Nós dois somos o exemplo vivo daquilo que nunca poderia dar certo. Eu sinto que você é a pessoa mais parecida comigo que eu conheço, só que do lado avesso. E acho até poderíamos nos completar, se já não fossemos inteiros. Não nos falta nada. Da mesma forma que você ainda respira e segue sua vida aí eu respiro e sigo a minha aqui. Só que apesar disso, hoje transbordei saudades. Fazia tempo que eu evitava pensar no que se passou. Mas de certa forma o vazio no peito, segundos antes de dormir, me lembrava você. Engoli as gotas salgadas e te liguei. Caio que me disse que voltar era um erro, que o caminho é para frente, reto e sem curvas. Mas o som da sua voz no outro lado da linha tornou inaudível tudo a minha volta. “Alô”. Por quase um segundo senti meu coração parar, e em seguida ele pulsou desnorteante em minha garganta. Forcei a língua dizer. “Oi”. Silêncio. Você reconheceu minha voz. Será que teve o mesmo efeito que a sua? “Como você está? Faz tanto tempo que não nos falamos...”. Quis dizer mais, que esse mesmo tempo se faz pouco quando se trata da estagnação desse sentimento bandido que ainda me faz refém. Mas me calei. “É faz muito tempo. Muito tempo mesmo. Estou bem e você?”. “Bem também.” Acho que estou aprendendo a mentir, as palavras saíram inteiras, sem gagueira ou demora. Mas você me conhece e o choro que invadiu minha voz não ajudou. “Que voz é essa?”. “Nenhuma. Estou gripada.” Disse rápido. Você percebeu a falácia, mas não disse nada. Silêncio. “E sua vida, como vai? Ainda está trabalhando?”. E ainda está me amando? Quase emendei. “Vai bem, mas larguei o emprego. Todo mundo acabou saindo também. E a sua?”. “Nada de novo, tudo igual.”. Tudo igual, até essa vontade irracional de você. “Hum. Entendi.” Ouvi uma voz no fundo. Era de homem. Perguntei-me se seria de um daqueles seus amigos que ignoravam meu nome e me chamavam de sua namorada antes mesmo de você fazer o pedido. Eu os corrigia dizendo o meu nome. E disse não ao seu pedido. Agora eu diria todos os sim que você quisesse. Ainda que amanhecesse achando tudo um erro mais uma vez. Não tem jeito, não fomos feitos para dar certo. Agora só falta esse sentimento insano parar de me fazer insistir em nós. “Você está ocupado?” “Não, to chegando em casa agora.”. “Ah, ta.” Silêncio. A razão aconselhou-me desligar antes que meus lábios reclamassem seus beijos. Meu corpo sente falta do seu. “Bom, era só isso mesmo. Liguei só para saber como você estava. Fazia tanto tempo...”. “Ligou só para isso mesmo?”. Não. Te liguei porque a saudade não me deixa te esquecer. E é um absurdo mesmo, mas eu ainda te amo e queria saber se você também. Porque se for o caso você podia passar aqui mais tarde ou agora mesmo e acalmar meu peito que ficou sem rumo depois que você foi embora. “É, foi só para saber como você estava mesmo.”. Voltar é um erro, o caminho é para frente, reto e sem curvas - lembrei a tempo. “Então tá, estou bem.”. “Que bom. Então se cuida, tá?!”. “Pode deixar. Você também!”. Preferia quando você cuidava de mim. Mas me viro. “Claro. Tchau.”. “Tchau.”. Fui dormir. Com o travesseiro encharcado e com a certeza de uma ressaca daquelas que só você consegue me causar.
Perfeito.
ResponderExcluirJá passei por algo parecido, me lembrou certos momentos...
E como disse, "Voltar é um erro, o caminho é para frente, reto e sem curvas". Aprendi. ;)