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3 de abril de 2012

Quase sete.

Eu tinha resolvido que só te daria um “oi”, no máximo deixaria escapar um “tudo bem?”, mas com uma expressão de pressa na face, para não revelar que eu realmente gostaria de saber sobre você, fingir que era só por educação. Só que eu não aprendi ainda como controlar a língua, pulei o “oi”, o “tudo bem” e acrescentei a parte sobre tomarmos um café qualquer dia desses, “Qual o seu número mesmo? Toma o meu... Me liga!”. Desesperada. Você deve ter pensado isso, pensei. Mas quando cheguei em casa e ouvi seu recado na secretária eletrônica trocando o café por um jantar na sexta a noite concluí que talvez não tivesse falado com tanto desespero assim, ou que você deveria estar pior do que eu. Não ligo. Acho até que se a gente se aproximar poderemos encontrar alguma calma. Só que agora eu não tenho ideia de onde ela está. São quase sete e sete foi a hora que você disse vir me buscar. E eu ainda não escolhi um vestido, me deu dor de barriga e eu não encontro meus brincos. Tá calor. Eu fico estressada com calor e vi no jornal que hoje é o dia mais quente do ano. E se eu não conseguir controlar o estresse e cuspir umas palavras não muito gentis na sua cara? Eu to nervosa, não quero que você conheça esse meu lado logo de cara, se for assim o outro nem vai ter chance, eu sei. Quero vomitar. Minha unha quebrou e minha lixa foi brincar de se esconder junto com os meus brincos. E se eu te arranhar? Tem homem que gosta segundo a Carla, minha colega de trabalho. Mas eu tenho a impressão que arranha-lo no meio de uma conversa em que minhas mãos ficam inquietas demais para permanecerem no meu colo não era o que ela tinha em mente quando fez tal afirmação. Vou desmarcar. Minha avó tá doente, coitada, ou o voo do meu irmão atrasou e ele precisa que eu fique com meus sobrinhos porque a babá não pode ficar em cima da hora. Tudo bem, eu sei que é deselegante te ligar assim sendo quase quase sete e desmarcar não somente esse encontro, mas todos os outros que poderiam vir a existir. Encontrei um vestido preto no fundo do armário. Justo o suficiente para segurar os seios numa posição atraente, mas não ao ponto de marcar aquele pneuzinho que o chocolate da TPM passada me trouxe. O telefone toca e sua voz do outro lado me desnorteia. Você está chegando e eu ainda não encontrei meus brincos, minha unha pode amputar seu braço, meu estresse pode fazer você se arrepender do recado deixado na minha secretária eletrônica e seu tom de voz sedutor impediu qualquer desistência do encontro. Ai eu fico com medo. Porque quando eu encontrar a sua cara de homem, ouvir de novo sua voz de homem e perceber enquanto você me conta dos seus planos de homem que você é bem melhor que todos aqueles meninos com quem eu já saí eu posso gostar ainda mais de você, mas você descobrir que não pode gostar nem um pouquinho de mim. Achei os brincos no banheiro. Aproveitei para olhar no espelho e mandar a menina apavorada que refletia virar mulher, porque só mulheres merecem homens e eu tinha cansado dos meninos. Cortei as unhas e o risco de torná-lo um deficiente físico. Respirei fundo. Uma, duas, três vezes. Já eram sete e o interfone me contava que você estava lá em baixo. Tranquei os meus medos infantis em casa e desci com meu desejo adulto de te encontrar. Não tinha outro jeito, nenhum salto alto me colocaria à sua altura se eu não tivesse coragem suficiente para ignorar minhas paranoias e sair com você.

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