Todos os textos deste blog são de minha autoria, quaisquer textos, frases, ou expressões de qualquer outra pessoa, virão em itálico ou com créditos.

27 de fevereiro de 2011

Te quero por perto, mais perto.

“... acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus.”
(Chico Buarque)

Meus pensamentos têm trazido você com mais freqüência e em similar assiduidade tenho buscado distrações que te afastem ou adormeça essa saudade que embora recente já ocupe grande espaço. Como se fosse errado permitir que você faça morada em mim, por agora. Como se fosse cedo demais para sentir falta do seu olhar repousando no meu. Mas a razão acostumada a limitar o sentir vem tendo dificuldades quando se trata desse querer, no qual você ocupa linhas e entrelinhas. Então eu tenho buscado formas de me desligar do relógio para não contar o tanto de tempo que ainda falta para te encontrar fora dos pensamentos. Mas estas são inválidas assim como o tentar afastar as lembranças ternas que intensificam a diferença dos dias ausentes de você. E assim eu descobri o quão longe chegou esse gostar. Gostar do sabor dos momentos que te tenho perto, dos sorrisos que você me proporciona, do seu gosto, de morar no seu abraço, de você. E eu tenho tanto para te dizer e um tempo tão recente para que as palavras se pronunciem que fico muda, sussurrando vez enquanto o bem grande que você já me faz. Mas isso é pouco, pouquinho, perto de tudo que fica silenciado e só com o tempo ganhará voz. Por agora deixo fazer som esse meu desejo de te ter por mais dias e mais noites, te ter sempre por perto, mais perto. (...)

23 de fevereiro de 2011

Para trazer veracidade, fez eco.


As palavras saíam com pouca, se não nenhuma, convicção por entre os lábios há pouco mel e agora um misto de amargura e sal. Ela tentou fazer-se de forte e desviar os olhos para junto desviar a dor, mas foram vãs suas tentativas. Repetiu que não queria mais. Uma. Duas. Três vezes. Para que ele acreditasse. Para que ela acreditasse. Uma mentira dita muitas vezes se torna verdade, ela tinha ouvido certa vez. A alma não comportou as lágrimas, tampouco os olhos. Ele se preocupou e fez aquela cara triste, como se a tristeza dela se estendesse a ele. Ela odiou aquela cara. Quis arrancá-la a bofetadas para se esvair desse sentir que ele se importa. Nunca se importou, por que agora estava sendo diferente? Mentiroso, gritou em mente. Então ele veio com discurso das lembranças. Ela odiava lembranças. A memória nefária o deixara gravado feito tatuagem, com perfeição de detalhes e momentos. Impossível esquecer, ele alegou. O tempo o fará, ela devolveu, ainda que não acreditasse cultivava uma esperança desesperada para que fosse verdade. E você quer? Com os olhos carentes ele questionou. Eu vou, ouviu-se feito eco. Mais de três vezes. Para não ter erro e se tornar verdade.

22 de fevereiro de 2011

Gostar.


Não é um segredo, mas não carece ser dito em voz alta. Tem haver com a alma, de entrelaçar a sintonia com o que nasce cá dentro, sorrateiro. É íntimo, fica preservado em silêncio. E sendo assim nunca entendi a necessidade que alguns têm de gritar ao vento o que sussurra no peito. Sempre senti que esse compartilhar precisa ter coração e não o damos a qualquer um, ou ao menos não devíamos. A verdade é que é difícil demais abandonar a solidão em que nos moldamos, aceitar a afeição ir se aprofundando, nos aprofundando, e em seguida confessar que tornou-se um gostar. É algo tão belo, mas tão díspar do que encontramos fora de nós que se recolhe no olhar, no gesto e somente ganha palavras quando o outro se encontra próximo o suficiente para ouvir o sussurro.

21 de fevereiro de 2011

Era tão pouco que o vazio transbordou.


Eu não sumi. Continuo no mesmo endereço, mas parece que você esqueceu o caminho até aqui. E o número do meu telefone. Vez enquanto ele até se pronuncia, mas é tão vez enquanto que eu não fico mais do lado. Então eu resolvi esquecer um pouco também. Mas eu nunca soube ser metade, então esqueci completamente. Você me conhece, eu sempre quero inteiro e quando o tenho quero ainda mais. Mas você me deu tão pouco que virou nada diante dessa minha voracidade. E ficamos assim: você tendo meu tudo e eu o seu nada. Por certo tempo eu até fingi que meu tudo bastaria para nós, mas não bastou nem ao para você. Então peguei de volta. E não me culpe por ter buscado mais em outros lugares. Sua ausência só trazia vazios e deste eu já estava farta. Veja bem, é quase impossível me encontrar completa ao ponto de não desejar mais e você, sem pretensão, conseguiu esvair meus desejos, me transbordar. Virei o peito de ponta cabeça e deixei escorrer essas lacunas de você que ocupavam tanto espaço. Agora, com o esquerdo desocupado, procuro alguém que ocupe a linha telefônica e traga o tu(m)-tu(m)-tu(m) há tanto ausente.

18 de fevereiro de 2011

Certas coisas certas.

No começo você não faz idéia das proporções que as coisas podem ganhar e se iludi ao acreditar que serão como tantas outras, perdida na memória. Entretanto os detalhes que, equivocadamente, você diz terem passado despercebidos lhe roubam os pensamentos em vezes crescentes quando você repara que o céu esta mais azul ou o travesseiro não te traz o sono costumeiro. Você ignora como se fossem comuns os flashes daquele olhar ou daquele sorriso encantador e tenta desligar os pensamentos com mentiras vãs. Então a noite passa, você acorda, toma um banho gelado, segue a rotina diária e percebe que os resquícios dos últimos dias ficaram em você, os mesmos que irão invadir seus pensamentos o resto da semana. Aconteceu, você se dá conta. Entretanto mantém aquela máscara de está-tudo-igual por fora. Demorou tão pouco tempo que não deve ser verdade, você mente para o espelho. Mas o desejo dentro aumenta, ganha forma, seus dedos procuram um nome no celular e quase pressionam o botão verde convidativo. E o pensamento insiste em lembranças, não vai embora. Você acha estranho essas coisas começarem pequenas, com uma troca de olhares, e de repente ficarem gravadas em sua retina, vistas em cada lugar para o qual você olha. Questiona, tenta entender o que realmente aconteceu e encontra mil perguntas e nenhuma resposta. Mas você não entende, ainda, que certas coisas são assim: tão certas que as explicações se esvaem.

17 de fevereiro de 2011

Novo ritmo.

Abafava o som estridente de um grito com um sorriso. Já se encontrava mais convincente, ainda que o grito não tivesse perdido o volume ou o peito descompassado perdido a dor. Era ela que ao passar do tempo fora adquirindo experiência em maquiar sorrisos e imitar sons de risos. Entretanto encontrou entre as pistas da vida um dançarino que possuía timbre-amor, na sua mais pura forma. Ouviu incrédula os doces sons familiares e conforme os acordes iam sendo reconhecidos permitia aos ouvidos maior atenção, para ter certeza. Não havia mais dúvida. O esquerdo ruiu mais alto que a felicidade de fora ao lembrar-se da acústica-amar, que ecoou por dentro. Não guardou as lágrimas, dentro a ausência de espaço a obrigou transbordar. Permitiu que o nó que segurava a falsa alegria se desfizesse em meio ao sal que marcava seu rosto. Ele assistindo as lágrimas dançarem em ritmo progressivo aproximou-se com o olhar preocupado, como se visse além da dança, ouvisse a música melodramática de um Tum-tum-tum quebrado, desafinado, dentro dela. Estendeu-lhe a mão em leves caricias pela face e entrou na dança ao encaixar os passos num abraço. Sussurrou algumas palavras em seu ouvido que soaram como canção. A música vinda de dentro começou a ganhar compassos novos, se moldava aos poucos à que fazia morada nele. O sorriso fugido voltou tímido aos lábios dela conforme a melodia fora a envolvendo. As palavras muitas que surgiram se encontravam incapazes de atravessar os lábios, se fizeram mudas. A harmonia da dança dispensou qualquer som além daquele que em novo ritmo guiava os passos dela. Agora em dupla, representava a arte de sorrir em sentir a felicidade morar dentro.

14 de fevereiro de 2011

Doce brilho.


Entre as mil coisas que me roubam a mente em uma simples menção ao seu nome, escolheria o sorriso que me rouba os lábios para te caracterizar. Ainda que os adjetivos se tornem muitos quando se trata dos seus contornos, dos seus gestos e jeito, o sorriso que cativas em mim seria mais fiel ao que quero traduzir agora. Pois é devido a ele que você vem ganhando um espaço crescente na minha vida, já que não encontramos em qualquer rua um alguém que nos traga uma alegria assim, que enfeita o rosto ao encostar a cabeça na janela do ônibus num fim de dia ao voltar para casa. E hoje olhando as lembranças recentes de um dia bonito ao seu lado senti um brilho doce morar no meu olhar, confessando que adorou cada pedacinho dos momentos que foram nossos e deixando em entrelinhas o desejo de que dias assim se repitam. Mesmo que esse olhar não traga brilho de apaixonada. Não ainda. Não porque eu não permitir. Pois se eu não tivesse tapado os ouvidos para o pulsar desigual do peito e deixado a razão cantar-me sua perspectiva, há muito teria me entregado para esse seu sorriso convidativo e olhos-menino. É que eu encontro em você detalhes apaixonantes, dos quais me esquivo enquanto nasce nos meus olhos aquele brilho de quem se encantou. (...)

12 de fevereiro de 2011

“Eu gosto de você”.

A verdade se fazia absoluta, não havia espaço para dúvidas. Eu a amava irrevogavelmente. Como nunca antes, como nunca depois. Entretanto quando o sentimento tentou escapar pelos lábios a língua tropeçou nas palavras e saiu um “eu gosto de você”. Como assim “eu gosto de você”, questionei em mente. Gostar não traduzia um terço daquilo que um dia habitou meu peito e hoje fazia morada no corpo inteiro. Não expressava esse meu desejo de acordar olhando aqueles olhos castanhos amenos, sentindo a voracidade daqueles lábios doce-mel e ouvindo aquela respiração de quem recupera o fôlego, hoje, amanhã e todos os dias que estariam por vir. E ela estava parada ali na minha frente, a poucos segundos de ir embora, e tudo que eu consegui dizer foi “eu gosto de você”. Ela deveria ter ido naquele instante, sem hesitar um segundo, sem nem ao menos olhar para trás. Eu gosto não valia nem um sorriso dela, aquele de canto de lábios, tímido, que a enfeita a face sempre que recebe um elogio. Nossa aquele sorriso definitivamente merecia muito mais. Imagina o pacote completo. Meu deus, por que diabos eu disse: “eu gosto de você”? Ela olhou-me fixamente nos olhos com aquele olhar carente e eu quis tomá-la em meus braços ali mesmo e fazer amor como nunca antes, sem me importar que estivéssemos no aeroporto, sem me importar com as pessoas em volta. Mas minha imaginação foi interrompida antes de atravessar a linha do real pelas palavras dela. “Gosta? Eu gosto de chocolate, gosto de animais, gosto de ler.. Mas sobre você... Eu amo você. Percebe agora a diferença?” E toda e qualquer ação se ausentou enquanto meus pensamentos se focaram nos lábios dela repetindo, em mente, “Eu amo você, Eu amo você, Eu amo você”. Um sorriso idiota, daqueles que contraem seus lábios sem você perceber quando o amor te dá uma bofetada, invadiu meu rosto sem pedir licença. Naquele momento eu estava acima do chocolate, dos animais e de ler. E Meu Deus, ela adorava chocolate. “A-a-ama?” gaguejei sem acreditar. “Digo, eu também amo você. Amo demais e...”. E sem mais ela me beijou. As malas ficaram jogadas no chão, as pessoas ao nosso redor nos olharam espantadas e eu nunca fiquei tão feliz por ter dito “eu gosto de você”.

10 de fevereiro de 2011

Noite clara.


Quebro a conexão entre nossos olhos e tento ignorar a atração que os seus lábios impõem aos meus. Mas não consigo fugir do desejo que ao se materializar em imaginação cora meu rosto tímido diante do seu olhar que me devora, que me tenta a ser devorada. Questiono-me se o ar-condicionado havia quebrado e logo noto que este desde o início se encontrava desligado devido ao inverno rigoroso que havia chegado há algumas semanas e que se via tão contrário ao verão que me fazia morada agora. Brinco com o dedo na boca do copo que há pouco você me convidou a beber e que ainda se encontra com mais da metade preenchida com Dry Martini. Você questiona se não irei beber e eu sorrio convidativo ao dizer que sim, sem pressa. Sem dúvidas que seria mais fácil nos encontrarmos entre lençóis se o álcool me roubasse os sentidos, e você sabia. Mas eu queria que meu corpo conversasse com o seu pela atração que atiçava os cinco sentidos e não pela bebida que entorpeceria os mesmos e tornaria turvas as lembranças na manhã seguinte. Você leu minhas entrelinhas e se aproximou ao notar o que causava em mim. Senti sua respiração no meu ouvido e suas palavras sussurradas trazerem um arrepio que percorreu minha espinha e levou-me à uma linha tênue entre ceder e resistir. Mas seus lábios encontraram os meus antes que eu pudesse avaliar a segunda opção. O cenário mudou junto à trilha sonora que de música ao vivo e vozes distintas ao mesmo tempo se tornou silêncio interrompido pelo som do nosso desejo. O teu gosto misturou-se ao meu até que eles se confundiram e não demorou muito para que nossos corpos também se encontrassem quase incapazes de distinção. A noite se fez clara e o amanhecer quase passou despercebido, se não fosse a realidade abrir-me os olhos junto ao sol. Enquanto vestia as roupas que há pouco se fizeram desnecessárias diante do calor irradiado pelos nossos corpos, te fitei perdido em sonhos, os quais muitos realizei. Escrevi-te um bom dia doce com números organizados do lado e atravessei a porta que me trouxe de volta ao mundo além de nós.

Das saudades de sorrisos.


"Se você ao menos partisse e se levasse inteiro, mas ficou tanto de você aqui, fazendo morada no meu lado de dentro."
(Gabriela Castro)

Nunca mais o viu. Nem mesmo em sonhos, como tantas vezes teve a esperança de encontrar. Mas sonho desde sempre foi indomável. Nunca o guiamos, ele sempre nos guia. E sendo assim encontrou mil pessoas em noites quase sem fim, entretanto ele, ainda que fosse encontrado em cada esquina de desejo do subconsciente dela, nunca fora visto. Ela não se lembrava mais da última vez que o vira, mas lembrava que não sabia que seria a última. E nesses dias de céu nublado e previsão de chuva interna ela vasculhava cada lembrança, revirava o baú de memórias e resgatava o melhor sorriso que ele a havia oferecido. O peito se encontrava pequeno demais nessas horas, mas o sorriso dele, ainda que apenas em mente, como de costume trazia paz aos descompasses do esquerdo. E recordando assim, dele sorrindo, sorria molhado, por saudade, por vontade. O tempo que passara desde o último sorriso seco fora muito, pois sorriso quando junto trazia estrela aos olhos e agora tão só via-se nublado com chuvisco silencioso, doloroso. E mesmo depois de assistir o tempo desfilar pelos dias e a dor acomodar-se até tornar-se amiga, sentia falta dele. Sentia falta do som da voz dele, falta das brincadeiras dele, falta do abraço dele, falta dos sorrisos dele e falta dos sorrisos dela, que desde a ausência do dele não brilhou mais.

Dedilhado numa noite onde a saudade, em gotas, marcou o papel.

7 de fevereiro de 2011

Tempo.

Flagrei-me com você em pensamentos a pouco e questionei-me se o tempo não era muito breve para te dedicar um carinho já grande ou ter um olhar especial aos nossos momentos. Mas não encontrei resposta diante as travessuras do tempo que desde o início vem brincando com a gente. Tornou-se inegável que você, ainda que em fragmentos, exista em mim. Seja em pensamentos, lembranças ou desejos. E te ter assim não é algo que quero que se perca ao avançar do relógio. Porque o que temos não esta no grupo dessas coisas que acontecem costumeiramente, que esbarramos em qualquer esquina. Essa sintonia não envolve qualquer beijo, qualquer olhar. Mas de repente nos envolveu. E eu me visto de receio, de medo em esperar o tempo passar e junto a ele passar o que vivemos. Medo de se perder o desejo mesclado com querer-bem, querer estar perto, junto. E medo também de não esperar e num impulso nos permitir. Medo de viver a coisa certa no tempo errado e esta conseqüentemente se tornar a coisa errada. Porque o que nos envolve agora é tão doce e bonito que me desperta o desejo de deixar crescer, para que não tenha fim. E embora eu tenha dito que tudo um dia acaba, eu queria que fôssemos a exceção. Mesmo que não agora, mas que nos cultivássemos um dentro do outro para um futuro não tão distante.

E quem de nós vai entender primeiro o que passou?
E quem de nós vai permitir que o tempo deixe a gente pra depois?
Não deixe o tempo decidir por nós
também preciso ouvir sua voz dizendo
que há tempo de ter tempo pra nós dois
o tempo pode desatar os nós
seremos como tantos outros sós
e o tempo vai levando os nossos sonhos devagar
pra outro lugar (Tempo Certo – Bruno Miguel)

4 de fevereiro de 2011

Sempre passa?.


Vai passar, todos sabem que vai passar. Talvez amanhã, daqui a um mês ou algum tempo. Vai passar. Sempre passa. Mas a euforia ainda está inquieta cá dentro, fazendo festa com as borboletas que fazem com que eu flutue feito pena, nas nuvens. Os sonhos parecem ter se perdido da noite e eu os tenho encontrado vagando pelo meu sorriso, em plena luz do dia. Fazia tempo que minhas pernas não ficavam tão tremulas e que meus lábios não perdiam a ordem de dizer as palavras, mas parece que este é o normal quando eles ficam tão próximos aos seus. E ainda tem essa novidade que não imaginei que fosse você que traria para mim, já que logo nos primeiros dias fez essa confusão doce aqui dentro. Mas você trouxe, com um sorriso e um olhar, aquela paz sonhada. E me fez questionar o impossível, já que nunca seria aceita a existência da tranqüilidade ao mesmo tempo em que existisse agitação. Entretanto foi assim que tudo passou a ser, emoção coexistindo com a calma. O meu desejo de te ter por perto se fez crescente desde então, e vez enquanto eu chego a sentir que só o perto já não é suficiente. Porque amanhecer com o seu gosto ainda na boca me faz imaginar como seria amanhecer com os seus lábios nos meus, sendo relógio e me convidando a acordar. E essa imaginação quer brincar de realidade, as coisas vão ganhando proporções cada vez maiores. Como se tudo fosse infinito vou perdendo a mania de contar as badaladas do tempo e fico sem saber até quando vai durar. Mas eu sei que isso tudo vai passar. Sempre passa. Embora dessa vez eu realmente esteja desejando que não.

3 de fevereiro de 2011

Seus olhos.

O meu pensamento tem a cor dos seus olhos, os mesmos que você duvidou que eu lembrasse sem saber que há muito já estavam gravados em mim. E eu tentei deixar para lá, jogado num canto qualquer da minha memória, mas sempre que busco sono no travesseiro a lembrança deles afasta qualquer sucesso em conseguir dormir. Sempre me volta à mente aquela primeira vez, quando eu verdadeiramente te olhei nos olhos. Era tão indecifrável. E assim, em seguida, me vem todas as outras vezes que eu te vi, que meus olhos curiosos buscaram os seus ainda tão misteriosos. Li seus detalhes, seus sorrisos, sua voz. Mas os seus olhos continuaram um enigma. Talvez fosse o pouco tempo que me era permitido olhá-los, já que em poucos segundos eu desviava o olhar quando você me olhava de volta. A velha história de evitar me perder, ainda mais nesse segredo que seu olhar guarda. E então me rouba a noite essa curiosidade quase infinita, essa busca incansável por decifrar o mistério escrito nos seus olhos castanhos-nem-um-pouco-sem-graça.

2 de fevereiro de 2011

Uma noite de você.


Agora, te olhando se arrumar tão distraidamente para mais um dia de trabalho, me perco entre lembranças dos nossos últimos instantes, que fora dos meus sentidos ocuparam uma noite inteira. O tempo tem dessas brincadeiras comigo, acelera quando me perco em seus braços e se arrasta quando sua ausência vem me fazer companhia. Mas talvez sejam só os meus sentidos dormentes ao externo quando sou envolvida pelo calor do seu corpo e entorpecida pelos seus beijos que desejo nunca terem fim. Como na última noite que teve como trilha sonora o silêncio de nossos lábios em longas conversas de nossos corpos, invadida por outra melodia apenas quando os sussurros faziam cócegas aos ouvidos. Não consigo resgatar da memória se chovia ou as estrelas invadiam o céu, meus olhos só registraram os seus detalhes. Assim como todos os outros sentidos, focaram apenas você. O mundo limitou-se aos seus contornos, aos nossos lençóis. E já acostumada a ter seus traços completando os meus, me doeu sentir a separação necessária já tão próxima. Como se toda a noite não fosse suficiente, não satisfizesse meu desejo de todas as noites e dias. E eu te observava tão distraído, gravando mais uma vez seus detalhes em mim, estes que eu iria relembrar quando o tempo viesse se arrastar para trazer uma nova noite de você, só para mim.

O início são os olhos.


Esse meu desviar dos olhos não é ausência de sinceridade em minhas palavras e atos, é apenas medo. E por medo eu fujo, dos seus olhos, de você. Há tanto, de tantos eu tenho fugido. Incansavelmente buscado desculpas por trás das quais eu me escondo, com as quais eu vou embora. E nessa fuga é necessário quebrar a atração dos olhares, permitir que as pálpebras se fechem antes que me perca na essência que os olhos guardam, antes que o motivo da fuga seja esquecido e inevitavelmente me destrua ao ser lembrado no final. Confuso, concordo. Mas o que não é confuso quando tratamos de sentimentos? Os olhos se encontram e a cada novo encontro atraem os lábios. O coração vai ganhando novo ritmo, a vida novos passos. A euforia domina seu estômago assim como a voz do outro acelera a batida presente em seu peito. Os sonhos abandonam a noite e passam a viver de dia, em seus pensamentos, feito realidade. Mas não são. Um dia, logo ou depois, a euforia dá espaço ao peito comprimido e os sonhos escapam pelos olhos até que sejam sentidos nos lábios em sal-realidade. Aquele sorriso que a pouco lhe roubava a face se faz oposto, contrário. E a dor se faz imensa, como nunca antes, te trazendo um sentir tão díspar ao ‘felizes para sempre’ dos contos de fadas. Então você passa a fugir do encontro dos olhares, onde tudo começou. Evita o envolvimento que trouxe como conseqüência a dor. E eu sigo assim, fugindo dos olhos que me cercam, que me fitam. Fugindo do início. Mas os seus olhos são os primeiros desde o fim que me trazem um início tão convidativo, tão fácil de aceitar. Vasculho as palavras e tento formar novas desculpas, dessa vez não para os olhos que me fitam, mas para os meus, que excepcionalmente não desejam ser fechados.

1 de fevereiro de 2011

Primeira e última carta para você.

Não posso mais ver você. Ver, falar, pensar ou qualquer outra ação que te envolva, que te traga para perto de mim. Distância. Preciso, mesmo que contrário ao meu desejo, impor esta entre nós. Não me entenda mal, eu gostei de você, desde o início, daquele seu sorriso, e esse é o problema. Você não percebe? Eu tenho olhos de apaixonada e ouvidos de criança. Quando meus olhos te fitam seus detalhes me ganham, me convidam a me aproximar de forma perigosa, me desafiam a atravessar a linha-amor. E quando sua voz canta palavras doces em meus ouvidos, eu me desfaço e acredito, com ingenuidade, incapaz de duvidar da veracidade delas. Mas minha razão adulta freia esse desconcerto que já roubou as batidas do meu peito, alertam a me afastar. Então eu vou indo, antes que eu passe a me importar com o seu bem estar ou procurar saber sobre os seus dias. Antes que seu nome seja mencionado muitas vezes em minhas conversas. Antes que acorde com vontade de te dar bom dia ou vá dormir com vontade de te dar boa noite. Antes que os dedos disquem automaticamente seu número ao querer escutar sua voz. Antes que te encontre no meu primeiro e último pensamento. Antes que eu não consiga mais ir embora. (Se isso já não aconteceu).

Adeus,
S.

Além dos cinco sentidos.


"É preciso mergulhar de cabeça,
para ver a beleza que está no fundo do mar.
A superfície é bonita,
mas as coisas mais incríveis
acontecem lá no fundo."
(Pérola Anjos)

Eu não quero só o que é visto, o que depende dos cinco sentidos para ser entendido. Quero ir além da superficialidade dos abraços, beijos e carinhos. Não que os momentos envolvidos por estes sejam desmerecidos, pelo contrário, sua importância se torna inestimável quando o assunto em questão é o amor. Entretanto não satisfaz minha voracidade, minha intensidade, meu querer sempre mais. Quero explorar os detalhes do outro ao ponto de ouvir as palavras mudas de um olhar, de reconhecer cada pulsar do peito, de ler as entrelinhas de cada sorriso, de desvendar os gestos. Quero que cada desejo tatuado em mim seja descoberto em lentas procuras. Quero que a insônia roube o sono e que me roubem a noite, o dia. Quero o encontro das essências que com o tempo vão se encaixando, se completando. Quero gravar o contorno da alma na qual a minha se moldou, se deitou. Quero que deixem de passar despercebidas as minúcias da rotina, que doce se renova sempre quando se percebe. Quero ir além do tocar. Quero o sentir.

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