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26 de dezembro de 2010

E depois?.


Encarava as nuvens que lentamente iam mudando de forma enquanto delicadamente passava o dedo pela cicatriz no lado esquerdo do peito. Imaginava se ele seria tão inconstante como esses algodões-doces que enfeitavam o céu, capaz de mudar de forma com leves assopros do vento. E se fosse, se ela também seria capaz de ser, reconstruir-se após uma tempestade, como se não tivesse sido destruída. Trazia mais uma vez à mente as três palavras que ele guardou no fundo dos olhos dela, as oito letras banhadas em voz-veludo e timbre-canção e se perguntava se estas seriam mutáveis, inexistentes além de lembranças no amanhã. Se aquele sorriso doce que ele embrulhou com luz e deu de presente a ela poderia amargar em contato com fatores externos. E até mesmo se a corrente elétrica que percorrera o corpo dos dois naquele beijo que fugiu ao conceito do tempo, poderia se dissipar com o passar dos segundos inquietos. Embora a alma se agarrasse a cada resquício de amor, se via difícil a total entrega. A cicatriz lembrava a fácil confusão entre ilusão e realidade. E a dúvida sobre vida após outra queda se mantinha inalterável ainda que sobrevivência fosse garantida. Sobreviver é fácil. Manter o oxigênio entrando e saindo do pulmão. O difícil é sustentar vida. Pulsar do peito depois de uma parada cardíaca.

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