Todos os textos deste blog são de minha autoria, quaisquer textos, frases, ou expressões de qualquer outra pessoa, virão em itálico ou com créditos.

31 de outubro de 2010

Sobre o fim.

Ele a olhava nos olhos, procurando qualquer rastro, qualquer sombra daquele tal amor. Embora os lábios dela declarassem ao mundo que o amor que o dedicava não havia maior, suas atitudes se faziam antagônicas de forma gritante, devastadora. E ele olhava aquela face doce de sorrisos encantadores e sentia a felicidade de tempos atrás ali, se oferecendo gentilmente. Mas o peito doía, sufocava. Então ela quebrou o silêncio:

''Ela: Eu pensei que seria para sempre.

Ele: E eu pensei que você nunca me trairia.

Ela: Eu sei que errei, mas eu queria o seu perdão.

Ele: O meu perdão você já tem, só não tem mais o meu amor.''

Dói demais.

Eu tenho sentido falta de você nos meus dias, mesmo te tendo em parte. Depois de tanta mudança, depois do tempo, dos erros e mágoas, e do suposto perdão, eu não te sinto mais. Cerco-me por milhares de sentimentos e ainda assim você se ausenta. Como se eu te buscasse sempre e nunca te alcançasse. Não mais. E você diria que é o meu drama envolvendo minhas palavras, exagero. E até pode ser drama sim, mas exagero: nunca. É que eu estou exausta. Exausta de sentir saudade, exausta de procurar o passado no presente, exausta de tentar consertar, exausta de não conseguir. E eu descobri a pouco que não importa quanta cola eu use, os cacos nunca serão reconstruídos, nunca ficarão como antes, porque muitos já se perderam pelo caminho. E dói demais saber que ficaremos quebrados, para sempre. E dói demais saber que eu não terei mais o você de antes, que talvez este não exista mais (para mim). E dói demais a ausência do que antes fora amizade. E dói demais não saber o que fazer. E dói demais o perder. E dói, e dói...

“Perco tempo
E faço coisas que você parece nem notar
Tantos planos e outra vez eu vou embora sem saber o que falar”

30 de outubro de 2010

Marcas da luz.

Embora o sol da manhã invadisse as janelas do meu quarto, ele nunca conseguia me invadir. E os dias se passavam tão escuros quanto à noite que me envolvia em solidão fria, que já amiga não doía mais. Entretanto entre as esquinas negras eu encontrei tua luz. Mas fechei os olhos por medo. Já fazia tempo que a luz se ausentara que o medo de tê-la me corroia o peito. Pois se a tivesse poderia perdê-la outra vez, e tão dilacerado o meu peito não agüentaria outra queda, outra marca. Segui com as pálpebras deitadas, sem permitir que meus olhos buscassem a ti. Mas você já havia feito morada entre os abismos que ocupavam o meu peito e mesmo com os olhos fechados vi luz. A tua que sem permissão havia me invadido. E sempre que me encontrava ao seu lado as marcas no meu peito desapareciam e a entrega era quase impossível de não se concretizar. Então a razão me perguntou se não foi assim que as marcas haviam aparecido.

29 de outubro de 2010

Conversa sobre o tal amor.

- Dê que morreu essa linda mulher que estampa os jornais?

- Dê amor. Suicidou-se por sofrer por ele.

- Então não era amor, era doença.

- E o amor não é uma doença? Daquelas que só a morte cura?

- Não acredito. Doença te rouba à vida aos poucos, corrói o corpo, às vezes a alma. E para mim o amor é esta vida, daquelas que se propagam mesmo depois da morte.

(...)

Das brigas II.

- Você pode, por favor, parar de mexer nesse celular e me dar um pouco de atenção? – disse ela irritada.

- Mas eu estou te dando atenção. – disse ele com um sorriso no canto dos lábios, sem olhar para ela.

- *Humpf. – bufou ela revirando os olhos, impaciente e ainda mais irritada.

E então o celular dela vibrou, era uma mensagem.

“Minha atenção, assim como meus pensamentos, estão sempre focados em você, sua boba. Eu te amo!”

Um sorriso enorme a tomou a face e mil beijos foram poucos perto dos tantos que ele recebeu.

28 de outubro de 2010

Quando o amor se divide em dois caminhos.

Ela: Eu o encontrei ao acaso na rua. Ele estava tão lindo como minhas lembranças o guardavam. Mentira. Estava ainda mais. Ele tinha um brilho no olhar. Com certeza devia estar feliz agora. Perguntei como ia a vida dele e ele sorriu. Eu não sorri em resposta, embora os olhos já estivessem sorrindo desde que o avistei. Ele perguntou como eu estava e respondi que bem. Então ele perguntou se eu guardava lembranças e eu dei de ombros. Falei para ele que tinha um compromisso e voltei para casa. Eu chorei. Compulsivamente, eu chorei. Por mais que as mentiras tivessem invertido minhas palavras a partir do momento em que disse que estava bem, elas não conseguiam inverter o que eu sentia cá dentro do peito. Eu não estava bem, estava vazia, sem pulsar desde quando ele se foi. E as lembranças... estas o traziam para mim a cada segundo. Meu Deus, como eu ainda o amava.


Ele: Dessa vez eu a encontrei na rua. Na milésima vez que passava por esta torcendo para a encontrar. Ela estava mais bela que nunca. Meus olhos brilharam, como se eu estivesse diante de estrelas, diante da vida. Ela era vida. Ela perguntou algo que eu não ouvi. Meus pensamentos se focavam unicamente nela, na felicidade que sua presença trazia. Eu sorri inevitavelmente. Perguntei como estava e ela respondeu que bem. Fiquei feliz por ela, embora morresse vendo que longe de mim ela ainda ficasse bem ao contrário do caos que minha vida havia se tornado. Perguntei sobre as lembranças, com esperança tênue dela me ter em pensamentos mesmo que vez enquanto. Ela deu de ombros, disse que tinha compromisso e se foi. Mais uma vez. Voltei para casa e chorei. Compulsivamente, eu chorei. Eu a havia perdido. E meu Deus, como eu ainda a amava.

27 de outubro de 2010

Das brigas.

Eu o olho do outro lado do quarto tentando prender a feição de raiva em meu rosto, mas sinto tudo desmanchar-se em um sorriso quando aquele olhar doce de desculpas, com um brilho que somente ele tem, vem ao meu encontro. A razão pela raiva, da qual eu nem me lembro mais, e por estarmos em lados opostos do quarto, se esvai em um abraço de congelar o tempo. O meu mundo pára similar às outras vezes quando os braços dele me embalam e apagam tudo externo a aquele momento.

- Você fica linda brava. – ele sussurra no meu ouvindo, arrepiando minha nuca.

- Você não vai se safar tão fácil dessa. – digo mesmo sem lembrar o motivo de ter estado brava e com a certeza que tudo já foi perdoado há muito tempo.

- Tem certeza? – ele pergunta um segundo antes de roubar-me um beijo junto ao fôlego. Perdemo-nos ali, um no outro, por um tempo que não sei qual foi, mas sendo curto demais em oposição ao meu desejo de eternidade.

- Eu amo você. – ele sussurra no meu ouvido, arrepiando-me à pele que nunca se acostuma à eletricidade que vem dele e percorre-me toda.

- Eu amo você. – digo olhando-o nos olhos, guardando em sua alma todo esse amor.

26 de outubro de 2010

Querida K,

Há treze anos nasceu uma amizade pequena em nós, que com o tempo foi ganhando traços de amor e cumplicidade. E a cada dia você foi me mostrando que os laços afetivos de amizade são correntes inquebráveis, são alicerces, fortaleza. E fora exatamente assim que eu me senti com você ao meu lado, impedindo que eu caísse em momentos de fraqueza e transformando minhas alegrias em felicidades em momentos de sorrisos. Sendo assim não haveria como eu me sentir bem quando vejo uma lágrima no seu olhar ou um sorriso inverso roubando a beleza do teu rosto, acabo por sentir suas tristezas em meu peito como se fossem minhas e doem em dobro por te atingirem tanto assim. E então busco mil maneiras para te trazer aquela gargalhada que contagia a todos e ilumina qualquer dia nublado. Porque afinal somos como metades, só vejo minha felicidade completa quando estás feliz junto a mim e sinto que acontece o mesmo com você. A verdade é que irmãs têm disso, dividem desde palavras até sentimentos. E hoje eu quero dividir uma felicidade imensa com você, por estar completando mais um ano de vida. Quero vibrar por todos os momentos do último ano e todos os que estão por vir no próximo. Que hoje o sol brilhe mais forte dentro de você e que este brilho se prolongue por outros dias e nunca se acabe. Também quero traduzir todos esses desejos de realizações, saúde, felicidade e amor que trago no peito e dedico totalmente a você, que merece tanto e muito mais. Você é muito importante na minha vida e sinto que não saberia viver sem seus sorrisos enormes em cada manhã. Eu jamais poderia descrever o quanto há de você dentro de mim, pois realmente é inexplicável. É carinho imenso, amor que se renova a cada amanhecer. E hoje te digo que você é muito além de amiga, é minha irmã. Daquelas que não estão presentes apenas no dia-a-dia e sim na alma. Eu amo você, sempre e para sempre!

Feliz aniversário!

25 de outubro de 2010

Em cada parte de mim.

Incontáveis. Foram as vezes que me peguei sorrindo sozinha olhando para a nossa foto. Você tem disso, me traz felicidade até distante. Viajei entre mil lembranças de momentos nossos e o peito reclamou sua ausência. É que o que eu sinto não tem nome, não se explica. Isso talvez nem exista. É felicidade, é dor, é desejo, insegurança, amor, que brigam por um espaço do qual a saudade fez-se dona há muito, sem pedir. E então eu tento dizer, traduzir os segredos nas estrelinhas dos meus gestos, o sentimento que me consome, mas não há voz que leve a teus ouvidos a imensidão que tudo se tornou ou o quão me trazem sorrisos constantes. A verdade é que tudo cresceu além das linhas que eu tinha imposto no começo e agora eu te encontro em cada parte de mim.
“Eu e você / Não é assim tão complicado / Não é difícil perceber
Quem de nós dois / Vai dizer que é impossível / O amor acontecer”

23 de outubro de 2010

Feliz, o estar em paz.



 

Enquanto a tempestade gritava lá fora o silêncio dominava-me por dentro. Calmaria depois de férias se acomodou entre os sentimentos de guerra em meu peito e trouxe paz. O nó na garganta havia se desfeito, mesmo assim as palavras se recusavam fazer som, encontravam saída pelo olhar e ali faziam morada. A explosão do coração transformou-se em êxtase que entorpece, ao invés de debater as tais borboletas descobertas a pouco, as faziam flutuar. E o sentimento que me afogava em sal, agora transbordava doce em gestos, momentos. E enquanto o tempo se distraía prolongando o ápice do que tão perfeito eu não encontrava nome, me perguntei se tal distração não era a velha felicidade.

Morte em vida



E a escuridão da noite se fazia luz diante do abismo que habitava seu peito. Já não havia mais felicidade, amor, saudade, raiva ou dor. Esvaiu-se a muito dos mesmos, de tudo. O que restara fora a ausência. Via-se vazia, oca. Sem lágrimas, sem sorrisos. Sem sentir. E quando não se sente o que resta? Era morte em vida, segundos eternos num sentir ausente que consome, que mata aos poucos o que a muito já se encontra morto.

20 de outubro de 2010

A beleza, o tempo levou.

Ele não é de todo belo. Ele sabe ferir depois de um sorriso que entorpece, que eleva. E nas entrelinhas da felicidade ele traz lágrimas ácidas. E tão bem quanto trazer vida, ele sabe fazer morrer. Nas nuvens de ilusão ele te rouba as asas e o que restam são cacos na solidão fria. Mas ele sempre volta, reconstrói os estilhaços, te traz brilho aos olhos e te faz voar mais uma vez. Re-começa o ciclo até que você prefira os pés no chão aos sentimentos irracionais que correm pelo corpo em ritmo incomum. O brilho no olhar não se faz mais tão necessário e a alma se adapta à chuva que afoga por dentro. E tudo passa de busca incansável e inalcançável por medo do encontro. É que o amor é belo, mas dói tanto que depois de certo tempo
as lágrimas te impedem de ver a beleza.

18 de outubro de 2010

E se?


Se o seu sorriso em resposta ao dele for um sinal? Se o abraço dele for realmente do tamanho exato? Se os dias não fizerem sentido sem ele? Se você ocupasse os pensamentos dele assim como ele ocupa os seus? Se o beijo dele for o mais doce como você achou? Se cada momento se tornasse incrível como cada detalhe dele? Se seus sonhos se completarem? Se ele ausentasse o sofrer do teu peito já há tanto ferido? Se ele comemorasse um mês de namoro como 50 anos de casados? Se dessa vez verdadeiramente valesse apena arriscar? Se ele for a realização dos seus sonhos de contos de fadas? Se ele dissesse sim no altar? Se o para sempre se renovasse a cada dia para o amor? Se a felicidade se fizesse presente mesmo após tantos anos? E se as estrelas trouxessem o eterno para vocês?

Não valeria a pena tentar?

17 de outubro de 2010

Novo pulsar.

Desejei dizer que não pensei em você hoje. Que fui feliz pela manhã sem seus sorrisos. Que minhas palavras não andam se direcionando a você, ou ao que você causou em mim. Que saudades não tomam meus sentimentos em suspiros constantes e que não procurei seu olhar nos olhos de quem vi passar. Mas assim que as palavras atravessam meus lábios a mentira as afogam. Perdem o som em contradição ao que grita por dentro e eu prendo. E dói prender essa explosão em que insisto ignorar. Mas vem percorrendo o corpo tão rapidamente que me perdi nesse sentir novamente, após tanto tempo evitando, adormecendo o que despertava. E mesmo com aqueles mil motivos antigos me impulsionando a evitar, fugir deste desejo de ver o seu sorriso mais uma vez, surgiu um novo, contrário à tudo, que me prende e me faz querer viver-te além das lembranças. Anda correndo nas veias e atingindo o que à sete chaves protegi tempos atrás. É aquele sentimento, há tanto ausente, devolvendo pulsar ao peito.
“Eu tenho medo de te dar meu coração
E confessar que eu estou nas tuas mãos
Mas não posso imaginar o que vai ser de mim
Se eu te perder um dia”

15 de outubro de 2010

No silêncio do olhar.

Enquanto aqueles olhos doces a olhavam, a desvendavam, ela quis dizer tanta coisa. - Que não entendia o ritmo que tudo ocorria, mas que a intensidade era inigualável. Que não sabia por quanto tempo iria durar, mas que seus desejos se resumiam em eternizar cada segundo que a companhia dele fazia nascer um sorriso bobo nos lábios dela. Que a cada despertar, a cada adormecer, os pensamentos se focavam nos olhos dele. Que a vontade de tê-lo se tornava em necessidade de ser feliz. Que ela estava se apaixonando cada vez mais por aquele brilho que só ele tinha. Que os dias sem eles eram brancos, vazios. Que a amizade nunca foi tão bela antes do toque amor. Que em noites ele invade seus sonhos, não se contentando somente com pensamentos durante o dia. Que já faz tanto tempo, que ela nem se lembra mais como era sem os sorrisos, sem o amor, sem ele (...) - Ela quis dizer tanta coisa, tanta coisa, que ficou calada, apenas o observando também.

“Se ficar assim me olhando,
me querendo, procurando,
não sei não, eu vou me apaixonar”

Vem vambora.



“Entre por essa porta agora
E diga que me adora
Você tem meia hora
Pra mudar a minha vida
Vem vambora
Que o que você demora
É o que o tempo leva”



Com o coração na garganta, calava-se. O futuro incerto refletia medo em seus olhos. A esperança percorria suas veias, queimava, ardia, difundia vida pelo corpo a cada segundo em que o peito parecia explodir, e se esvaía mais a cada avançar do tic-tac impiedoso. Havia ansiedade em seus dedos, que em busca de distração brincavam com as passagens, meio amassadas, em suas mãos. Os pensamentos se prendiam ao desejo de ouvir aquela voz suave em tom intenso, de sentir o beijo-calor que a faria rasgar o papel de um novo futuro já amassado entre seus dedos. Ela queria o passado em presente. Queria-o ali, impedindo qualquer passo em outra direção que não a da cama. Entretanto a porta continuava fechada, o telefone mudo e os segundos correndo. (...)

14 de outubro de 2010

Abismo de memória.

E a cada segundo que transbordava a ausência dela, o medo crescia interruptamente. As lembranças iam se perdendo ao esbarrarem em saudade de um passado que o estilhaçava em dor. Os detalhes iam sendo esquecidos contra o desejo de resgatar, congelar os momentos que consumiam o peito, embora não se fizessem suficientes para reescrever as linhas que traziam luto. O vazio se fazia presente, lembrando-o memórias inesquecíveis. Sua vida ia se esvaindo à proporção que a dor devorava o que antes nomeavam coração e que hoje mudo, via-se similar a um abismo de sentimentos inversos. O tempo apagava-a, mas a dor permanecia desde que ela havia levado a vida dele junto à sua. E por mais que o brilho daquele olhar tivesse se apagado, se via impossível enxergar outros olhos. Lembrava-a antes de respirar, e assim como o ar, a memória lhe escapava por entre os dedos.

11 de outubro de 2010

Espera.


Em seus dedos escorria ansiedade e em sua garganta um nó prendia a voz, com se tivesse engolido algo imensamente grande, incapaz de se digerir, incapaz de caber nela. Mordeu os lábios levemente, imperceptivelmente, tentando inutilmente conter a agitação dentro de si. O vento se fazia gelado, fazia tempestade nas paredes internas e subia ao peito tirando-a o fôlego e dissolvendo-se a cada pulsar. Suspirou. Olhou então, mais uma vez, as horas que haviam corrido menos de um minuto. Procurou ocupar o tempo, que já muito ocupado em arrastar as horas, não se deixava ocupar. Buscou fome, sono e qualquer outra tarefa que a tirasse da necessidade esperar. Esperá-lo. A saudade não cabia nela, não cabia no tempo, não cabia. E então, ela esperava, esperava, esperava.

9 de outubro de 2010

Sentir, sem entender.


 
Ele a olhava sem entender aqueles sentimentos e então lhe perguntou:

- Por quê?

- Porque não importa o quão ruim se faça os dias, quando você se faz presente neles tudo se torna perfeito. Porque o peito ganha um ritmo díspar quando ouço seu nome. Porque as estrelas ficam com um brilho fosco perto dos seus olhos e do seu sorriso. Porque o coração reclama os segundos que se passam sem a sua companhia. Porque amar não é escolha que se faça. É visita inesperada, magnífica ventania que revolve tudo e arranca as vontades pelas raízes. – Respondeu ela, sem entender a dúvida dele.

8 de outubro de 2010

Em primavera.


Ela não esperava que ele chegasse naquele dia cinza e que tampouco visse suas lágrimas percorrendo as feridas congeladas, estagnadas. Entretanto ele sentou-se ao seu lado e ofereceu-a um sorriso que sem mais foi rejeitado. Ela não o conhecia ainda. Não o conhecia em essência, pois em aparência ela conhecia sofrer. Outro que a faria sofrer, em palavras com ápices maiores pensou. As mágoas que a trasbordavam o peito se direcionavam a ele, mesmo possuindo outro remetente. Ele não se importou. Ele entendeu. Ele absorveu. Esvaziando-se de toda dor, seus olhos agora secos puderam vê-lo com alma doce. Em traços de imperfeições tão belas, detalhes suaves e brilho-esplendor, estava ele fazendo flores nascer onde antes feridas faziam morada. Ela perdeu o fôlego com tamanha rapidez que tudo foi florindo, crescendo interminavelmente. Nova estação, num suspiro bobo ela notou. Estava em primavera.

6 de outubro de 2010

Faz inverno por dentro.



Eu ando com uma urgência de você. Dos sorrisos, lágrimas, abraço. Você trouxe vida aos meus sorrisos automáticos e satisfeito colocou o pé numa estrada inversa a minha. Entretanto com o passar dos dias o brilho foi se esvaindo e hoje extinto clama pela vinda tua, com vida nova. O inverno tomou meus olhos, e tão rigoroso congelou a chuva presente em mim. Está frio e sufocante. E o que não desaguou pelos olhos me afoga interminavelmente por dentro. Perguntei-me se seus lábios de verão ou o teu colo-polvo seriam capazes de fazer o gelo liquefazer remetendo-me a um passado distante. Mas como numa morte lenta eu só consegui me perder na sua ausência.

4 de outubro de 2010

Dor materna.

A cama se faz meu porto seguro. Eu me embalo no meu cobertor como se este fosse capaz de me proteger. Proteger-me da dor, da solidão. Ilusão. Entretanto insisto. Passo horas, dias buscando um sonho que nunca vem. Invento o sono e durmo para fugir do que se faz real. O pesadelo só surge quando os olhos buscam luz e pela manhã despertam. Eu continuo envolvida pelo pano-abrigo, que ao passar dos minutos se encontra encharcado, e deixo a tal dor e solidão temida involuntariamente me alcançar. Toma-me cada parte do corpo, sem que eu possa reagir. Eu não posso. Eu não quero. O desejo se esvaiu junto à vida que de mim foi tirada. O querer não percorre mais minhas veias, deu espaço ao sofrer que ácido corrói. As roupas dele, em tons angelicais, se encontram na gaveta ao lado do berço vazio. Então o vazio se torna mais devastador que o ácido que percorre o corpo. O buraco negro no peito que me sugou o coração, agora me suga a alma e a vida vai me abandonando, mais uma vez.


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