Quando ela acordou ao amanhecer não reconhecia o lugar à primeira vista. O relógio de pulso havia parado, não sabia há quanto tempo registrava onze e meia da noite. Olhou novamente à sua volta e reconheceu a tranqüilidade e o calor transmitido pelas paredes. Vieram então as memórias embaçadas de uma noite de dor. Levantou-se e seguiu o corredor. Acabou indo parar numa cozinha. O homem desconhecido estava preparando omelete no fogão, então lembrou-se que seu nome era Lucas. Ele notou a presença dela e se virou. Ela perguntou se ele iria lhe fazer mal. Ele disse que não. Ela, desconfiada, questionou como ele sabia que não. Ele respondeu com um timbre terno que não lhe queria o mal. Com o coração na defensiva ela disse: - Ninguém nunca quer. Ele continuou a fazer a omelete e pediu para que ela se sentasse. Ela obedeceu. Ainda dolorida pelas bofetadas recebidas do amor que um dia, por ela, foi tão desejado, buscou algo com que pudesse se distrair. Lembrar não iria mudar e as lágrimas não iriam apagar, o melhor seria esquecer. Um livro com o título “Anjo da Noite” em prata num fundo azul lhe chamou a atenção. Ele descansava meio aberto na mesa e os olhos dela se esforçaram para ler a última frase da página. A frase a trouxe um sorriso aos lábios, este que há tempo se recusava a aparecer.
(continua...)
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