Você sabe que eu não sou de fazer rodeios, então direi de uma só vez: Não nos amamos mais. Ainda há carinho e bem-querer, mas isso é coisa de amigo. Tudo bem que em noites frias buscamos o calor do corpo do outro enquanto nossas pernas se confundem e nos perdemos entre os lençóis. Mas não há mais nada além de tesão. O que antes era amor agora é só sexo. O nosso eu te amo ficou mais comum que o bom dia do porteiro do condomínio. As borboletas fugiram pela boca enquanto bocejamos pelo tédio que se tornou o nosso relacionamento. Entendo que tudo um dia vira rotina, mas já não sentimos saudades um do outro e confessemos que há uma pitada de alegria quando o trabalho ou alguma outra coisa nos mantém distante por mais tempo que o normal. Sabe, tudo passa. Os dias passam, os momentos passam, as pessoas passam. E nosso amor passou. Não é que não tenhamos dado certo. Demos e muito, por todos esses anos que eu te quis até mais que a mim. Talvez você duvide que tenha sido amor já que não foi para sempre. Mas não temos mais dez anos para nos magoarmos com um fim diferente dos contos de fadas. Amor é ser o chão do outro, gravar os detalhes, dividir as lágrimas e multiplicar sorrisos. Logo, inegavelmente fomos amor. E eu devo a você minhas lembranças mais doces. Contudo agora vivemos apenas disso, de lembranças. Admitir o fim nunca é fácil, então encaremos dessa forma: nós vamos continuar. Serei sua companheira para qualquer hora da mesma forma que venho sendo, teremos apenas vidas separadas. Você terá um apartamento todo para sua bagunça sem minha voz reclamando da toalha molhada na cama e poderá ter o cachorro que sempre quis, mas não teve devido à minha alergia. Seu nome continuará no meu plano de saúde como quem chamar em caso de emergências, porque ainda confio em você mais do que em qualquer outro. Em meio à correria dos dias nos esbarraremos pela rua e almoçaremos de vez enquando para reclamar da vida. Será diferente, mas garanto que melhor. Mesmo não sendo mais “nós”, continuaremos sendo eu e você.
“Eu não sei se rosas vermelhas ou qualquer metáfora podem resumir o amor, mas quando penso em amor, vejo que ele deve ser transformador. Depois de você, eu mudei, isso é fato e como aconteceu ou quanto durou, não importa.” (Gabito Nunes)