A música trazida pelos fones de ouvido, em um tom ensurdecedor, aos poucos ia anulando os meus sentidos, adormecendo toda a dor. Embora eu soubesse que junto ao fim da música o buraco negro que roubara meu coração voltaria a me sugar, continuava tolamente tentando entorpecer-me. O tempo nublado trazia forte brisa ao meu rosto e agitava o mar enquanto eu me perguntava em quantos estilhaços meu coração havia sido quebrado para que parasse de bater, e por que com o fim do pulsar a dor não havia cessado também. Mas além da música que se tornara barulho, só havia silêncio, não havia resposta. Cessei a música e permitir que o inevitável percorresse o meu corpo. Procurei na imensidão azul qualquer conforto, mas as batidas das ondas apenas me remetiam às lágrimas que guardadas me afogavam, me inundavam. E numa irônica surpresa avistei uma mulher se perdendo entre as águas e voltando a superfície em breves segundos. Fui ao seu encontro e trouxe-a para a areia. Tudo parou. Enquanto ela abria os olhos e recuperava os sentidos, sussurrou: “você me salvou”. E a sua voz doce foi o suficiente para ausentar à dor que há tanto era apenas anulada temporariamente. Os meus olhos fitaram os dela e eu permaneci estático, sem saber o que sentir, até que seus braços me envolveram e o calor devolveu pulsar ao coração adormecido. Permanecemos abraçados, com as nossas almas entrelaçadas no olhar. Ela repetiu em um sussurro: “você me salvou”, enquanto eu pensava que ela não fazia idéia de que fora ela quem havia me salvado.
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