Está aí uma coisa que nunca saberei nem compreenderei — do que os humanos são capazes.
(A Menina que roubava livros)
Sem tremer as palavras, com suavidade e convicção, sem desviar o olhar e com os dentes enfeitando os lábios, são capazes de dizer, sem ao menos hesitar, mentiras que variam entre conseqüências de algumas lágrimas e abandono da vida. São capazes de deitar a cabeça no travesseiro e ser invadido por sono tranqüilo ainda que anteriormente tenham sujado a água do banho com sangue que impregnava o corpo que não pertencia, que de forma violenta tenha abandonado seu local de origem. São capazes de permitir que o ódio tome conta do corpo, das palavras, das ações. São capazes de ignorar os sentimentos alheios ao atingir com facilidade sem igual o egoísmo, o egocentrismo. São capazes de assistir o mal de camarote e preferir adaptar-se, acostumar-se ao fazer algo para mudar. São capazes de chorar compulsivamente enquanto um sorriso malicioso se esconde atrás do sal que percorre a face. E quando o medo veste-me o corpo ao sentir o quão ruins são capazes de ser, veste-me à alma a fé ao sentir a capacidade do bem. Ao ver que são capazes de se permitir sentir a contrariedade de amar incondicionalmente ainda que esta fira, magoe, e abrir mão da vida que lhe abita o corpo pela mesma contradição, sem pensar duas vezes. São capazes de abandonar a sua própria dor e ir cuidar da dor do outro em nome da amizade. São capazes de acreditar depois de ter o peito estilhaçado por falsas-verdades. São capazes de sonhar mesmo que ao amanhecer tenham que sentir a dor da realidade. São capazes de sentir as mudanças do corpo, as dores e ainda assim amar aquele ser que ao longo dos meses vai crescendo dentro dele, sem conhecê-lo. São capazes de perdoar mesmo que a ferida ainda doa. São capazes de ter esperança em meio às incertezas do amanhã. São capazes de buscar o bem enquanto tantos se acomodam e promovem o mal. São capazes de encontrar felicidade em detalhes, em sorrisos. São capazes de sorrir e rir enquanto a alma falece a cada lágrima guardada...
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