Todos os textos deste blog são de minha autoria, quaisquer textos, frases, ou expressões de qualquer outra pessoa, virão em itálico ou com créditos.

29 de março de 2011

Somente o sorriso dela faz o meu nascer.

 "Mesmo depois de conhecer vários e novos sorrisos, o dela ainda é o meu preferido" 
Eu tenho pensado muito nela. Não sei se isso se deve ao fato de tê-la encontrado há alguns dias ou por nunca tê-la esquecido. Sim, meu mundo deu muitas voltas e é fato que nesse tempo de quilômetros as distrações tenham feito muito bem sua função, entretanto não importa quantos giros a vida dê ou o quanto a visão turva ocasionada pelos mesmos me afaste brevemente dela, sempre retorno ao mesmo lugar. Com o amanhecer dos amores-distração é o gosto dela que me toma os lábios em saudade, e a vodka há muito tenta provar que independente da minha persistência nenhum sabor sobreporá o que ela gravou em mim, nem mesmo o salgado que em seguida foge pelos olhos. Embora eu já soubesse, somente agora eu tenho aceitado que ela tenha ido e ao mesmo tempo permanecido, em mim. Encontro-a em tudo e todos. Nas lembranças de travesseiro em noites, nos dias que tenho vontade de levar aos ouvidos dela, nos sonhos que quando com ela tive e que agora sem ela tornaram-se tê-la, no verso daquela música, no olhar de outra que não brilha tanto quanto, nos risos muitos que não sabem me fazer rir como. E nesses dias de aceitação, depois de ter lamentado os muitos erros e me arrependido de tantos feitos, me tomou essa vontade de mudar. Querer corrigir os meus defeitos e aprimorar os meus detalhes falhos. Querer ser melhor. Por ela, para ela. Para fazê-la sentir também esse misto contraditório que acelera meu peito toda vez que a vejo sorrir.

22 de março de 2011

Chegue mais perto.

Mas hoje em especial me bateu uma saudade grande de você. Quando te procurei por todos os lados e não te encontrei aqui fora e muito pouco aqui dentro. As lembranças estão ficando vagas e sua voz quase um sussurro. Não ecoa mais na minha mente o teu timbre único, nem aquece mais a recordação do seu toque. Sua ausência foi te roubando aos poucos de mim, mas deixou teus detalhes em angustiante saudade. Ainda me deparo com você em versos de algumas músicas, numa lembrança solta pelo dia e nesse desejo de você que às vezes me visita, mas o que antes constantemente me roubava o sono já permite esquecer-me da insônia. Como se meu corpo estivesse se moldando a essa lacuna de você, me acostumando a não te encontrar sempre que os olhos se fecham ou quando eles se abrem. Mas eu não quero te perder de vista, tampouco adormecer o que você causou em mim. Deixar o tempo transformar centímetros em quilômetros e acomodar a saudade até que ela se perca no esquerdo. Chegue mais perto, traz seu pulsar pra junto do meu. Deixe-me sentir seu gosto mais uma vez, e outra, e outra. Não deixe de existir aqui fora, e aqui dentro de mim...

18 de março de 2011

Meu mais sincero obrigado.


“Caiu finalmente a minha ficha
do quanto você é, tão e somente,
um cara burro.”
Tati Bernardi

Eu estava ficando cega. O brilho que fazia morada nos olhos aos poucos ia me cegando e aos poucos o real ia se ofuscando perto da ilusão que se formava. Feito aqueles que amam cegamente, porque não acredito em outra forma de amar se não cego, ou pior, míope. Estava acreditando no engano que a miopia trazia à minha vista, como se fosse realidade. E os sentimentos irracionais começaram a brotar cá dentro, junto às borboletas que aprenderam a voar ao ouvir sua voz e o coração que se inquietava sempre que o seu pulsar se encontrava audível. E nem o meu não querer foi capaz de deter esse querer crescente que me fazia buscar-te a todo o momento. A saudade já grande me engolia em noites que sua ausência trazia frio à minha cama. O seu nome surgia muitas vezes em meus lábios, e em mil vezes mais em minha mente. Os teus detalhes passaram a existir em tudo e todos para quem eu olhava. As músicas chegaram ao ponto de me trazer tuas mensagens de amor. E parando agora para analisar, acho que além de míope eu também estava ficando surda. Mas passou. Da mesma forma que tudo um dia passa, a visão turva e os enganos auditivos passaram. Antes até que criassem raízes profundas, que doesse muito ou ferisse demais. E isso eu devo inteiramente e somente a você. Que me emprestou o casaco, mas levou embora o abraço quando mais senti frio. Que me trouxe sorrisos e os ausentou sem mais. Que me cantou verdades falsas como se fosse poeta, me encantando em versos para me desiludir no final. Que lavou meus olhos com chuva de mar e levou embora o brilho, o engano. À você que se mostrou ser mais um na pilha dos ‘outros’, meu mais sincero obrigado.

16 de março de 2011

Encantamento.



E foi quase impossível eu não me encantar. Você me olhando com aquela cara de confuso ao me decifrar em contradições. Sem me entender, mas sem conseguir não de se encantar também. Falando dos meus detalhes feito poesia e com estrelas nos olhos. Que estrelas eram aquelas? Você sorriu dizendo que me refletiam e eu corei. Eram minhas afinal, deslumbre por você me ler assim tão bem, em tão pouco tempo. E se encantar com as minhas linhas, como se fossem um livro do Caio Fernando. Foi quando seus olhos ficaram tristes ao encontrar meus medos e assustados ao ver tantas cicatrizes, feito páginas arrancadas. Tocou-as sem que eu recuasse e isso era tão novo. Sempre fui boa em escondê-las em maquiagens-sorrisos e você as encontrou sem dificuldade, vendo além da calúnia dos lábios. Tocou-me sem fazer doer e foi mágico não sentir pela primeira vez após tanto tempo o toque não queimar. Você sussurrou com a expressão confusa lhe roubando a face outra vez que dentre todas as minhas contradições essa era a que você menos entendia. Como com tantas marcas eu continuava sendo tão bela. E foi quase impossível eu não me encantar.

...fazia muito tempo que eu não tinha vontade de sorrir para nada nem para ninguém,
então era extraordinário que ele conseguisse perturbar assim os cantos de meus lábios.
(Caio Fernando Abreu)

“Não falta homem. Falta amor!”

Vez ou outra ela sentia um vazio no peito. Quando a correria desacelerava e o pulsar se encontrava audível longe do transito da cidade. A mente ao repousar sob o travesseiro se dividia em mil pensamentos, que se encontravam sempre em um alguém, ou na falta do mesmo. Fazia tempo que este havia se ausentado e cedido lugar a saudade. Este que ao longo da vida muda o físico, o cheiro, o gosto, o jeito, a voz, entretanto sempre traz similar paz, conforto, confiança. Ocupa o lugar que antes dúvidas e medos faziam morada. Possui o toque que não encontra somente a pele, te encontra por dentro. O abraço que não ausenta somente o frio, liquefaz a camada de gelo que envolveu o esquerdo. O olhar que desvenda a essência. O encontrar dos corpos que ultrapassa a anatomia e entrelaça a alma. Este que vive nos dias além de noites onde o beijo arrepia a pele, mas mantém intacto o interior.

14 de março de 2011

Noites de sexta.


A imagem dela mordiscando o lábio inferior ao se deparar com a indecisão de qual filme veriam levava um sorriso malicioso aos lábios dele. Encontravam-se todas as sextas à noite depois do trabalho. Eram um para o outro como a fuga do mundo. E tinham somente aquele intervalo de tempo entre as realidades, as noites de sexta. ‘Nenhum’, ela decidiu depois de meio minuto. ‘Não quero desperdiçar nosso pouco tempo com filmes’, disse certa e um tanto insegura à reação dele. ‘Concordo’ ele disse em seguida. Não achava que o filme seria um desperdício, da mesma forma que qualquer coisa ao lado dela não seria, mas sabia uma melhor forma de aproveitar aquela noite. Um beijo selou a decisão de irem para a casa dele. As horas giraram os ponteiros com velocidade de coisas boas, rápidas demais. Com o fim já próximo ela confessou entre rodeios e meias palavras que quando em quando pensava nele. Todos os dias. Ele sorriu aliviado ao constatar que não vivia aquela loucura sozinho, que ter ela nos pensamentos não era ao todo tão incomum. Ela mantinha os olhos mergulhados com timidez num nada menos intimidador. Já era difícil permitir o sentimento fugir pelos lábios, entregá-los no olhar se encontrava fora de cogitação. Ele disse, sem muito enfeite, que não tinha dúvidas que com ela daria certo. Ela sorriu ao dizer ‘um dia’. ‘Um dia’, ele repetiu. E se despediram, com aquele amor ainda não dito comprimindo o peito e um beijo doce que os lábios guardariam por muitos dias e muitas noites, até a próxima sexta.

13 de março de 2011

Me deixa ir?.


Eu acordaria pela manhã, abriria a janela e veria o mesmo sol de todos os dias. Encontraria os amigos e os sorrisos de sempre. Gastaria as horas da semana estudando e as dos fins de semana saindo como o costume. Dormiria com a velha música me cantando paz aos ouvidos. A vida seria a mesma de antes de você. Assim como continuou sendo depois dos outros. Então me diz por que eu não consigo ir embora? Se já disse adeus outras vezes, por que minha voz esta muda agora? Por que quando olho em seus olhos desejo dizer sim se a razão grita não? O combinado era retroceder mil passos ao chegar perto demais da linha-limite, mas eu a perdi de vista. Os pensamentos antes eram tantos e agora quase sempre são você. As lembranças, antes visita e agora de casa, são as nossas. Mas tudo é tão mais complicado do que te encontrar uma vez e outra também em minha mente. E dá medo. Gostar é começar o inferno todo de novo. Então me deixa driblar esse seu sorriso convidativo e ir embora, mais uma vez...

11 de março de 2011

Questão de cálculo.

Tudo tem haver com matemática, medidas. O amor não pode ocupar todo e qualquer espaço. Deve-se calcular os prós e os contras, avaliar as suas limitações e impor limitações a ele. Ponderar cautelosamente o quanto aí dentro se encontra disponível e ajustar o amor ao espaço oferecido, não o contrário. Afinal quem ele pensa que é para ocupar seus pensamentos? No máximo se acomodar entre uma lembrança e outra, aquelas que surgem em momentos vagos. Não é permitido atravessar a linha, brincar com o pulsar, fazer morada em devaneios. É necessário medir até onde vai a realidade, separá-la do sonho. Não pode misturar. Cada qual em seu espaço, devidamente ajustado. Você sempre como prioridade, em maior extensão, o que sobrar divide-se entre as distrações. Assim ao deixar de existir não abandona grande vazio, facilmente se ocupa. Percebe? Tudo é cálculo. Agora basta saber calcular.

Das conversas sobre amor, sobre amar.


S: Como foi que você descobriu que estava apaixonado por ela?
R: Nossa, que pergunta...
S: Desculpa. É que eu estava pensando... Sempre escrevi sobre, mas quando acontece além de fantasias eu fico sem palavras, sem explicações...
R: Na verdade eu não sou apaixonado por ela. Eu a amo.
S: E quando começou? Quando você se deu conta?
R: Não tem como se dar conta. É involuntário. É mais ou menos assim: você pensa na pessoa direto, ai fica olhando fotos dela, sentindo aquele aperto gotoso no coração. Basta estar ao lado dela pra que todos os seus problemas desapareçam. Quando esta perto da pessoa é como se recarregasse sua bateria e sua vontade de ir além. É difícil falar. É algo que te faz correr e engatinhar. É algo que te faz dar as mais altas gargalhadas lotadas dos mais sinceros choros. Não tem como saber. É diferente de tudo. Diferente de todos. Sei lá. É amor. Vai entender.
S: Eu não quero me apaixonar, mas tudo é tão fora do meu controle. E eu fico com esse medo, de acontecer. Se apaixonar é foda.
R: Paixão realmente é algo muito difícil. Ela vem avassaladora. Te faz a pessoa mais feliz do mundo e com a maior facilidade te reduz a nada. Mas isso que eu sinto não. É estranho. É algo que me tira o sono. E se alguém esta com ela e a faz feliz, eu digo que bom. Por mais que eu saiba que meu desejo é ser feliz ao lado dela, acho que meu desejo de vê-la feliz é maior.
S: O amor podia ser mais fácil não acha?
R: Mas é a realidade. É difícil, muito difícil mesmo.
S: E se você pudesse escolher? Escolheria não amá-la?
R: Não. Escolheria saber amá-la! Nem todo mundo sabe amar. E eu acho que ainda não sei...
S: É, eu também não...

Postagem coletiva - Participação especial : R.V.

Andei pensando coisas. O que é raro, dirão os irônicos. Ou "o que foi?" - perguntariam os complacentes. Para estes últimos, quem sabe, escrevo. E repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro(a)- mas a morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo(a), há então uma morte anormal. Ando meio fatigado de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis. Meu coração tá ferido de amar errado. Acho espantoso viver, acumular memórias, afetos. É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado. Tô exausto de construir e demolir fantasias. Não quero me encantar com ninguém. Ah, então foi pra ele que eu dei meu coração e tanto sofri? Amor é falta de QI, tenho cada vez mais certeza. (Caio Fernando Abreu)

8 de março de 2011

É carnaval!.

A música alta invadia os ouvidos, acelerava o pulsar e transbordava animação-sorriso. O bloco percorria as ruas com alegria esfuziantes em máscaras diversas. Entre a agitação e a música que despertava certos sentidos enquanto o álcool adormecia outros um pierrô esbarrou numa colombina. – Desculpe. – Tudo bem. Ela não reparou nele e o desculpou sem desviar o olhar do trio que dispersava música. Ele se encantou ao ver o sorriso dela. O trio andou e ele fora atrás, mas agora seguia a colombina. Não desviou os olhos dela até o bloco se desfazer na Praça XV, quando notou que ela seguiria outro caminho e buscou coragem para lhe falar. – “Oi.” Sorriu incerto. – “Oi.” Dessa vez ela levou os olhos até a face dele, buscando em memória se o conhecia. – “Eu esbarrei em você mais cedo no bloco...” – “Tudo bem, aconteceu o tempo todo. É carnaval.” Ela sorriu. Ele se sentiu mais um entre tantos pierrôs, mas se encantou mais uma vez por aquele sorriso. – “Você tem um sorriso lindo”. – “Ah, obrigada.” Ela corou e sorriu de novo. – “Vamos comer alguma coisa? Depois de pular tanto você deve estar precisando repor as energias.” – “Não sei.” Ela recuou incerta. – “Vamos, é um pedido de desculpas por ter esbarrado em você.” – “Mas eu já te desculpei.” – “Então qual o problema em aceitar meu convite?” – “Eu não te conheço.” – “ Ótima oportunidade não acha?” – “Tudo bem. É carnaval!” Ela sorriu. Comeram numa lanchonete de calçada e trocaram risos muitos. A cada novo sorriso o pierrô se encantava mais pela colombina. A cada palavra que a fazia sorrir a colombina se encantava mais pelo pierrô. O relógio avisou a pressa do tempo fazendo com que a colombina tivesse que se despedir. – “Me dá seu telefone?” Pediu o pierrô choroso com a separação. Ela anotou num guardanapo e o entregou. –“Tenho que ir.” Disse ela distraída procurando a rua que devia seguir. O pierrô a roubou um beijo. Ela se surpreendeu e o olhou sem saber como se sentir. – “É carnaval”. Ele sorriu. Ela corou. Ao voltar para casa suspirou ao sentir o gosto dele ainda em seus lábios e sorriu. O celular vibrou com uma mensagem. “Não sei seu nome colombina” dizia. “É carnaval!” respondeu. E naquela noite fora dormir pensando no pierrô.

1 de março de 2011

Depois que o sol se pôs.

Querido A.

Não sei exatamente o que nos trouxe até aqui. Na verdade não sei nem onde estamos. Tantos anos com sua amizade doce ao lado, multiplicando minhas alegrias e dividindo as minhas dores, que o peito aperta ao cogitar amanhecer sem sua voz me cantando o bom dia rouco de sempre. Você sempre foi especial para mim, desde aquela noite em que seu sorriso tímido pediu permissão para fazer o meu surgir, sem saber que há muito meus sorrisos vinham refletindo o seu. E fomos nos tornando essenciais um para o outro sem nos darmos conta, mesmo que a saudade em poucos dias de separação viesse nos contar que já morávamos um dentro do outro. Mas só agora vendo a distância crescer entre nós que notamos o quão somos importantes e acredito que esse pulsar doído que habita meu peito também faça morada no seu. Eu não sei o que nos levou àquilo. Se foi o termino do seu namoro mesclado com minha carência acentuada. Se foi nossa conversa sobre relacionamentos complicados em contraste com a nossa relação simples de sorrisos fáceis. Ou se foi o sol que resolveu se pôr bem ali na nossa frente enquanto as palavras cediam lugar ao silêncio. Mas também não creio que agora importe. Só queria que você soubesse que não ausentarei a distancia entre nossos lábios outra vez, desde que você ausente esta que nasceu entre nós. Eu consigo ignorar a inquietação das borboletas e o ‘e se’ que tem roubado meus pensamentos ao nos fantasiar de outra forma, mas é impossível ignorar a falta enorme que você faz nos meus dias, na minha vida...

Com o esquerdo comprimido
sua eterna bailarina.

PS.: Não ligue para a saudade que marca o papel com sal, quando reli a carta ela atravessou os olhos inevitavelmente. E vê se volta logo, por favor.

27 de fevereiro de 2011

Te quero por perto, mais perto.

“... acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus.”
(Chico Buarque)

Meus pensamentos têm trazido você com mais freqüência e em similar assiduidade tenho buscado distrações que te afastem ou adormeça essa saudade que embora recente já ocupe grande espaço. Como se fosse errado permitir que você faça morada em mim, por agora. Como se fosse cedo demais para sentir falta do seu olhar repousando no meu. Mas a razão acostumada a limitar o sentir vem tendo dificuldades quando se trata desse querer, no qual você ocupa linhas e entrelinhas. Então eu tenho buscado formas de me desligar do relógio para não contar o tanto de tempo que ainda falta para te encontrar fora dos pensamentos. Mas estas são inválidas assim como o tentar afastar as lembranças ternas que intensificam a diferença dos dias ausentes de você. E assim eu descobri o quão longe chegou esse gostar. Gostar do sabor dos momentos que te tenho perto, dos sorrisos que você me proporciona, do seu gosto, de morar no seu abraço, de você. E eu tenho tanto para te dizer e um tempo tão recente para que as palavras se pronunciem que fico muda, sussurrando vez enquanto o bem grande que você já me faz. Mas isso é pouco, pouquinho, perto de tudo que fica silenciado e só com o tempo ganhará voz. Por agora deixo fazer som esse meu desejo de te ter por mais dias e mais noites, te ter sempre por perto, mais perto. (...)

23 de fevereiro de 2011

Para trazer veracidade, fez eco.


As palavras saíam com pouca, se não nenhuma, convicção por entre os lábios há pouco mel e agora um misto de amargura e sal. Ela tentou fazer-se de forte e desviar os olhos para junto desviar a dor, mas foram vãs suas tentativas. Repetiu que não queria mais. Uma. Duas. Três vezes. Para que ele acreditasse. Para que ela acreditasse. Uma mentira dita muitas vezes se torna verdade, ela tinha ouvido certa vez. A alma não comportou as lágrimas, tampouco os olhos. Ele se preocupou e fez aquela cara triste, como se a tristeza dela se estendesse a ele. Ela odiou aquela cara. Quis arrancá-la a bofetadas para se esvair desse sentir que ele se importa. Nunca se importou, por que agora estava sendo diferente? Mentiroso, gritou em mente. Então ele veio com discurso das lembranças. Ela odiava lembranças. A memória nefária o deixara gravado feito tatuagem, com perfeição de detalhes e momentos. Impossível esquecer, ele alegou. O tempo o fará, ela devolveu, ainda que não acreditasse cultivava uma esperança desesperada para que fosse verdade. E você quer? Com os olhos carentes ele questionou. Eu vou, ouviu-se feito eco. Mais de três vezes. Para não ter erro e se tornar verdade.

22 de fevereiro de 2011

Gostar.


Não é um segredo, mas não carece ser dito em voz alta. Tem haver com a alma, de entrelaçar a sintonia com o que nasce cá dentro, sorrateiro. É íntimo, fica preservado em silêncio. E sendo assim nunca entendi a necessidade que alguns têm de gritar ao vento o que sussurra no peito. Sempre senti que esse compartilhar precisa ter coração e não o damos a qualquer um, ou ao menos não devíamos. A verdade é que é difícil demais abandonar a solidão em que nos moldamos, aceitar a afeição ir se aprofundando, nos aprofundando, e em seguida confessar que tornou-se um gostar. É algo tão belo, mas tão díspar do que encontramos fora de nós que se recolhe no olhar, no gesto e somente ganha palavras quando o outro se encontra próximo o suficiente para ouvir o sussurro.

21 de fevereiro de 2011

Era tão pouco que o vazio transbordou.


Eu não sumi. Continuo no mesmo endereço, mas parece que você esqueceu o caminho até aqui. E o número do meu telefone. Vez enquanto ele até se pronuncia, mas é tão vez enquanto que eu não fico mais do lado. Então eu resolvi esquecer um pouco também. Mas eu nunca soube ser metade, então esqueci completamente. Você me conhece, eu sempre quero inteiro e quando o tenho quero ainda mais. Mas você me deu tão pouco que virou nada diante dessa minha voracidade. E ficamos assim: você tendo meu tudo e eu o seu nada. Por certo tempo eu até fingi que meu tudo bastaria para nós, mas não bastou nem ao para você. Então peguei de volta. E não me culpe por ter buscado mais em outros lugares. Sua ausência só trazia vazios e deste eu já estava farta. Veja bem, é quase impossível me encontrar completa ao ponto de não desejar mais e você, sem pretensão, conseguiu esvair meus desejos, me transbordar. Virei o peito de ponta cabeça e deixei escorrer essas lacunas de você que ocupavam tanto espaço. Agora, com o esquerdo desocupado, procuro alguém que ocupe a linha telefônica e traga o tu(m)-tu(m)-tu(m) há tanto ausente.

18 de fevereiro de 2011

Certas coisas certas.

No começo você não faz idéia das proporções que as coisas podem ganhar e se iludi ao acreditar que serão como tantas outras, perdida na memória. Entretanto os detalhes que, equivocadamente, você diz terem passado despercebidos lhe roubam os pensamentos em vezes crescentes quando você repara que o céu esta mais azul ou o travesseiro não te traz o sono costumeiro. Você ignora como se fossem comuns os flashes daquele olhar ou daquele sorriso encantador e tenta desligar os pensamentos com mentiras vãs. Então a noite passa, você acorda, toma um banho gelado, segue a rotina diária e percebe que os resquícios dos últimos dias ficaram em você, os mesmos que irão invadir seus pensamentos o resto da semana. Aconteceu, você se dá conta. Entretanto mantém aquela máscara de está-tudo-igual por fora. Demorou tão pouco tempo que não deve ser verdade, você mente para o espelho. Mas o desejo dentro aumenta, ganha forma, seus dedos procuram um nome no celular e quase pressionam o botão verde convidativo. E o pensamento insiste em lembranças, não vai embora. Você acha estranho essas coisas começarem pequenas, com uma troca de olhares, e de repente ficarem gravadas em sua retina, vistas em cada lugar para o qual você olha. Questiona, tenta entender o que realmente aconteceu e encontra mil perguntas e nenhuma resposta. Mas você não entende, ainda, que certas coisas são assim: tão certas que as explicações se esvaem.

17 de fevereiro de 2011

Novo ritmo.

Abafava o som estridente de um grito com um sorriso. Já se encontrava mais convincente, ainda que o grito não tivesse perdido o volume ou o peito descompassado perdido a dor. Era ela que ao passar do tempo fora adquirindo experiência em maquiar sorrisos e imitar sons de risos. Entretanto encontrou entre as pistas da vida um dançarino que possuía timbre-amor, na sua mais pura forma. Ouviu incrédula os doces sons familiares e conforme os acordes iam sendo reconhecidos permitia aos ouvidos maior atenção, para ter certeza. Não havia mais dúvida. O esquerdo ruiu mais alto que a felicidade de fora ao lembrar-se da acústica-amar, que ecoou por dentro. Não guardou as lágrimas, dentro a ausência de espaço a obrigou transbordar. Permitiu que o nó que segurava a falsa alegria se desfizesse em meio ao sal que marcava seu rosto. Ele assistindo as lágrimas dançarem em ritmo progressivo aproximou-se com o olhar preocupado, como se visse além da dança, ouvisse a música melodramática de um Tum-tum-tum quebrado, desafinado, dentro dela. Estendeu-lhe a mão em leves caricias pela face e entrou na dança ao encaixar os passos num abraço. Sussurrou algumas palavras em seu ouvido que soaram como canção. A música vinda de dentro começou a ganhar compassos novos, se moldava aos poucos à que fazia morada nele. O sorriso fugido voltou tímido aos lábios dela conforme a melodia fora a envolvendo. As palavras muitas que surgiram se encontravam incapazes de atravessar os lábios, se fizeram mudas. A harmonia da dança dispensou qualquer som além daquele que em novo ritmo guiava os passos dela. Agora em dupla, representava a arte de sorrir em sentir a felicidade morar dentro.

14 de fevereiro de 2011

Doce brilho.


Entre as mil coisas que me roubam a mente em uma simples menção ao seu nome, escolheria o sorriso que me rouba os lábios para te caracterizar. Ainda que os adjetivos se tornem muitos quando se trata dos seus contornos, dos seus gestos e jeito, o sorriso que cativas em mim seria mais fiel ao que quero traduzir agora. Pois é devido a ele que você vem ganhando um espaço crescente na minha vida, já que não encontramos em qualquer rua um alguém que nos traga uma alegria assim, que enfeita o rosto ao encostar a cabeça na janela do ônibus num fim de dia ao voltar para casa. E hoje olhando as lembranças recentes de um dia bonito ao seu lado senti um brilho doce morar no meu olhar, confessando que adorou cada pedacinho dos momentos que foram nossos e deixando em entrelinhas o desejo de que dias assim se repitam. Mesmo que esse olhar não traga brilho de apaixonada. Não ainda. Não porque eu não permitir. Pois se eu não tivesse tapado os ouvidos para o pulsar desigual do peito e deixado a razão cantar-me sua perspectiva, há muito teria me entregado para esse seu sorriso convidativo e olhos-menino. É que eu encontro em você detalhes apaixonantes, dos quais me esquivo enquanto nasce nos meus olhos aquele brilho de quem se encantou. (...)

12 de fevereiro de 2011

“Eu gosto de você”.

A verdade se fazia absoluta, não havia espaço para dúvidas. Eu a amava irrevogavelmente. Como nunca antes, como nunca depois. Entretanto quando o sentimento tentou escapar pelos lábios a língua tropeçou nas palavras e saiu um “eu gosto de você”. Como assim “eu gosto de você”, questionei em mente. Gostar não traduzia um terço daquilo que um dia habitou meu peito e hoje fazia morada no corpo inteiro. Não expressava esse meu desejo de acordar olhando aqueles olhos castanhos amenos, sentindo a voracidade daqueles lábios doce-mel e ouvindo aquela respiração de quem recupera o fôlego, hoje, amanhã e todos os dias que estariam por vir. E ela estava parada ali na minha frente, a poucos segundos de ir embora, e tudo que eu consegui dizer foi “eu gosto de você”. Ela deveria ter ido naquele instante, sem hesitar um segundo, sem nem ao menos olhar para trás. Eu gosto não valia nem um sorriso dela, aquele de canto de lábios, tímido, que a enfeita a face sempre que recebe um elogio. Nossa aquele sorriso definitivamente merecia muito mais. Imagina o pacote completo. Meu deus, por que diabos eu disse: “eu gosto de você”? Ela olhou-me fixamente nos olhos com aquele olhar carente e eu quis tomá-la em meus braços ali mesmo e fazer amor como nunca antes, sem me importar que estivéssemos no aeroporto, sem me importar com as pessoas em volta. Mas minha imaginação foi interrompida antes de atravessar a linha do real pelas palavras dela. “Gosta? Eu gosto de chocolate, gosto de animais, gosto de ler.. Mas sobre você... Eu amo você. Percebe agora a diferença?” E toda e qualquer ação se ausentou enquanto meus pensamentos se focaram nos lábios dela repetindo, em mente, “Eu amo você, Eu amo você, Eu amo você”. Um sorriso idiota, daqueles que contraem seus lábios sem você perceber quando o amor te dá uma bofetada, invadiu meu rosto sem pedir licença. Naquele momento eu estava acima do chocolate, dos animais e de ler. E Meu Deus, ela adorava chocolate. “A-a-ama?” gaguejei sem acreditar. “Digo, eu também amo você. Amo demais e...”. E sem mais ela me beijou. As malas ficaram jogadas no chão, as pessoas ao nosso redor nos olharam espantadas e eu nunca fiquei tão feliz por ter dito “eu gosto de você”.

10 de fevereiro de 2011

Noite clara.


Quebro a conexão entre nossos olhos e tento ignorar a atração que os seus lábios impõem aos meus. Mas não consigo fugir do desejo que ao se materializar em imaginação cora meu rosto tímido diante do seu olhar que me devora, que me tenta a ser devorada. Questiono-me se o ar-condicionado havia quebrado e logo noto que este desde o início se encontrava desligado devido ao inverno rigoroso que havia chegado há algumas semanas e que se via tão contrário ao verão que me fazia morada agora. Brinco com o dedo na boca do copo que há pouco você me convidou a beber e que ainda se encontra com mais da metade preenchida com Dry Martini. Você questiona se não irei beber e eu sorrio convidativo ao dizer que sim, sem pressa. Sem dúvidas que seria mais fácil nos encontrarmos entre lençóis se o álcool me roubasse os sentidos, e você sabia. Mas eu queria que meu corpo conversasse com o seu pela atração que atiçava os cinco sentidos e não pela bebida que entorpeceria os mesmos e tornaria turvas as lembranças na manhã seguinte. Você leu minhas entrelinhas e se aproximou ao notar o que causava em mim. Senti sua respiração no meu ouvido e suas palavras sussurradas trazerem um arrepio que percorreu minha espinha e levou-me à uma linha tênue entre ceder e resistir. Mas seus lábios encontraram os meus antes que eu pudesse avaliar a segunda opção. O cenário mudou junto à trilha sonora que de música ao vivo e vozes distintas ao mesmo tempo se tornou silêncio interrompido pelo som do nosso desejo. O teu gosto misturou-se ao meu até que eles se confundiram e não demorou muito para que nossos corpos também se encontrassem quase incapazes de distinção. A noite se fez clara e o amanhecer quase passou despercebido, se não fosse a realidade abrir-me os olhos junto ao sol. Enquanto vestia as roupas que há pouco se fizeram desnecessárias diante do calor irradiado pelos nossos corpos, te fitei perdido em sonhos, os quais muitos realizei. Escrevi-te um bom dia doce com números organizados do lado e atravessei a porta que me trouxe de volta ao mundo além de nós.

Das saudades de sorrisos.


"Se você ao menos partisse e se levasse inteiro, mas ficou tanto de você aqui, fazendo morada no meu lado de dentro."
(Gabriela Castro)

Nunca mais o viu. Nem mesmo em sonhos, como tantas vezes teve a esperança de encontrar. Mas sonho desde sempre foi indomável. Nunca o guiamos, ele sempre nos guia. E sendo assim encontrou mil pessoas em noites quase sem fim, entretanto ele, ainda que fosse encontrado em cada esquina de desejo do subconsciente dela, nunca fora visto. Ela não se lembrava mais da última vez que o vira, mas lembrava que não sabia que seria a última. E nesses dias de céu nublado e previsão de chuva interna ela vasculhava cada lembrança, revirava o baú de memórias e resgatava o melhor sorriso que ele a havia oferecido. O peito se encontrava pequeno demais nessas horas, mas o sorriso dele, ainda que apenas em mente, como de costume trazia paz aos descompasses do esquerdo. E recordando assim, dele sorrindo, sorria molhado, por saudade, por vontade. O tempo que passara desde o último sorriso seco fora muito, pois sorriso quando junto trazia estrela aos olhos e agora tão só via-se nublado com chuvisco silencioso, doloroso. E mesmo depois de assistir o tempo desfilar pelos dias e a dor acomodar-se até tornar-se amiga, sentia falta dele. Sentia falta do som da voz dele, falta das brincadeiras dele, falta do abraço dele, falta dos sorrisos dele e falta dos sorrisos dela, que desde a ausência do dele não brilhou mais.

Dedilhado numa noite onde a saudade, em gotas, marcou o papel.

7 de fevereiro de 2011

Tempo.

Flagrei-me com você em pensamentos a pouco e questionei-me se o tempo não era muito breve para te dedicar um carinho já grande ou ter um olhar especial aos nossos momentos. Mas não encontrei resposta diante as travessuras do tempo que desde o início vem brincando com a gente. Tornou-se inegável que você, ainda que em fragmentos, exista em mim. Seja em pensamentos, lembranças ou desejos. E te ter assim não é algo que quero que se perca ao avançar do relógio. Porque o que temos não esta no grupo dessas coisas que acontecem costumeiramente, que esbarramos em qualquer esquina. Essa sintonia não envolve qualquer beijo, qualquer olhar. Mas de repente nos envolveu. E eu me visto de receio, de medo em esperar o tempo passar e junto a ele passar o que vivemos. Medo de se perder o desejo mesclado com querer-bem, querer estar perto, junto. E medo também de não esperar e num impulso nos permitir. Medo de viver a coisa certa no tempo errado e esta conseqüentemente se tornar a coisa errada. Porque o que nos envolve agora é tão doce e bonito que me desperta o desejo de deixar crescer, para que não tenha fim. E embora eu tenha dito que tudo um dia acaba, eu queria que fôssemos a exceção. Mesmo que não agora, mas que nos cultivássemos um dentro do outro para um futuro não tão distante.

E quem de nós vai entender primeiro o que passou?
E quem de nós vai permitir que o tempo deixe a gente pra depois?
Não deixe o tempo decidir por nós
também preciso ouvir sua voz dizendo
que há tempo de ter tempo pra nós dois
o tempo pode desatar os nós
seremos como tantos outros sós
e o tempo vai levando os nossos sonhos devagar
pra outro lugar (Tempo Certo – Bruno Miguel)

4 de fevereiro de 2011

Sempre passa?.


Vai passar, todos sabem que vai passar. Talvez amanhã, daqui a um mês ou algum tempo. Vai passar. Sempre passa. Mas a euforia ainda está inquieta cá dentro, fazendo festa com as borboletas que fazem com que eu flutue feito pena, nas nuvens. Os sonhos parecem ter se perdido da noite e eu os tenho encontrado vagando pelo meu sorriso, em plena luz do dia. Fazia tempo que minhas pernas não ficavam tão tremulas e que meus lábios não perdiam a ordem de dizer as palavras, mas parece que este é o normal quando eles ficam tão próximos aos seus. E ainda tem essa novidade que não imaginei que fosse você que traria para mim, já que logo nos primeiros dias fez essa confusão doce aqui dentro. Mas você trouxe, com um sorriso e um olhar, aquela paz sonhada. E me fez questionar o impossível, já que nunca seria aceita a existência da tranqüilidade ao mesmo tempo em que existisse agitação. Entretanto foi assim que tudo passou a ser, emoção coexistindo com a calma. O meu desejo de te ter por perto se fez crescente desde então, e vez enquanto eu chego a sentir que só o perto já não é suficiente. Porque amanhecer com o seu gosto ainda na boca me faz imaginar como seria amanhecer com os seus lábios nos meus, sendo relógio e me convidando a acordar. E essa imaginação quer brincar de realidade, as coisas vão ganhando proporções cada vez maiores. Como se tudo fosse infinito vou perdendo a mania de contar as badaladas do tempo e fico sem saber até quando vai durar. Mas eu sei que isso tudo vai passar. Sempre passa. Embora dessa vez eu realmente esteja desejando que não.

3 de fevereiro de 2011

Seus olhos.

O meu pensamento tem a cor dos seus olhos, os mesmos que você duvidou que eu lembrasse sem saber que há muito já estavam gravados em mim. E eu tentei deixar para lá, jogado num canto qualquer da minha memória, mas sempre que busco sono no travesseiro a lembrança deles afasta qualquer sucesso em conseguir dormir. Sempre me volta à mente aquela primeira vez, quando eu verdadeiramente te olhei nos olhos. Era tão indecifrável. E assim, em seguida, me vem todas as outras vezes que eu te vi, que meus olhos curiosos buscaram os seus ainda tão misteriosos. Li seus detalhes, seus sorrisos, sua voz. Mas os seus olhos continuaram um enigma. Talvez fosse o pouco tempo que me era permitido olhá-los, já que em poucos segundos eu desviava o olhar quando você me olhava de volta. A velha história de evitar me perder, ainda mais nesse segredo que seu olhar guarda. E então me rouba a noite essa curiosidade quase infinita, essa busca incansável por decifrar o mistério escrito nos seus olhos castanhos-nem-um-pouco-sem-graça.

2 de fevereiro de 2011

Uma noite de você.


Agora, te olhando se arrumar tão distraidamente para mais um dia de trabalho, me perco entre lembranças dos nossos últimos instantes, que fora dos meus sentidos ocuparam uma noite inteira. O tempo tem dessas brincadeiras comigo, acelera quando me perco em seus braços e se arrasta quando sua ausência vem me fazer companhia. Mas talvez sejam só os meus sentidos dormentes ao externo quando sou envolvida pelo calor do seu corpo e entorpecida pelos seus beijos que desejo nunca terem fim. Como na última noite que teve como trilha sonora o silêncio de nossos lábios em longas conversas de nossos corpos, invadida por outra melodia apenas quando os sussurros faziam cócegas aos ouvidos. Não consigo resgatar da memória se chovia ou as estrelas invadiam o céu, meus olhos só registraram os seus detalhes. Assim como todos os outros sentidos, focaram apenas você. O mundo limitou-se aos seus contornos, aos nossos lençóis. E já acostumada a ter seus traços completando os meus, me doeu sentir a separação necessária já tão próxima. Como se toda a noite não fosse suficiente, não satisfizesse meu desejo de todas as noites e dias. E eu te observava tão distraído, gravando mais uma vez seus detalhes em mim, estes que eu iria relembrar quando o tempo viesse se arrastar para trazer uma nova noite de você, só para mim.

O início são os olhos.


Esse meu desviar dos olhos não é ausência de sinceridade em minhas palavras e atos, é apenas medo. E por medo eu fujo, dos seus olhos, de você. Há tanto, de tantos eu tenho fugido. Incansavelmente buscado desculpas por trás das quais eu me escondo, com as quais eu vou embora. E nessa fuga é necessário quebrar a atração dos olhares, permitir que as pálpebras se fechem antes que me perca na essência que os olhos guardam, antes que o motivo da fuga seja esquecido e inevitavelmente me destrua ao ser lembrado no final. Confuso, concordo. Mas o que não é confuso quando tratamos de sentimentos? Os olhos se encontram e a cada novo encontro atraem os lábios. O coração vai ganhando novo ritmo, a vida novos passos. A euforia domina seu estômago assim como a voz do outro acelera a batida presente em seu peito. Os sonhos abandonam a noite e passam a viver de dia, em seus pensamentos, feito realidade. Mas não são. Um dia, logo ou depois, a euforia dá espaço ao peito comprimido e os sonhos escapam pelos olhos até que sejam sentidos nos lábios em sal-realidade. Aquele sorriso que a pouco lhe roubava a face se faz oposto, contrário. E a dor se faz imensa, como nunca antes, te trazendo um sentir tão díspar ao ‘felizes para sempre’ dos contos de fadas. Então você passa a fugir do encontro dos olhares, onde tudo começou. Evita o envolvimento que trouxe como conseqüência a dor. E eu sigo assim, fugindo dos olhos que me cercam, que me fitam. Fugindo do início. Mas os seus olhos são os primeiros desde o fim que me trazem um início tão convidativo, tão fácil de aceitar. Vasculho as palavras e tento formar novas desculpas, dessa vez não para os olhos que me fitam, mas para os meus, que excepcionalmente não desejam ser fechados.

1 de fevereiro de 2011

Primeira e última carta para você.

Não posso mais ver você. Ver, falar, pensar ou qualquer outra ação que te envolva, que te traga para perto de mim. Distância. Preciso, mesmo que contrário ao meu desejo, impor esta entre nós. Não me entenda mal, eu gostei de você, desde o início, daquele seu sorriso, e esse é o problema. Você não percebe? Eu tenho olhos de apaixonada e ouvidos de criança. Quando meus olhos te fitam seus detalhes me ganham, me convidam a me aproximar de forma perigosa, me desafiam a atravessar a linha-amor. E quando sua voz canta palavras doces em meus ouvidos, eu me desfaço e acredito, com ingenuidade, incapaz de duvidar da veracidade delas. Mas minha razão adulta freia esse desconcerto que já roubou as batidas do meu peito, alertam a me afastar. Então eu vou indo, antes que eu passe a me importar com o seu bem estar ou procurar saber sobre os seus dias. Antes que seu nome seja mencionado muitas vezes em minhas conversas. Antes que acorde com vontade de te dar bom dia ou vá dormir com vontade de te dar boa noite. Antes que os dedos disquem automaticamente seu número ao querer escutar sua voz. Antes que te encontre no meu primeiro e último pensamento. Antes que eu não consiga mais ir embora. (Se isso já não aconteceu).

Adeus,
S.

Além dos cinco sentidos.


"É preciso mergulhar de cabeça,
para ver a beleza que está no fundo do mar.
A superfície é bonita,
mas as coisas mais incríveis
acontecem lá no fundo."
(Pérola Anjos)

Eu não quero só o que é visto, o que depende dos cinco sentidos para ser entendido. Quero ir além da superficialidade dos abraços, beijos e carinhos. Não que os momentos envolvidos por estes sejam desmerecidos, pelo contrário, sua importância se torna inestimável quando o assunto em questão é o amor. Entretanto não satisfaz minha voracidade, minha intensidade, meu querer sempre mais. Quero explorar os detalhes do outro ao ponto de ouvir as palavras mudas de um olhar, de reconhecer cada pulsar do peito, de ler as entrelinhas de cada sorriso, de desvendar os gestos. Quero que cada desejo tatuado em mim seja descoberto em lentas procuras. Quero que a insônia roube o sono e que me roubem a noite, o dia. Quero o encontro das essências que com o tempo vão se encaixando, se completando. Quero gravar o contorno da alma na qual a minha se moldou, se deitou. Quero que deixem de passar despercebidas as minúcias da rotina, que doce se renova sempre quando se percebe. Quero ir além do tocar. Quero o sentir.

30 de janeiro de 2011

Travessia.

Despiu-se de todos os medos em um ato súbito de coragem e ignorando qualquer fator externo ao presente seguiu até o início da ponte e o estendeu a mão. Nunca fora corajosa ou de bravura invejável, pelo contrário. Ela era dona de predicados banhados de timidez e rosa, que quase sempre a enfeitava as bochechas junto a um sorriso no canto dos lábios. Mas havia algo diferente naqueles olhos castanhos profundos, algo convidativo, encorajador. De tanto olhar se perdeu nas profundezas enigmáticas e envolventes, se esqueceu do mundo, dos ‘poréns’ e ‘todavias’. Seguiu com ausência de cautela nos passos, sorriu com confiança e o convidou para fazer a travessia, juntos. A ponte era longa, com pedras e buracos no caminho, seria difícil chegar ao outro lado ileso ou ainda sem ao logo do caminho considerar desistência. Mas ela oferecia apoio em caso de tropeços, cuidados em caso de quedas e amor, de imensidão sem fim, a cada passo, querendo em troca apenas o mesmo. Ainda que o amanhã fosse feito de incertezas, enquanto os dedos estivessem entrelaçados ela sabia (sentia) que doce seria o caminhar.

25 de janeiro de 2011

Entre sonho e realidade.

O calor do seu toque despertou um arrepio que percorreu-me a espinha e levou aos meus lábios um suspiro. O sono me abadonou. Permaneci com os olhos fechados buscando maior intensidade ao sentir seus beijos em minhas costas como leves carícias, sedutoras. O vento frio que envolvia minha pele trazia a necessidade de encontrar o calor da sua. Senti seus braços me puxarem para mais perto e em um impulso meu corpo se moldou ao seu, completando cada contorno. Com voracidade única meus lábios exploraram sua pele, buscando sua boca. As pontas dos dedos levaram carícias as suas costas seguidas pela intensidade que minhas unhas deixaram marcadas. Em sintonia sigular a química antes nunca sentida envolveu cada movimento, cada toque. Nos olhos se encontrou desejo explícito, registrado na forma intensa que eles fitavam os detalhes um do outro. O frio que há pouco se fez notar, agora se via ausente diante do calor irradiado pelos nossos corpos que se entrelaçavam, se completavam. Tendo a união como conseqüência inevitável minha boca, ainda que relutante, contrariou a atração que mantia o beijo e os dedos aos poucos foram se acalmando. Meu coração ainda acelerado se distanciou do seu pulsar tentando conter as batidas desconcertadas. O ar ocupou o que antes eram contornos completos e o calor foi se ausentando. A respiração voltava ao estado regular ainda que se fizesse oposto ao desejo que ainda se mantia escrito nos nossos olhares. Temendo o quase inevitável o sono foi ganhando espaço mais uma vez e tudo passou a se perder entre sonho e realidade.

Fragmentos seus em mim.


Decidi não escrever sobre você, ou sobre essa novidade contraditória que me ganhou quando olhei em seus olhos naquela noite quase nossa. Ainda que eu sinta tudo isso transbordar em pensamentos que perderam o fim, prefiro guardar cá dentro as linhas sobre seu sorriso, seu olhar, seu perfume, seu gosto. Ainda que o desejo caracterize-se como imenso quando trata-se de traduzir-te em palavras para te ter sempre à vista, tão meu, escolho guardar cada adjetivo, mesmo sendo muitos, em silêncio que agora ganha significado maior que as palavras que à ti nunca seriam justas, fieis. Então deixo que as palavras registrem apenas fragmentos do que você causou em mim, como o girar desconcertante da minha cabeça em movimentos nunca antes experimentados, quando o seu gosto dominou meus lábios e agitou o meu estômago. Da eletricidade única que passou lentamente do seu corpo para o meu em arrepios singulares. Da sintonia que envolveu cada toque, cada movimento. Da química que te traz em memória com gosto de quero mais. De como eu me perdi em você e esqueci do mundo, esqueci de mim…
Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, eram dois travesseiros.Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno.Não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor... (CFA)

13 de janeiro de 2011

De espetacular, nada tem o fim.

“Chegue bem perto de mim. Me olhe , me toque, me diga qualquer coisa, ou não diga nada, mas chegue mais perto.
Não seja idiota, não deixe isso se perder, virar poeira, virar nada.”

E tudo ganha característica volátil e vai evaporando pelo ar. Escapando por entre os dedos em minhas tentativas unilaterais de segurar, prender, evitar a perda do que por tanto tempo, ainda que adormecido, se fez meu, seu, nosso. Nosso. Soa-me estranho tratar esse sentimento em primeira pessoa do plural, já que esta há tanto se encontra ausente. Como em um abandono, você deixou um espaço vazio ao lado do eu e tudo permaneceu em branco, em lacunas. E essa luta por manter intacto no peito o que tantas vezes aos olhos trouxe brilho, se torna perdida antes mesmo do fim, no momento que o ar ocupou o lugar ao meu lado. O amor não se conjuga no singular. ‘Eu amo’ não se mantém por muito tempo quando feito sozinho. Assim o pulsar vai desacelerando, perdendo forças. A agitação borbolítica vai se desfazendo junto ao flutuar nas nuvens, que ao perder a leveza de um sorriso ganhou o peso da realidade. E sem você ao menos notar, aquele encanto tantas vezes comparado a magia vai perdendo o aspecto mágico, como um truque revelado. Sem cartas na manga, surpresas em cartolas e sem aplausos eu vou abandonando o espetáculo. Este que fora nosso, e agora em apresentação solo se encontra tão meu. Somente m-e-u. O show vai chegando ao fim.

9 de janeiro de 2011

27ª.


‘’I need to feel you here with me
When you're gone
The pieces of my heart are missing you
When you're gone
The face I came to know is missing too
When you're gone
The words I need to hear will always get me through the day
And make it ok
I miss you’’

27ª vez. Olhei para o visor do celular e o papel de parede me sorriu irônico mostrando-me nenhuma chamada (sua) perdida, pela vigésima sétima vez no dia. Nenhuma chamada, nenhuma mensagem. Nada. Suspirei. Joguei o corpo na cama e respirei fundo ao tentar conter os sentimentos inquietos. Fui embalada pelo triste vento frio que anunciava a fim do dia. Completava mais uma noite sem noticias suas, sem você irradiando calor contraditório a dona do céu negro. Levantei-me ainda envolvida pela ausência de sorrisos e busquei a lua na varanda. Nem as estrelas encontrei. Há pouco parecia tão improvável maior tristeza e agora esta me tomava os sentidos. Não encontrava nenhum pequeno elo que me ligasse a você, como o observar das estrelas que tantas vezes fizemos juntos e que agora minha imaginação se encontrava incapaz de fazer-me acreditar que onde estivesse estaria olhando-as e pensando em mim. Realidade, lembrei-me. Vigésima oitava vez. Busquei sinais teus no visor e senti as esperanças escaparem-me pelos dedos ao ver o mesmo sorriso irônico no papel de parede. Em um impulso digitei seu número e antes que a ligação se completasse vi a razão apagá-lo. Meu peito tem tido a necessidade de ao menos uma vez sentir as suas saudades ao invés das minhas.

7 de janeiro de 2011

Novos contornos.


Enquanto o sol penetrava a pequena fresta deixada pela cortina e ia iluminando lentamente a sua pele nua que repousava sobre os lençóis da cama, meus pensamentos se perdiam entre as tantas formas que eu poderia te amar, assim, ao mesmo tempo. Já não era novidade o impacto que cada toque seu causava em mim, tampouco a dor que a abstinência do mesmo trazia, entretanto se tornava mais claro a cada sorriso que nascia em meus lábios ao te olhar, que o sentimento havia ultrapassado as linhas do desejo, da pele. A aventura que fora nosso relacionamento no inicio me envolvera de tal forma que agora, com o sol já no céu, com o relógio badalando o dia, o sentimento adquiria contornos contraditórios à simples paixão. Não houve abandono carnal, este ainda acendia desejos, entretanto cedia o lugar principal ao som do seu riso, à sua respiração leve, agora, perdido em sonhos e às batidas do seu peito. E quando paro para pensar sobre essa novidade que vem ganhando mais espaço em mim, vejo que já me acostumei com sua presença ao lado esquerdo da cama, crescendo gradualmente em lado similar no peito. Que o corpo abandona a tensão em um suspiro ao sentir sua presença, como se fosse sinônimo de estar tudo bem ter você por perto. E admito gostar disso, de me apaixonar pelos seus detalhes e admirar os seus atos. De aos poucos me torna tua. Tão tua.

Ponto branco.


Olhava fixamente através da janela de vidro aquele ponto branco, ainda pouco maior que ela, ir diminuindo conforme se perdia por entre as nuvens. Transbordou-lhe do azul-céu após um piscar de pálpebras cansadas, uma gota transparente que levou-lhe aos lábios o sal. Engoliu um grito que ecoou seco no peito e perdendo de vista o objeto de observação, fechou os olhos deixando transbordar mais gotas do líquido salgado. Após quase um minuto, deixou o azul-céu enfeitar-lhe a face, ainda que apagados, e secou sem demoras a face encharcada de dor. Olhou mais uma vez o bilhete em sua mão, analisou aquelas três únicas palavras, guardou-as cuidadosamente no peito e, com quase igual cuidado, guardou o bilhete no bolso. Virou as costas para a janela e caminhou para fora do aeroporto encolhendo-se dentro do casaco. Embora a temperatura externa fosse agradável, sentia o inverno se acomodar por dentro. Sabia que teria que esperar o ponto branco se tornar maior que ela outra vez para trazer de volta o verão de abraços que acabara de levar embora.

6 de janeiro de 2011

Do que os humanos são capazes.

Está aí uma coisa que nunca saberei nem compreenderei — do que os humanos são capazes.
(A Menina que roubava livros)

Sem tremer as palavras, com suavidade e convicção, sem desviar o olhar e com os dentes enfeitando os lábios, são capazes de dizer, sem ao menos hesitar, mentiras que variam entre conseqüências de algumas lágrimas e abandono da vida. São capazes de deitar a cabeça no travesseiro e ser invadido por sono tranqüilo ainda que anteriormente tenham sujado a água do banho com sangue que impregnava o corpo que não pertencia, que de forma violenta tenha abandonado seu local de origem. São capazes de permitir que o ódio tome conta do corpo, das palavras, das ações. São capazes de ignorar os sentimentos alheios ao atingir com facilidade sem igual o egoísmo, o egocentrismo. São capazes de assistir o mal de camarote e preferir adaptar-se, acostumar-se ao fazer algo para mudar. São capazes de chorar compulsivamente enquanto um sorriso malicioso se esconde atrás do sal que percorre a face. E quando o medo veste-me o corpo ao sentir o quão ruins são capazes de ser, veste-me à alma a fé ao sentir a capacidade do bem. Ao ver que são capazes de se permitir sentir a contrariedade de amar incondicionalmente ainda que esta fira, magoe, e abrir mão da vida que lhe abita o corpo pela mesma contradição, sem pensar duas vezes. São capazes de abandonar a sua própria dor e ir cuidar da dor do outro em nome da amizade. São capazes de acreditar depois de ter o peito estilhaçado por falsas-verdades. São capazes de sonhar mesmo que ao amanhecer tenham que sentir a dor da realidade. São capazes de sentir as mudanças do corpo, as dores e ainda assim amar aquele ser que ao longo dos meses vai crescendo dentro dele, sem conhecê-lo. São capazes de perdoar mesmo que a ferida ainda doa. São capazes de ter esperança em meio às incertezas do amanhã. São capazes de buscar o bem enquanto tantos se acomodam e promovem o mal. São capazes de encontrar felicidade em detalhes, em sorrisos. São capazes de sorrir e rir enquanto a alma falece a cada lágrima guardada...

5 de janeiro de 2011

Falso-real.


“É triste quando pessoas que você conhece
se tornam pessoas que você conhecia”

Cacos de ilusão espalham-se pelo chão e uma foto no porta-retrato guarda uma imagem que não reconheço mais. Sorriso inventivo registrado num papel emoldurado, questiono enquanto me perco entre o que seria falso e real. As palavras que atravessaram seus lábios roubam-me a mente em medo. A facilidade de vestir mentiras em atos e palavras assusta. Torna difícil, quase, se não totalmente, impossível a inocência, a fé. E sendo assim, sem muito que fazer, sem haver no que acreditar, as mãos se abrem e permitem que tudo o vento venha levar. Linha tênue tantas vezes é do que se faz o falso-real, arrebenta-se com os leves assopros do tempo. E aquele que existia, ainda que em ilusão, ia se desmanchando pelo ar.

4 de janeiro de 2011

Que seja doce.


“Então, que seja doce. (...) repito sete vezes para dar sorte:
que seja doce que seja doce que seja doce...”

Que nesse ano o sorriso nasça na alma, reflita nos olhos e por fim enfeite os lábios. Que a sinceridade se encontre em cada palavra e em cada ação. Que o medo de ser feliz seja substituído por excesso de garra e determinação. Que o amor deixe de ocupar apenas o peito e faça morada nos atos, nos gestos. Que tristeza seja conhecida apenas através do dicionário. Que confiar seja possível, seja comum. Que o hoje seja enfim reconhecido como presente e não mais deixado para depois. Que as borboletas em seu estômago façam festa diariamente. Que sonhar alto tenha como conseqüência a realização do vôo e não do tombo. Que dor seja exclusiva à barriga, de tanto rir. Que água salgada se encontre apenas no mar e não nos olhos. Que ocorra o novo, o inovar, o inventar e o reinventar. Que haja vida e que esta seja doce.

“O Ano Novo, sempre vem. O FELIZ acontece por conta sua!”

26 de dezembro de 2010

Falta.

Para continuar vivendo, preciso da parte de mim que não está em mim,
mas guardada em você.
(Caio Fernando Abreu)

Transbordou-me um mar ao ver aquela primeira foto nossa. Ela estava guardando o seu sorriso bobo de quem odeia fotos e aqueles mil momentos de quando você fugia da minha câmera. Nada mais é o mesmo. E soa estranho dizer isso em voz alta. Faz-me sentir saudades das nossas tardes conversando sobre tudo e sobre nada. Dos nossos abraços de despedidas onde nossos braços tentavam evitar que o outro fosse embora. Dos nossos planos para daqui a muitos anos. E os bilhetes, que ainda tenho guardado no peito, que diziam que sempre estaríamos ali, um para o outro. E é ainda mais estranho sentir essas saudades. Pois eu nunca imaginei que escapariam do presente essas coisas tão nossas. Por tanto tempo fomos nós que ser eu e você agora, dói, dilacera as promessas, os planos, o futuro. A verdade é que me sinto perdida sem os seus braços me impedindo de ir. Eu não sei para onde ir. Por tanto tempo fomos nós que agora, sendo somente eu, é como se faltasse uma parte de mim.
Falta você.

E depois?.


Encarava as nuvens que lentamente iam mudando de forma enquanto delicadamente passava o dedo pela cicatriz no lado esquerdo do peito. Imaginava se ele seria tão inconstante como esses algodões-doces que enfeitavam o céu, capaz de mudar de forma com leves assopros do vento. E se fosse, se ela também seria capaz de ser, reconstruir-se após uma tempestade, como se não tivesse sido destruída. Trazia mais uma vez à mente as três palavras que ele guardou no fundo dos olhos dela, as oito letras banhadas em voz-veludo e timbre-canção e se perguntava se estas seriam mutáveis, inexistentes além de lembranças no amanhã. Se aquele sorriso doce que ele embrulhou com luz e deu de presente a ela poderia amargar em contato com fatores externos. E até mesmo se a corrente elétrica que percorrera o corpo dos dois naquele beijo que fugiu ao conceito do tempo, poderia se dissipar com o passar dos segundos inquietos. Embora a alma se agarrasse a cada resquício de amor, se via difícil a total entrega. A cicatriz lembrava a fácil confusão entre ilusão e realidade. E a dúvida sobre vida após outra queda se mantinha inalterável ainda que sobrevivência fosse garantida. Sobreviver é fácil. Manter o oxigênio entrando e saindo do pulmão. O difícil é sustentar vida. Pulsar do peito depois de uma parada cardíaca.

24 de dezembro de 2010

Quando você não vem.

“Porque se você não vem é como se o tempo fosse passado em branco, como se as coisas não chegassem a se cumprir porque você não soube delas. (...) E se você vem. fica tudo maior, mais amplo, sei lá mas é como se eu existisse dum jeito mais completo, compreende?” (Caio F. Abreu)


O dia torna-se sem graça, o sol se esquece de aquecer e a noite, banhada por lembranças nossas, mantém o sono distante impedindo que mesmo em sonhos possa te encontrar. Minhas ações seguem uma rotina automática interrompida apenas pelo pulsar desigual do peito a cada SMS da operadora ao destruir a ilusão de ser um ‘eu te amo’ seu. O desejo de te ter ao meu lado, com aquele abraço do tamanho exato, o sorriso que me rouba o ar, as palavras ao pé do ouvido e os seus olhos desvendando os meus, vai se tornando saudades que não cabem, que transbordam. Pelos cantos eu vou me encontrando com suspiros muitos e sorrisos bobos ao lembrar você. E em cada música com palavras românticas o peito vai comprimindo, ouvindo em memória o seu timbre a cada palavra de amor. Vou seguindo os dias assim, sem encontrar palavras para expressar esse sentimento urgente que te busca em cada parte do dia e lembrando você em segundos tantos que só posso acreditar que durante o dia todo não houve nenhum momento que minha mente tenha se perdido de ti. Resumo-me, então, em um desejo único de estar envolvida no seu abraço, outra vez, te sussurrando: ‘quantas saudades, amor’.

22 de dezembro de 2010

Mais um ano.






Sentaram-se na areia perto do mar conforme anos atrás. Ele envolveu a mão dela em carícias que não perderam o calor singular com o passar do tempo e em resposta ao arrepio que surgiu nos dedos e percorreu o corpo inteiro, ela sorriu. Os cabelos dele, outrora cor-de-sol, estavam ganhando tom grisalho e a face refletia os anos em marcas da vida, entretanto os olhos porfundo-mar, há tanto desvendado por ela, mantinham a mesma luz que vinha iluminando a vida dela. Por outro lado, ela possuía ossos menos fortes e sorrisos que marcavam os cantos dos lábios e olhos, entretanto guardava em similar batida o pulsar do peito, que há muito vinha sendo a trilha sonora da vida dele. Anos haviam se passado desde a primeira noite que fora deles, mas a magia que os envolvera e os unira naquela época não. Olhavam-se com o mesmo amor que os enfeitara a face há tanto, enquanto deixavam-se dominar pela felicidade de compartilhar a companhia um do outro na noite que marcava mais um ano de muitos.

Não mais.


- Você não vai voltar?
- Não.
- Por quê?
- Não tem mais vida lá.
- Como assim?
- Brilho nos olhos, sorriso nos lábios, madrugada clara, palavras no silêncio, toque quente, arrepio frio e o pulsar do coração. O coração não pulsa. Não mais.
- Então antes ele pulsava?
- De tal forma que o peito parecia explodir.
- E não há como recuperar isso?
- Acho que não. Eu ainda lembro, mas não consigo resgatar o que vive na memória, o que eu não sinto mais.

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