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1 de outubro de 2011

Sábado à noite.



Onze horas. Você abre a porta como de costume e teu olhar de desejo me invade. Não demora muito até que minhas roupas se espalhem pelo chão do seu apartamento e seus lábios desvendem o meu corpo enquanto os meus te sussurram coisas impróprias ao ouvido. O cansaço mental de um longo dia de trabalho é excedido pelo físico. Nossos corpos relaxam à medida que o encaixe é desfeito e eu suspiro mais uma vez observando o branco do teto do seu quarto. Antes que o sol venha nos comunicar o fim de mais um sábado eu recolho minhas roupas e nos despedimos sem beijos, mantendo distante qualquer romantismo. Minha rotina de fuga da rotina.

Mas uma noite, involuntariamente, foi diferente. Toquei a campainha treze minutos mais tarde. O elevador do seu condomínio estava em manutenção e eu quebrei meu salto ao subir as escadas. E se a diferença se restringisse a tais fatos respiraria aliviada sem que a inquietação me roubasse o fôlego. Você abriu a porta como de costume, mas me recebeu com olhos de saudade. Assustei-me. Procurei desejo no fundo de tuas pupilas e sem encontrar tratei de provocá-lo. Encharcamos os lençóis da sua cama com suor e tesão. Suspirei, dessa vez aliviada, e ao observar seu teto notei o tom amarelado que roubara a brancura. Meus músculos enrijeceram percebendo o passar do tempo e os seus olhos fixos em mim. Vir-me-ei para você e nossos olhares se encontraram. O afeto trasbordava o castanho dos seus olhos gritando-me que você havia quebrado o nosso pacto. Devíamos ser fuga carnal com abandono total de sentimentos doces e não essa contradição estampada em seu rosto. Não havia tempo em nossas agendas nem mesmo para a medida correta de horas de sono, tampouco para complicações emocionais.

Fechei meus olhos para fugir dos seus e busquei meu vestido sem demora. “Eu te amo”. “Você viu onde eu coloquei meu vestido?”. “Você me ouviu? Eu te amo”. Eu havia escutado, ainda que me fizesse de desejos de ter perdido a audição naquele momento. Que maluquice era essa sobre amor? Fiquei muda. Ele também. “Já está tarde, é recomendável que eu vá embora”. “Eu te amo.” Ele repetiu. “E a promessa de sermos simples?” “É bem simples, eu te amo!” “Pare de dizer isso!” Descontrolei-me. Mais silêncio. Custou algum tempo e cicatrizes no peito para eu conseguir separar sexo de amor e agora que enfim eu havia conseguido ele queria juntar as duas coisas de novo? “É perigoso confundir as coisas.”. “Não estou vendo confusão nenhuma.”. “É só sexo.”. “Não mais.”. Mais silêncio. “E o nosso acordo?” Perguntei enquanto buscava na memória quando foi que este havia chegado ao fim. Ele não se demorou em me contar. “Acabou assim que o seu perfume fixou-se em minha memória e meus lábios pronunciaram seu nome num bar qualquer após alguns copos de wisky ou vodka. Não me recordo muito bem da bebida, mas não consigo me esquecer da forma tão mulher que você mordisca o lábio inferior ao sentir desejo e de como fica tão menina ao sorrir.”

Achei meu vestido. “Aonde você vai?”. Não respondi. Continuei indo em direção à porta. “Fica?”. Ele banhou a voz em carinho-tristeza. Eu parei. Questionei-me o porquê de ainda estar ali. Minha hesitação me contou que os laços prometidos haviam sido desfeitos não somente por ele, mas também por mim. Fui embora. Não podia ficar. Mas descobri naquela noite a ainda existência de um músculo que eu pensei não ter mais.

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