A música alta invadia os ouvidos, acelerava o pulsar e transbordava animação-sorriso. O bloco percorria as ruas com alegria esfuziantes em máscaras diversas. Entre a agitação e a música que despertava certos sentidos enquanto o álcool adormecia outros um pierrô esbarrou numa colombina. – Desculpe. – Tudo bem. Ela não reparou nele e o desculpou sem desviar o olhar do trio que dispersava música. Ele se encantou ao ver o sorriso dela. O trio andou e ele fora atrás, mas agora seguia a colombina. Não desviou os olhos dela até o bloco se desfazer na Praça XV, quando notou que ela seguiria outro caminho e buscou coragem para lhe falar. – “Oi.” Sorriu incerto. – “Oi.” Dessa vez ela levou os olhos até a face dele, buscando em memória se o conhecia. – “Eu esbarrei em você mais cedo no bloco...” – “Tudo bem, aconteceu o tempo todo. É carnaval.” Ela sorriu. Ele se sentiu mais um entre tantos pierrôs, mas se encantou mais uma vez por aquele sorriso. – “Você tem um sorriso lindo”. – “Ah, obrigada.” Ela corou e sorriu de novo. – “Vamos comer alguma coisa? Depois de pular tanto você deve estar precisando repor as energias.” – “Não sei.” Ela recuou incerta. – “Vamos, é um pedido de desculpas por ter esbarrado em você.” – “Mas eu já te desculpei.” – “Então qual o problema em aceitar meu convite?” – “Eu não te conheço.” – “ Ótima oportunidade não acha?” – “Tudo bem. É carnaval!” Ela sorriu. Comeram numa lanchonete de calçada e trocaram risos muitos. A cada novo sorriso o pierrô se encantava mais pela colombina. A cada palavra que a fazia sorrir a colombina se encantava mais pelo pierrô. O relógio avisou a pressa do tempo fazendo com que a colombina tivesse que se despedir. – “Me dá seu telefone?” Pediu o pierrô choroso com a separação. Ela anotou num guardanapo e o entregou. –“Tenho que ir.” Disse ela distraída procurando a rua que devia seguir. O pierrô a roubou um beijo. Ela se surpreendeu e o olhou sem saber como se sentir. – “É carnaval”. Ele sorriu. Ela corou. Ao voltar para casa suspirou ao sentir o gosto dele ainda em seus lábios e sorriu. O celular vibrou com uma mensagem. “Não sei seu nome colombina” dizia. “É carnaval!” respondeu. E naquela noite fora dormir pensando no pierrô.
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