“Chegue bem perto de mim. Me olhe , me toque, me diga qualquer coisa, ou não diga nada, mas chegue mais perto.
Não seja idiota, não deixe isso se perder, virar poeira, virar nada.”
E tudo ganha característica volátil e vai evaporando pelo ar. Escapando por entre os dedos em minhas tentativas unilaterais de segurar, prender, evitar a perda do que por tanto tempo, ainda que adormecido, se fez meu, seu, nosso. Nosso. Soa-me estranho tratar esse sentimento em primeira pessoa do plural, já que esta há tanto se encontra ausente. Como em um abandono, você deixou um espaço vazio ao lado do eu e tudo permaneceu em branco, em lacunas. E essa luta por manter intacto no peito o que tantas vezes aos olhos trouxe brilho, se torna perdida antes mesmo do fim, no momento que o ar ocupou o lugar ao meu lado. O amor não se conjuga no singular. ‘Eu amo’ não se mantém por muito tempo quando feito sozinho. Assim o pulsar vai desacelerando, perdendo forças. A agitação borbolítica vai se desfazendo junto ao flutuar nas nuvens, que ao perder a leveza de um sorriso ganhou o peso da realidade. E sem você ao menos notar, aquele encanto tantas vezes comparado a magia vai perdendo o aspecto mágico, como um truque revelado. Sem cartas na manga, surpresas em cartolas e sem aplausos eu vou abandonando o espetáculo. Este que fora nosso, e agora em apresentação solo se encontra tão meu. Somente m-e-u. O show vai chegando ao fim.
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