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26 de novembro de 2010

Platônico.

Ás vezes eu apenas queria poder tirar você de mim. Todo esse amor que de forma inexplicável me ocupa o corpo, a alma, os desejos. Que me invade o peito e percorre sem passaporte minhas veias. Que me rouba o fôlego, traz suspiros, me faz respirar pela metade. E que não me conta sua origem ou seu destino, apenas vai submergindo-me e virando de ponta cabeça o controle que sempre lutei para ter nas mãos. Desespera-me por fazer-me caminhar em estradas escuras onde a intuição, sempre tão falha, se torna a única capaz de me guiar. Rouba-me qualquer rastro de paz ao me tornar tão dependente de ter seus sorrisos, já que em qualquer contrariedade a essa luz única, resumo-me em maneiras diversas para aceder sua face e conseqüentemente meus dias. E cessa meu respirar enquanto faz-me contar os segundos a cada ausência sua, que tantas vezes se resume em saudade incolor, enlouquecedora, onde tento através de distrações, vãs, desligar-me de você. Que agonia incessante esse amar-te. Uma urgência em ter-te que não cabe, que não se ausenta. Um amor que mesmo ocupando já todos os possíveis locais, aumenta, transborda. Faço-me, então, em desejos de arrancá-lo de mim. Mas só às vezes, até ver você sorrir.

Eu já deveria ter me curado da minha ridícula obsessão pelo amor.
(Chico Buarque – 1977)

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