disse que eu precisava de luz e um pente. Abriu as cortinas e me trouxe um espelho. Não reconheci o reflexo. Mas até que ele estava melhor do que minha parte de dentro. Ela disse que era o álcool, o romantismo hollywoodiano e a minha queda em ser a coitadinha. Quis mandá-la para o mesmo lugar que mandei você quando me contou sobre a Carla. Você, Carla, ela e todo o mundo poderiam ir para lá. Mas ela me trouxe um café e a foto de um tal de Ricardo que estaria super interessado em mim. Ele parecia o Sid da “Era do Gelo”. Ela disse que apertando os olhos e com as luzes da boate eu o acharia parecido com o Tom Cruise. Foi aí que eu percebi que ela merecia ir para um lugar bem pior. Mas tenho que agradecer à ela, a você e a Carla. Depois do episódio do Sid eu tomei um banho e marquei hora no salão. Voltei a trabalhar, bani qualquer gota de álcool e passei a acordar todos os dias buscando ser mais bonita ao ponto de não precisar ficar com uma animação de um bicho preguiça, ter mais amor-próprio para não deixar que existam outras Carlas e ser mais inteligente para não me apaixonar por babacas como você.
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