Ela molhava o pincel na tinta negra, que refletia uma realidade presente, e atacava sem pena as paredes cor de rosa de seu quarto, que a pouco refletiam uma doce ilusão. Entre escuridão que nascia a cada pincelada e a desilusão que a devastava o peito, transbordou os olhos em dor, arrependimento, desamor. Sentou num canto do quarto, antes refúgio para sonhos, abraçou os joelhos e deixou o sofrer, proporcionado por ela própria, percorrer o corpo inteiro. A alma já estava tomada, dilacerada, incapaz de se reconstruir. Aquela certeza que por ser com ela jamais aconteceria sumira em segundos, deu espaço a decepção, vergonha. A imagem do quarto frio, roupas brancas, abraços de consolação a preenchiam a mente, só aumentavam a angústia. Surgiu o desejo da presença dele segurando sua mão e sua voz macia lhe dizendo que ficará tudo bem, entretanto só encontrava ausência a envolvendo. Questionava então. Se era amor não deveria haver preocupação? Se era amor não deveria afastar seus medos? Se era amor não deveria durar para sempre? Resumia tudo em ilusão, então. Mentiras fantasiadas de verdade a enganaram e hoje pesava através do erro cometido, do arrependimento que não se esvaía. A realidade se fez vista pelos olhos, feriu, magoou. Mostrava-a que agora teria que aprender a conviver com a angústia, com o medo e com a dor. Pois o erro se fazia presente dentro dela, invisível aos olhos, entretanto percorrendo seu corpo inteiro dilacerando, mostrando presença até seu último suspiro. Intruso que a cada segundo Arruína, Invade, Destrói, Subtrai e não se esvai.
Nenhum comentário:
Postar um comentário