Despiu-se de todos os medos em um ato súbito de coragem e ignorando qualquer fator externo ao presente seguiu até o início da ponte e o estendeu a mão. Nunca fora corajosa ou de bravura invejável, pelo contrário. Ela era dona de predicados banhados de timidez e rosa, que quase sempre a enfeitava as bochechas junto a um sorriso no canto dos lábios. Mas havia algo diferente naqueles olhos castanhos profundos, algo convidativo, encorajador. De tanto olhar se perdeu nas profundezas enigmáticas e envolventes, se esqueceu do mundo, dos ‘poréns’ e ‘todavias’. Seguiu com ausência de cautela nos passos, sorriu com confiança e o convidou para fazer a travessia, juntos. A ponte era longa, com pedras e buracos no caminho, seria difícil chegar ao outro lado ileso ou ainda sem ao logo do caminho considerar desistência. Mas ela oferecia apoio em caso de tropeços, cuidados em caso de quedas e amor, de imensidão sem fim, a cada passo, querendo em troca apenas o mesmo. Ainda que o amanhã fosse feito de incertezas, enquanto os dedos estivessem entrelaçados ela sabia (sentia) que doce seria o caminhar.
Todos os textos deste blog são de minha autoria,
quaisquer textos, frases, ou expressões de qualquer
outra pessoa, virão em itálico ou com créditos.
30 de janeiro de 2011
25 de janeiro de 2011
Entre sonho e realidade.
O calor do seu toque despertou um arrepio que percorreu-me a espinha e levou aos meus lábios um suspiro. O sono me abadonou. Permaneci com os olhos fechados buscando maior intensidade ao sentir seus beijos em minhas costas como leves carícias, sedutoras. O vento frio que envolvia minha pele trazia a necessidade de encontrar o calor da sua. Senti seus braços me puxarem para mais perto e em um impulso meu corpo se moldou ao seu, completando cada contorno. Com voracidade única meus lábios exploraram sua pele, buscando sua boca. As pontas dos dedos levaram carícias as suas costas seguidas pela intensidade que minhas unhas deixaram marcadas. Em sintonia sigular a química antes nunca sentida envolveu cada movimento, cada toque. Nos olhos se encontrou desejo explícito, registrado na forma intensa que eles fitavam os detalhes um do outro. O frio que há pouco se fez notar, agora se via ausente diante do calor irradiado pelos nossos corpos que se entrelaçavam, se completavam. Tendo a união como conseqüência inevitável minha boca, ainda que relutante, contrariou a atração que mantia o beijo e os dedos aos poucos foram se acalmando. Meu coração ainda acelerado se distanciou do seu pulsar tentando conter as batidas desconcertadas. O ar ocupou o que antes eram contornos completos e o calor foi se ausentando. A respiração voltava ao estado regular ainda que se fizesse oposto ao desejo que ainda se mantia escrito nos nossos olhares. Temendo o quase inevitável o sono foi ganhando espaço mais uma vez e tudo passou a se perder entre sonho e realidade.
Fragmentos seus em mim.
Decidi não escrever sobre você, ou sobre essa novidade contraditória que me ganhou quando olhei em seus olhos naquela noite quase nossa. Ainda que eu sinta tudo isso transbordar em pensamentos que perderam o fim, prefiro guardar cá dentro as linhas sobre seu sorriso, seu olhar, seu perfume, seu gosto. Ainda que o desejo caracterize-se como imenso quando trata-se de traduzir-te em palavras para te ter sempre à vista, tão meu, escolho guardar cada adjetivo, mesmo sendo muitos, em silêncio que agora ganha significado maior que as palavras que à ti nunca seriam justas, fieis. Então deixo que as palavras registrem apenas fragmentos do que você causou em mim, como o girar desconcertante da minha cabeça em movimentos nunca antes experimentados, quando o seu gosto dominou meus lábios e agitou o meu estômago. Da eletricidade única que passou lentamente do seu corpo para o meu em arrepios singulares. Da sintonia que envolveu cada toque, cada movimento. Da química que te traz em memória com gosto de quero mais. De como eu me perdi em você e esqueci do mundo, esqueci de mim…
Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, eram dois travesseiros.Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno.Não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor... (CFA)
13 de janeiro de 2011
De espetacular, nada tem o fim.
“Chegue bem perto de mim. Me olhe , me toque, me diga qualquer coisa, ou não diga nada, mas chegue mais perto.
Não seja idiota, não deixe isso se perder, virar poeira, virar nada.”
E tudo ganha característica volátil e vai evaporando pelo ar. Escapando por entre os dedos em minhas tentativas unilaterais de segurar, prender, evitar a perda do que por tanto tempo, ainda que adormecido, se fez meu, seu, nosso. Nosso. Soa-me estranho tratar esse sentimento em primeira pessoa do plural, já que esta há tanto se encontra ausente. Como em um abandono, você deixou um espaço vazio ao lado do eu e tudo permaneceu em branco, em lacunas. E essa luta por manter intacto no peito o que tantas vezes aos olhos trouxe brilho, se torna perdida antes mesmo do fim, no momento que o ar ocupou o lugar ao meu lado. O amor não se conjuga no singular. ‘Eu amo’ não se mantém por muito tempo quando feito sozinho. Assim o pulsar vai desacelerando, perdendo forças. A agitação borbolítica vai se desfazendo junto ao flutuar nas nuvens, que ao perder a leveza de um sorriso ganhou o peso da realidade. E sem você ao menos notar, aquele encanto tantas vezes comparado a magia vai perdendo o aspecto mágico, como um truque revelado. Sem cartas na manga, surpresas em cartolas e sem aplausos eu vou abandonando o espetáculo. Este que fora nosso, e agora em apresentação solo se encontra tão meu. Somente m-e-u. O show vai chegando ao fim.
9 de janeiro de 2011
27ª.
When you're gone
The pieces of my heart are missing you
When you're gone
The face I came to know is missing too
When you're gone
The words I need to hear will always get me through the day
And make it ok
I miss you’’
27ª vez. Olhei para o visor do celular e o papel de parede me sorriu irônico mostrando-me nenhuma chamada (sua) perdida, pela vigésima sétima vez no dia. Nenhuma chamada, nenhuma mensagem. Nada. Suspirei. Joguei o corpo na cama e respirei fundo ao tentar conter os sentimentos inquietos. Fui embalada pelo triste vento frio que anunciava a fim do dia. Completava mais uma noite sem noticias suas, sem você irradiando calor contraditório a dona do céu negro. Levantei-me ainda envolvida pela ausência de sorrisos e busquei a lua na varanda. Nem as estrelas encontrei. Há pouco parecia tão improvável maior tristeza e agora esta me tomava os sentidos. Não encontrava nenhum pequeno elo que me ligasse a você, como o observar das estrelas que tantas vezes fizemos juntos e que agora minha imaginação se encontrava incapaz de fazer-me acreditar que onde estivesse estaria olhando-as e pensando em mim. Realidade, lembrei-me. Vigésima oitava vez. Busquei sinais teus no visor e senti as esperanças escaparem-me pelos dedos ao ver o mesmo sorriso irônico no papel de parede. Em um impulso digitei seu número e antes que a ligação se completasse vi a razão apagá-lo. Meu peito tem tido a necessidade de ao menos uma vez sentir as suas saudades ao invés das minhas.
7 de janeiro de 2011
Novos contornos.
Enquanto o sol penetrava a pequena fresta deixada pela cortina e ia iluminando lentamente a sua pele nua que repousava sobre os lençóis da cama, meus pensamentos se perdiam entre as tantas formas que eu poderia te amar, assim, ao mesmo tempo. Já não era novidade o impacto que cada toque seu causava em mim, tampouco a dor que a abstinência do mesmo trazia, entretanto se tornava mais claro a cada sorriso que nascia em meus lábios ao te olhar, que o sentimento havia ultrapassado as linhas do desejo, da pele. A aventura que fora nosso relacionamento no inicio me envolvera de tal forma que agora, com o sol já no céu, com o relógio badalando o dia, o sentimento adquiria contornos contraditórios à simples paixão. Não houve abandono carnal, este ainda acendia desejos, entretanto cedia o lugar principal ao som do seu riso, à sua respiração leve, agora, perdido em sonhos e às batidas do seu peito. E quando paro para pensar sobre essa novidade que vem ganhando mais espaço em mim, vejo que já me acostumei com sua presença ao lado esquerdo da cama, crescendo gradualmente em lado similar no peito. Que o corpo abandona a tensão em um suspiro ao sentir sua presença, como se fosse sinônimo de estar tudo bem ter você por perto. E admito gostar disso, de me apaixonar pelos seus detalhes e admirar os seus atos. De aos poucos me torna tua. Tão tua.
Ponto branco.
Olhava fixamente através da janela de vidro aquele ponto branco, ainda pouco maior que ela, ir diminuindo conforme se perdia por entre as nuvens. Transbordou-lhe do azul-céu após um piscar de pálpebras cansadas, uma gota transparente que levou-lhe aos lábios o sal. Engoliu um grito que ecoou seco no peito e perdendo de vista o objeto de observação, fechou os olhos deixando transbordar mais gotas do líquido salgado. Após quase um minuto, deixou o azul-céu enfeitar-lhe a face, ainda que apagados, e secou sem demoras a face encharcada de dor. Olhou mais uma vez o bilhete em sua mão, analisou aquelas três únicas palavras, guardou-as cuidadosamente no peito e, com quase igual cuidado, guardou o bilhete no bolso. Virou as costas para a janela e caminhou para fora do aeroporto encolhendo-se dentro do casaco. Embora a temperatura externa fosse agradável, sentia o inverno se acomodar por dentro. Sabia que teria que esperar o ponto branco se tornar maior que ela outra vez para trazer de volta o verão de abraços que acabara de levar embora.
6 de janeiro de 2011
Do que os humanos são capazes.
Está aí uma coisa que nunca saberei nem compreenderei — do que os humanos são capazes.
(A Menina que roubava livros)
Sem tremer as palavras, com suavidade e convicção, sem desviar o olhar e com os dentes enfeitando os lábios, são capazes de dizer, sem ao menos hesitar, mentiras que variam entre conseqüências de algumas lágrimas e abandono da vida. São capazes de deitar a cabeça no travesseiro e ser invadido por sono tranqüilo ainda que anteriormente tenham sujado a água do banho com sangue que impregnava o corpo que não pertencia, que de forma violenta tenha abandonado seu local de origem. São capazes de permitir que o ódio tome conta do corpo, das palavras, das ações. São capazes de ignorar os sentimentos alheios ao atingir com facilidade sem igual o egoísmo, o egocentrismo. São capazes de assistir o mal de camarote e preferir adaptar-se, acostumar-se ao fazer algo para mudar. São capazes de chorar compulsivamente enquanto um sorriso malicioso se esconde atrás do sal que percorre a face. E quando o medo veste-me o corpo ao sentir o quão ruins são capazes de ser, veste-me à alma a fé ao sentir a capacidade do bem. Ao ver que são capazes de se permitir sentir a contrariedade de amar incondicionalmente ainda que esta fira, magoe, e abrir mão da vida que lhe abita o corpo pela mesma contradição, sem pensar duas vezes. São capazes de abandonar a sua própria dor e ir cuidar da dor do outro em nome da amizade. São capazes de acreditar depois de ter o peito estilhaçado por falsas-verdades. São capazes de sonhar mesmo que ao amanhecer tenham que sentir a dor da realidade. São capazes de sentir as mudanças do corpo, as dores e ainda assim amar aquele ser que ao longo dos meses vai crescendo dentro dele, sem conhecê-lo. São capazes de perdoar mesmo que a ferida ainda doa. São capazes de ter esperança em meio às incertezas do amanhã. São capazes de buscar o bem enquanto tantos se acomodam e promovem o mal. São capazes de encontrar felicidade em detalhes, em sorrisos. São capazes de sorrir e rir enquanto a alma falece a cada lágrima guardada...
5 de janeiro de 2011
Falso-real.
“É triste quando pessoas que você conhece
se tornam pessoas que você conhecia”
Cacos de ilusão espalham-se pelo chão e uma foto no porta-retrato guarda uma imagem que não reconheço mais. Sorriso inventivo registrado num papel emoldurado, questiono enquanto me perco entre o que seria falso e real. As palavras que atravessaram seus lábios roubam-me a mente em medo. A facilidade de vestir mentiras em atos e palavras assusta. Torna difícil, quase, se não totalmente, impossível a inocência, a fé. E sendo assim, sem muito que fazer, sem haver no que acreditar, as mãos se abrem e permitem que tudo o vento venha levar. Linha tênue tantas vezes é do que se faz o falso-real, arrebenta-se com os leves assopros do tempo. E aquele que existia, ainda que em ilusão, ia se desmanchando pelo ar.
4 de janeiro de 2011
Que seja doce.
“Então, que seja doce. (...) repito sete vezes para dar sorte:
que seja doce que seja doce que seja doce...”
Que nesse ano o sorriso nasça na alma, reflita nos olhos e por fim enfeite os lábios. Que a sinceridade se encontre em cada palavra e em cada ação. Que o medo de ser feliz seja substituído por excesso de garra e determinação. Que o amor deixe de ocupar apenas o peito e faça morada nos atos, nos gestos. Que tristeza seja conhecida apenas através do dicionário. Que confiar seja possível, seja comum. Que o hoje seja enfim reconhecido como presente e não mais deixado para depois. Que as borboletas em seu estômago façam festa diariamente. Que sonhar alto tenha como conseqüência a realização do vôo e não do tombo. Que dor seja exclusiva à barriga, de tanto rir. Que água salgada se encontre apenas no mar e não nos olhos. Que ocorra o novo, o inovar, o inventar e o reinventar. Que haja vida e que esta seja doce.
“O Ano Novo, sempre vem. O FELIZ acontece por conta sua!”
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