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15 de novembro de 2010

Era você.


No início eu não entendia muito bem. O frio, o cinza, a ausência de sorrisos, o desinteresse nas pessoas. Tudo havia mudado de forma singular e eu não encontrava, ou não queria encontrar, o porquê. Vaguei pelas ruas em passos automáticos, percorri os olhos com desespero em tudo e qualquer coisa que pudesse prender minha atenção e por fim me sentei na calçada enquanto um grupo de crianças brincava em ria no fim da rua. Estranhei o movimento dos lábios em contrações-sorrisos e tentei imitar, mas não encontrei brilho e purpurina não caía bem. Desisti. Voltei para casa ainda sem entender. Deitei no sofá da sala e permaneci ali até o cair da noite, passando pelos mesmos canais da TV em segundos, sem parar, como se o botão do controle-remoto pudesse me dar o que eu procurei o dia inteiro, mesmo sem saber o que era. Com o relógio já avisando que a hora de dormir havia se passado há muito, resolvi buscar o sono que não me encontrava. Deitei na cama. Virei para um lado e depois para o outro. Deitei de ponta cabeça, de bruços. Abracei um travesseiro, dois. E então, no meio da madrugada, eu entendi. Desagüei. O que eu tanto procurei o dia inteiro, e que nenhum travesseiro conseguia substituir, era você.

Virava pra lá, e pra cá na cama, estava impaciente, até me senti no escuro,
pensei: Não era uma posição o que eu procurava. Era você.
(Caio Fernando Abreu)

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