Todos os textos deste blog são de minha autoria, quaisquer textos, frases, ou expressões de qualquer outra pessoa, virão em itálico ou com créditos.

29 de setembro de 2010

O tal amor.

Começa sem nome. Incerto e imensurável. Vai ganhando forma, traçando contornos e conquistando espaço. Sempre imperceptível. Faz nascer uma necessidade mútua pela presença alheia e tantas outras coisas inominadas também, entretanto com intensidade quase, se não igual. E então toma conta, se mostra presente, invade os olhos com um brilho novo. Explode um conjunto de sensações deliciosas. Amizade. Nomeiam-no assim quando se encontra no início. Pois é forte e toda e qualquer pequena coisa se torna satisfatória. E é simples. A amizade se faz tão doce quanto simples.

O tempo, como de costume, vem e consigo traz fala ao peito. O coração aprende a sussurrar, traduz em batidas os sentimentos, às vezes tão intensos encontram somente no grito a saída. E o coração grita. O antes inominado ganha características vitais, se torna voraz. Perde o nome amizade ao deixar de ser simples, se torna algo mais, a mais, demais. O corpo tenta esvair-se dele com palavras, gestos, lágrimas. Entretanto tudo se encontra assustadoramente interminável.

Enfim encontra-se um nome fixo. Este tão forte que certas bocas temem pronunciá-lo. Amor. Demasiado amor. Mais incerto que nunca, já que seu conceito indefinido e camaleão trazem amplas características. Torna-se capaz misturar amizade e paixão. E as estruturas desmoronam, desandam os contornos antes formados. Tudo se torna uma bagunça. O amor se faz tão belo quanto confuso.

E tudo deixa de existir ao nosso redor para existir dentro de nós. Embora confuso, desastroso e voraz, todos querem sentir. E querem muito. Todos querem desesperadamente essa falta de sentindo, busca interminável por sei lá o que. Aquela felicidade lá, inalcançável, proporcionada pelo tal amor.

28 de setembro de 2010

Oculto.


O relógio se arrastava com intensidade maior que a de costume. O tic-tac tantas vezes repetido mostrava-me o quanto se passara enquanto eu permanecia, entre mil pensamentos, olhando o teto do meu quarto. O sono não vinha, ainda que um breve cochilo tivesse me envolvido e trazido ele para tão perto de mim. A necessidade do calor do seu toque consumia-me da mente ao peito, até em sonhos. Entretanto a realidade infeliz banhava a ilusão de tê-lo em solidão inerte. Pois em oposição ao meu olhar, o dele cintilava estrelas pertencentes a outro alguém. Trazia dor ao meu peito sonhador, que masoquista, não desistia de sentir por ele tudo o que podia sentir. E ao não resistir à sedução dos sentimentos, eu suspirava em silêncio. Mas o amor oculto é belo assim: possui o charme tantas vezes maior por não ser revelado.

27 de setembro de 2010

Dê um tempo.

Desde quando você aprendeu a falar a razão ficou de lado. Meus pensamentos viraram servos de seus desejos, tantas vezes inalcançáveis. Os planejamentos se tornaram lendas com sua imprevisão previsível. E o entender foi substituído pelo confuso e irracional sentir. Você desandou tudo aqui dentro, balançou o que há tanto parecia inabalável. E ao meio de tropeços trouxe o amor para dentro do peito. Acolhi sem escolhas, o vício seu. Sim, vício. Pois tal sentimento em ausência dói, induz loucuras, faz buscá-lo sem fim. E ultimamente dói com intensidade esmagadora. Dê um tempo, por favor. Abandone, mesmo que momentaneamente, suas aventuras. Não se arrisque mais tanto assim pulando de penhascos. Não vê que já estás todo ferido e remendado? E que estas suas loucuras não ferem somente a ti? Sua inconseqüência de sonhador não traz tantas felicidades que mereçam esse vazio que suga sorrisos. A realidade, oposta aos contos de fadas, não se alimenta de sonhos, de amor. Dê um tempo, coração.

26 de setembro de 2010

K.T.

"O amor é uma coisa feia e terrível praticado por tolos e um dia ele vai te pegar e quando isso acontecer ele vai pegar seu coração e vai deixa-lo sangrando no chão e agora você me pergunta,o que eu ganho no final? Nada alem de algumas incríveis lembranças que não se esquecem. A verdade é que haverá outras garotas quer dizer, assim espero, mas você nunca terá esse primeiro amor novamente, esse primeiro amor sempre será ela." [Filme ABC do Amor]

Assim que as palavras foram lidas me remeteram diretamente a você. Vieram aquelas mil lembranças, doces e amargas, e um mar que me transbordou a alma, os olhos. E tantas palavras nasceram em mim, tanto sentimento contraditório, que eu permaneci em silêncio e guardei tudo. Como venho fazendo desde que o que era amor se tornou dor.

(Por que esta doendo? Logo agora que eu tinha certeza que o mar havia secado...)

No piso frio há solidão.

O golpe foi de surpresa, impiedoso. O sono fugiu e a noite se preencheu de agonia, a consumia. O pulsar abandonou o peito que transbordava dor. O silêncio tomou os lábios que desaprenderam a sorrir e prenderam na garganta um nó-grito. A chuva que pedia licença aos olhos, embora não fosse atendida se encontrava mais forte a cada dia. As expectativas se amontoaram com o passar do tempo, formaram uma pilha e depois uma montanha. Entretanto a sustentação amor era tão ridícula quanto forte. A decepção veio junto ao vento, levou-a ao chão. E lá, no frio que a acolheu, ela permaneceu deitada, sem forçar para levantar e com medo de cair de novo.

"É, a vida vai nos endurecendo. A gente nasce livre, puro, ingênuo, acreditando. Tomamos uma, duas, três, vamos colocando um capuz, um escudo, uma armadura. E salve-se quem puder. E consegue chegar quem deixarmos. O fato é que estou com medo. Medo da gente. Pânico da capacidade que as pessoas têm de andar lado a lado com a maldade. Medo de viver num mundo imundo como o nosso. Pobre de valores. Pobre de espírito. Podre de coração." (Clarissa Corrêa)

25 de setembro de 2010

No último segundo.


Ela havia conhecido e vivido sentimentos diversos. Havia sentido transbordar os olhos, sugar-lhe o estômago, asfixiar os pulmões, conflitar a mente, roubar-lhe a língua e até explodir o peito. Comprovou a existência de cada sentimento, dos mais vaporosos aos mais intensos, em si. Entretanto nunca havia encontrado a existência, mais breve que fosse, do tal amor em qualquer lugar além das palavras alheias. Duvidava, portanto, de sua veracidade. Claro que a paixão por tantas vezes fez morada e tomou seu corpo e alma, mas nunca nada que se comparasse aos adjetivos aplicados aos românticos Best-Sellers. Então, com amores de esquina preenchia o peito e a cama. Dava-se por satisfeita. De repente, porém, numa rua sem esquina encontrou brilho nos olhos que encantaram a alma. As letras, palavras dos livros, ainda a pouco desacreditados, ecoaram em sua mente. Sentiu o estômago revirar de forma inédita assim como o coração, desde sempre estagnado. O conflito interno, tão novo e renovador, fora demais para lidar e perdendo a ação fugiu. Correu até seus pés implorarem por descanso. Parou. O pulsar descontrolado no lado esquerdo desnorteava a visão e desconcertava a respiração. Ela não havia percebido onde estava até que o caminhão com faróis altos se encontrasse em sua frente. Naquele momento ela não vira sua vida inteira passar em um flash, nem as coisas em sua volta ficarem em preto e branco, tampouco tudo se passar em câmera lenta. Naquele momento sua mente se fixara naqueles olhos de brilho que encantaram a alma e no último segundo de vida sentiu percorrer suas veias a certeza de que o amor existia.

23 de setembro de 2010

Ficou na memória.



Sorrisos memoráveis, suspiros intensos, inversão que se completava, olhares marcantes, história gravada, caminhos opostos. Era assim que ela os definia. Um amor que ficou em saudade e ainda aquecia a memória. Lembranças guardadas em caixas úmidas e uma chave que mesmo propositalmente perdida nunca esquecia o caminho de casa. Dias perfeitos que o tempo levou. E o que restou foi um adeus, que ao sair pelos lábios deixou um gosto de quero mais que nenhum outro gosto se fez capaz apagar.

Dentro dela os sentimentos recebiam reticências,
embora aquela história há tanto já tenha recebido um ponto final.

22 de setembro de 2010

Querido D,.

É impressionante a forma com a qual nos identificamos, nos re-descobrimos. Digo re-descobrimos, pois só nos vimos como realmente somos depois de tanto tempo como aquela imagem inversa cegando os olhos. E então, quando o nevoeiro se desfez de nossos olhos, o carinho teve espaço para surgir. E hoje sempre que penso em você, me recordo que envolvida em seus braços o frio não me atinge. E acabo por relacionar-te com segurança, proteção. Todas as vezes que estivemos juntos, até por palavras em frente ao computador, foi assim que me senti: segura. Tua amizade nasceu em mim de forma incrível e hoje é tão nossa que sinto que ninguém nunca poderá tirá-las de nós. Esta mesma que se reflete em sorrisos constantes sempre que ouço sua voz, suas imitações, piadas, ou qualquer outra coisa que venha de ti. Você me faz um bem imenso que tempos atrás eu nunca imaginaria. Mas dizem que é assim mesmo, o amor é surpreendente. E hoje eu posso lhe dizer sem equívocos que eu te amo e demais. Porque não só as minhas manhãs, mas todos os meus dias se tornariam vazios sem tua presença, sem teus sorrisos. E assim, parando para pensar nos momentos que compartilhamos a companhia um do outro, a felicidade me toma por inteira. E nasce, então, uma vontade inexplicável de te abraçar mais uma vez e dizer que, com intensidade sem igual, você já existe dentro de mim.

“Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou - amigo - é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é." (João Guimarães Rosa)

Com amor,
S.

Já era amor.

Antes do início, antes mesmo de ser, ele já existia dentro de mim. Já era o meu sol para dias limpos e chuvosos. E embora eu tentasse, eu buscasse palavras para explicar o porquê de nascer um sorriso em mim sempre que havia um nele ou uma lágrima sempre que o sorriso se ausentasse de sua face, eu me via sempre em silêncio me perdendo em seus olhos e admirando sua alma. E assim, enquanto eu me distraía com sua beleza incomparável dos dois lados, o amor foi nascendo em cada parte de mim. Dominou-me. Criou raízes no peito enquanto se alimentava do brilho que ele colocava em meus olhos. Eu me apaixonei. Eu me apaixonei pela amizade, pela segurança, pela sinceridade, pelo coração, pela beleza da alma. Eu me apaixonei por ele. Por tudo que significávamos um para o outro. Por tudo que tínhamos para viver. De tal forma que a eternidade se fez pequena e sendo assim me apaixonei além. Não importava mais os dias, as noites, o tempo, os detalhes externos a nos. Já era amor no antes, no durante e no depois.

21 de setembro de 2010

[Re]nascer.



Ainda havia fios de luz daquele sorriso suave rondando minha mente inquieta, involuntária. O desejo crescia no peito devido ás lembranças que o alimentavam. Embora as marcas antigas ainda se encontrassem em cicatriz entreaberta, o corpo clamava pelo calor vindo daquele abraço de seguranças falsas. A dor ainda habitava as veias, corria e corroia, lembrava-me do tombo, dos cacos. Entretanto a acidez do beijo roubado queimava-me os lábios, trazia seu nome, trazia mais desejo. O copo de água entre minhas mãos tremia assim como a confusão que se formava aqui dentro, que nomeada terremoto derrubava as caixas de sentimentos antigos e revirava as fotos em memória. O pretérito tentava reorganizar as letras, reescrever-se em presente. Havia uma linha tênue de esperança iludida re-costurando o que há tanto havia sido rasgado. Eu me via perdida, entretanto com a certeza de que o que [re]nascia era tantas vezes mais intenso e mais forte que os últimos anos de sólida e impenetrável proteção.

20 de setembro de 2010

Ficou aqui dentro.

O calor do seu abraço ficou gravado em saudade na minha memória. Faz frio aqui dentro, mesmo com as lembranças queimando. Quando achei nossas fotos, há tanto guardadas, eu fechei os olhos, não porque não queria te ver, já faz tempo que tal desejo me consome, mas porque dói indescritivelmente o que fomos e não somos mais. Você abriu a porta do apartamento e a atravessou, entretanto esqueceu-se de ir embora de dentro de mim. Você se ausentou das palavras, do toque, do olhar, do som, do perfume. Os sentidos se tornaram dormentes, mas os sentimentos se fizeram mais vivos que nunca. Então, desde o fim passei a te sentir com intensidade inédita, que me movimenta e que ainda que eu negue me faz buscar você. Sejam em lembranças, sonhos ou outros sorrisos. E mesmo que eu tente enganar os de fora, a verdade bate aqui dentro dizendo que sorrisos novos nunca serão tão doces quanto os seus antigos.

15 de setembro de 2010

Amor perdido.

Ela era jovem, com olhos azuis afogados, cabelos longos, sorriso fugido, e extremamente encantadora. Estava sentada no banco da praça com os braços envolvendo um ao outro, como se faltasse alguém para dividir o abraço. A coluna se curvava, como se houvesse uma dor pesada demais sobre os ombros, a mesma que refletia em sua face. Era quase impossível vê-la assim, irradiando sofrimento. Cheguei receosa e sentei-me ao seu lado esperando que, de alguma forma, a minha companhia aliviasse o peso sob seus ombros. Após alguns segundos em silêncio me atrevi a perguntar o que lhe roubou o sorriso. Tal crime deveria pegar prisão perpétua.

- Eu perdi algo importante, aquilo que dá sentido a vida. O amor, conhece?

- Não.

Então eu me levantei, levando um pouco da tristeza dela e uma nova que nascia em mim.

'Pensei em voltar, mas depois da despedida voltar
é quase tão mais doloroso do que ter que ir.'
( inspirado em Where is the love? - mais amor, por favor)

12 de setembro de 2010

Com olhos de amor.


A banda preferida, que marcara o início deste amor, ia tocar naquela noite. Os ingressos estavam em mãos, o sorriso nas faces e a felicidade no ar. Os dedos entrelaçados curtiram cada segundo, sentiram a intensidade do sentimento a cada pulsar do coração. Os corpos vibraram, as vozes cantaram, os lábios se encontraram. A lua brilhou ofuscante perto do brilho de seus sorrisos, tão alegres. A noite se fez inesquecível como tantas outras onde a companhia do outro se fazia presente. Voltaram para casa juntos ao sol, cansados de tanta felicidade. Deitaram na cama há tanto feitas de amor, se amaram e dormiram até o entardecer. Ele acordou primeiro. Olhou para ela, que estava com cabelos bagunçados e maquiagem borrada, e abriu um sorriso inédito. Ela sentiu o olhar dele a queimar a pele, abriu os olhos e corou ao sentir a alma despida embora o corpo se encontrasse em igual situação. Ele havia acabado de perceber que queria passar todos os dias de sua vida com aquela mulher, que mais bela nunca havia visto.

Fome de presença.

O peito ardia em saudade e os óculos feito noite escondiam os olhos inchados pelo rio que levaram ao travesseiro na noite anterior. Mesmo com a certeza do encontro de mais um abraço o coração reclamava a solidão imposta pela distância. Não ter o calor do carinho dele fazia com que os dias não tivessem acontecido, passados em branco-frio. Então vinha a ansiedade dominando cada momento, fazendo-a querer acelerar o tempo que arrastado passava por entre os segundos e minutos. E o silêncio que ocupava o lugar da voz sobre o amor que não chegaria aos ouvidos dele. Os olhos buscavam no céu estrelas que substituíssem o brilho do seu olhar. No radio tentava sintonizar uma estação que trouxesse músicas aveludadas como o timbre único de sua voz. E não importava o quanto ela comesse, o vazio permanecia firme dentro dela, ou o quanto ela buscasse distrações, a dor pulsava em cada lembrança. Era necessário sentir o toque suave de suas mãos para que tudo fosse envolvido em paz. Era necessária sua presença para ausentar a fome inquieta da alma.

9 de setembro de 2010

Eterno erro.

Ela molhava o pincel na tinta negra, que refletia uma realidade presente, e atacava sem pena as paredes cor de rosa de seu quarto, que a pouco refletiam uma doce ilusão. Entre escuridão que nascia a cada pincelada e a desilusão que a devastava o peito, transbordou os olhos em dor, arrependimento, desamor. Sentou num canto do quarto, antes refúgio para sonhos, abraçou os joelhos e deixou o sofrer, proporcionado por ela própria, percorrer o corpo inteiro. A alma já estava tomada, dilacerada, incapaz de se reconstruir. Aquela certeza que por ser com ela jamais aconteceria sumira em segundos, deu espaço a decepção, vergonha. A imagem do quarto frio, roupas brancas, abraços de consolação a preenchiam a mente, só aumentavam a angústia. Surgiu o desejo da presença dele segurando sua mão e sua voz macia lhe dizendo que ficará tudo bem, entretanto só encontrava ausência a envolvendo. Questionava então. Se era amor não deveria haver preocupação? Se era amor não deveria afastar seus medos? Se era amor não deveria durar para sempre? Resumia tudo em ilusão, então. Mentiras fantasiadas de verdade a enganaram e hoje pesava através do erro cometido, do arrependimento que não se esvaía. A realidade se fez vista pelos olhos, feriu, magoou. Mostrava-a que agora teria que aprender a conviver com a angústia, com o medo e com a dor. Pois o erro se fazia presente dentro dela, invisível aos olhos, entretanto percorrendo seu corpo inteiro dilacerando, mostrando presença até seu último suspiro. Intruso que a cada segundo Arruína, Invade, Destrói, Subtrai e não se esvai.

O amor a transformou.

Ela não conseguia olhar o mundo da mesma forma. As luzes se encontravam apagadas e só se via escuridão. Tão inverso ao brilho presente em seus olhos antes do amor, que refletiam luz-vida. Hoje a verdade era lenda para ouvidos acostumados com palavras enfeitadas com falsidade. Os lábios antes doces se banham em similar amargura de falsas verdades, agora ríspidos aprenderam a ferir. As mãos que traziam carinho na ponta dos dedos se encontravam calejadas, cortadas, apedrejando antes em tentativa de defesa, sendo a melhor: o ataque. Os pés que tinham passos lentos e descalços em busca de sentir o máximo agora corriam silenciosos, evitando superfície de contato, evitando a dor trazida pelos cacos de desilusões espalhadas pelo chão. E no peito ela trazia um abismo sobras-de-amor que traduzia um infinito, pois quando o coração chovia as gotas pareciam nunca encontrar um fim e permaneciam caindo, caindo, caindo...

Talvez não fosse o amor que tivesse transformado-a
e sim a forma do ser humano amar.

Em silêncio.

E eu descobri que o amor é imprevisível. Quando eu acreditava que nada mais podia fazer este coração pulsar, depois de tantas mortes-amores-cardíacas, ele acelerou descompassado com a sua forma de sorri. E depois daquele êxtase de amar, veio o medo de fazê-lo. Já gritei tanto ao vento a ação amar presente em mim e este por vezes trouxe furacão até arrancar o amor enraizado, que resolvi amar-te em silêncio. Calei, sufoquei, guardei. E mesmo assim ele cresceu desesperado em mim, transbordou o peito, os olhos, a alma. Dei espaço, sem saída, para que percorresse o corpo inteiro e cultivasse sorrisos. Ele foi além e trouxe lágrimas, palavras, outros tantos sentimentos. Eu tentei abandoná-lo, mas meu coração se afeiçoou com a forma que ele o fazia dançar. E até hoje tento me adaptar a essa montanha russa sem fim, e vou deixando, ainda calada, ele te amar mais e mais.

Um dia eu deixo os lábios te contarem em um beijo,
o tanto que, em amor, você existe em mim.

[Des]equilíbrio.

Eu já nem sei mais quanto tempo faz de tanto que já se passou, mas tudo parece ser atemporal. Ainda sinto queimar-me a boca o teu gosto ácido, delicioso em tardes de chuvas e noites sem fim. Ficou marcado, guardado e impossível de esquecer. Mesmo que em outras luas eu tenha buscado novos sabores, nenhum se fez capaz de tirar o seu de mim. Eu ainda me encontro presa ao seu abraço, envolvida em sentimentos que há tanto venho tentando expulsar e o coração acolher. Entramos em guerra, mal nos falamos. E eu fico assustada. Antes de você eu não era assim. O coração me acolhia antes de tudo e hoje vejo-nos em pólos opostos. Você virou-me de ponta cabeça ao olhar-me a alma e eu me desencontrei por dentro ao te ver sorrir. Entretanto o ritmo presente em seu peito mantinha um equilíbrio, trazia uma órbita, colocava tudo em seu lugar. E de repente o ritmo cessou. Permaneceu essa desordem e busca insaciável por uma nova melodia, até encontrar a sua outra vez.

5 de setembro de 2010

Traiçoeiro.


Então é assim que funciona. O tempo foi perdido. Gastei-o com mil palavras em frente ao espelho e cem pensamentos sobre como agir entrelaçados a incontáveis gestos e o que não fazer, não falar. Tudo em vão. Você sempre me puxa o tapete, não é mesmo? Sempre traiçoeiro, cheio de manha e sem nenhum às na manga para me ajudar. Faz o que quer e quando quer, com aquela habilidade aperfeiçoada de meter os pés pelas mãos. Resolve ter amnésia e trazer gagueira aos lábios na hora H. O discurso estava pronto, detalhado em palavras e ações, e você joga-o fora sem mais nem menos usando a tal improvisação. Faz-me corar, trocar as letras, agir errado, sorri de nervoso, tropeçar. Maquiavélico, sem escrúpulos, idiota. Mas não vai ficar barato. Um dia eu arrumo um jeito, levanto poeira, bagunço o peito e te tiro daqui de dentro, coração.

Foi e é inexplicável.

Éramos primos de sobrenome e amantes virtuais. Você conheceu parte de mim antes jamais revelada e acredito que tenha te visto também além do que muitos viam. Construímos aos poucos uma história, nossa. E admito ter rasgado o nosso livro. Em um dia havia aquele carinho mútuo, amor arrisco dizer, explosão de sentimentos gostosos de sentir conectados em conversas que apagavam o tempo e qualquer fator externo a nós. No outro, por culpa inteiramente minha, os sentimentos permaneceram com ausência das conversas e soma de outros tantos opostos, invertidos. Eu havia quebrado algo único entre nós, em você. De tal forma, que os cacos se viam perdidos e irreparáveis. Eu fui embora. Eu não me perdoei. Mas eu fui. O sol se pôs e nasceu algumas vezes. Tive mil e um motivos e nenhuma justificativa para não ter levado a ti minhas saudades, minha vontade de te ter em meus dias. Tornei-me responsável por qualquer e toda mágoa que nascesse em você, sem direito às reclamações ou revogações. Entretanto, mesmo sem chegar aos seus ouvidos, eu senti sua falta. E nas inúmeras vezes que eu te procurava em lembranças, mesma que doídas por serem apenas lembranças, eu gostava de imaginar que de vez enquanto você também se lembrava de mim. Que de certa forma, mesmo que em um canto qualquer, eu me encontrasse em sua memória. Doeria mais pensar que havia sido esquecida, mesmo sem merecer qualquer lembrança. E eu permaneci assim: oculta. Até que a fome de presença se fez devastadora demais e levou-me a te procurar em cada canto além de dentro de mim. Não te encontrei e senti a felicidade me escapar por entre os dedos. Culpei-me e não me perdoei. Havia aberto mão dos sorrisos mais belos e o ponteiro do relógio se recusava voltar atrás. Entretanto o mundo, como de costume, dá voltas e o inesquecível não se rendeu ao tempo. No acaso de um momento qualquer te achei sem procurar, como a borboleta que tão caçada somente na desistência da caça pousa no ombro de seu caçador. Tivemos uma nova chance para deixar a felicidade surgir. Um novo começo. E eu só não queria que nós tivéssemos um fim, não dessa vez. Que esse re-começo durasse até o último suspiro, e se pudesse além. Porque eu sinto algo inexplicável por você, misturas e soma de sentimentos que eu só poderia qualificar como amor. É... Depois de tudo, além de tudo e com tudo eu amo você.

Talvez eu seja só um novo amigo
Talvez eu queira te levar comigo
Para bem longe daqui
Onde nem o céu seja o limite
(Drive – olhando para você)

4 de setembro de 2010

Por trás das minhas palavras.

- Por que você gosta tanto de mim?

(Por esse sorriso seu, que faz nascer um em mim e o qual eu poderia passar horas olhando sem cansar. Pelos seus olhos cor de alma leve e bonita com brilho cor de purpurina felicidade, esta mesma que você joga por onde passa, aonde chega. Pela segurança que seu abraço traz. Pelo ritmo no seu peito que se encaixa com o presente no meu. Pelo seu esforço de ser sempre mais, mesmo já sendo tudo para mim. Pela minha vontade louca de ser tudo para você. Pelas madrugadas acordadas jogando conversa fora, trocando beijos e ganhando risos. Pelo seu cafuné gostoso. Pela sua presença até em ausências. Pelo seu nome que insisto em rabiscar, mesmo que involuntariamente, em meu caderno acompanhado de corações duplos. Pelos sonhos que você fez nascer em mim e pelos tantos outros que você realizou. Pelo seu perfume gostoso que fica impregnado em minhas roupas, cama e memória. Pela sua forma de respirar, de me beijar. Pelo gosto do seu sorriso, doce. Pelo mundo que some quando você está aqui, por ele sempre sumir. Pelo tempo que se torna pouco e vadio, pois nem sendo eterno saciaria esse desejo de te ter por mais e mais tempo. Pelo amor, tão belo, que nasceu em mim e se entrelaçou com o presente em ti. Pelas palavras não saberem explicar o porquê e mesmo assim se tornarem infinitas em qualquer tentativa de fazê-lo.)

- Eu não sei. Só sei que gosto.

Inesperado amor.

A noite engolia as estrelas e até a lua se recusava a brilhar. O vento trouxe pela janela uma solidão fria que a arrepiou a pele. A tristeza umedecia o lado de dentro e levava um sorriso inverso aos seus lábios. Os sentimentos gritavam de tal forma que a roubava a voz. Ela tentou fugir pela porta do carro, mas precisava de uma porta pela qual expulsar os sentimentos que sufocavam a alma. Vagou pelas estradas com ausência de luz fora e dentro de si. Encontrou um bar em uma esquina, desejou afogar dor em álcool. Depois de alguns copos descobriu que ela sabia nadar. Esvaziou-se, então, em lágrimas. O sino da porta do bar de bebidas incapazes balançou, fez música. Ela olhou, mas as lágrimas traziam neblina à sua visão. Virou-se, tomou mais uma dose embora o estômago reclamasse. Talvez uma dor maior a fizesse esquecer-se da outra. Virou de uma só vez.

- Calma. Assim você vai se afogar. – disse uma voz masculina irônica, atraente.

Ele não sabia que há tempos ela vinha se afogando, embora a morte não chegasse ou a dor se esvaísse. Ela o ignorou sem escolha, as palavras não estavam sóbrias. Ele insistiu.

- Talvez você precise de um bote salva-vidas. Que tal um café?

Ela o olhou. Como desejava que um café fosse suficiente para salvá-la desta tempestade que havia dentro do peito.

- Se um café resolvesse problemas, todos teriam seu próprio cafezal. – ela o atacou. Apenas estava descontando em alguém a bagunça causada por ela própria.

- E se bebidas fizessem o mesmo, todos teriam sua produção independente. – ele devolveu, com um sorriso no canto dos lábios.

Ela levantou e sentiu sobre suas pernas a dor pesar o dobro. Repensou e por fim aceitou.

- Um café. Nada mais.

Ela esperava um café. Tomou duas xícaras, encontrou a porta da alma, expulsou toda dor e encontrou um
novo amor.

2 de setembro de 2010

Bagunça interna.


Aqui dentro há uma confusão tão grande que eu me perdi entre passado, presente e futuro. Palavras contradizendo sentimentos, sentimentos contradizendo momentos e o coração padecendo em meio tanta contradição. Como eu faço o peito expulsar os antigos sentimentos se os novos não trazem sorrisos e mesmo assim buscam espaço, morada, faz o peito quase explodir? Sem falar do choro guardado, que tenta sair desse conflito asfixiante e é preso por sete chaves. Há alguns dias existia uma paz imensa e por motivo que desconheço, ela se inverteu. A mente bate na porta do peito, pede tempo, promete re-organizar as coisas que o coração sempre faz questão de desarrumar. Talvez ela esteja certa, deixar o coração de lado e arrumar um tempo dê jeito na falta de espaço e no excesso de sentimentos. Talvez não mude nada e acabe explodindo de uma vez. Talvez o que eu precise seja certezas e não essa dúvida que sobra.

Agora, estou sóbria.

Eu quis te dar abraço, colo. Tolice, você não precisava. Você não precisa. Se a sinceridade envolver minhas palavras direi que quando percebi, quando me dei conta do dejavú, eu perdi parte, grande parte se não todo, do chão que eu pisava com os dois pés, embora houvessem me avisado para manter um pé atrás. O coração gritou e a alma triste quase percorreu minha face. Mas eu vou maquiar mentiras nas palavras, vou imitar você. Nunca me envolvi, senti, sorri ou chorei. Os lábios te dirão apenas que gostei um pouco do passatempo que fomos. Mesmo que por dentro sinta o peito revirado por magoa e raiva, por ter deixado nascer tantos sentimentos e renascer tantos outros. Incrível o poder das palavras, oras te acariciam e outras te machucam como uma bofetada. Mas o tempo virá como sempre vem, com cola para juntar os cacos perdidos e brisa leve para secar as lágrimas. Enquanto isso, colocarei no último volume músicas que me lembrem outros e qualquer alguém, deixarei que ela me entorpeça, afogue o amor frustrado e mate toda a raiva que eu sinto, pois sinceramente nem isso você merece.

I used to be love drunk, but now I'm hangover
I love you forever, forever is over (…)
Now I'm sober (Boys Like Girls – Love drunk)

1 de setembro de 2010

Carta II.

Rio de janeiro, 2 de setembro de 2010.

Querida Pâm,

A vida, que é tão frágil, muitas vezes nos fragiliza com surpresas que há muito conhecemos e propositalmente fingimos esquecer. Ela chega para nós assim como se vai: sem nenhuma resposta para nossas inúmeras perguntas. E deixa a dor pulsando em nós, entretanto é necessário transformar tal dor em garra para continuar vivendo, buscar novos sóis a cada dia.

Eu conheci de perto o amor entre você e o Ronaldo, presenciei o começo de tão belo sentimento e afirmo com total certeza que ninguém jamais verá o fim. Pois o que permaneceu presente em seu peito, mais vivo que nunca, nunca será apagado pela separação física que a vida impôs a vocês. Sei que hoje dói, machuca e dilacera, mesmo não imaginando o quanto. Que os dias sem sorrisos se tornam quase impossíveis. E que o sentido da vida se esvaiu junto à dele. Mas toda vida é um milagre e abandonar a sua não trará a dele de volta, e por mais que cesse brevemente está dor que você carrega nos olhos, trará muito mais aos que continuam tentando acordar a cada manhã.

Quero que saiba que estou aqui para que compartilhe comigo toda essa dor e alivie a alma. Ofereço-te meu ombro para lágrimas que seu travesseiro não agüentar e meu ouvido para qualquer desabafo e gritos que necessitem sair. Hoje a razão para persistir na vida se encontra invisível por conta das lágrimas, mas logo o tempo virá secá-las. Ainda há muita felicidade para ser vivida e caminhos a serem trilhados por você. Ronaldo desejava-te isso assim como eu desejo. Não desista, Pâm, eu estou aqui.

Com todo meu carinho e amor,
Fê.

Carta I.

Rio de janeiro, 1 de setembro de 2010.

Querida Fê,

Socorro! Eu tenho vagado tão perdida por essas noites escuras e dias sem sol que sinto que a qualquer momento posso cair desse precipício. Tenho trazido no peito uma dor sem remédio, que o coração faz questão de expulsar para todo o corpo a cada pulsar. E a cada respirar vai se tornando mais difícil manter a vida, dói demais. Desde a noite que as pálpebras de Ronaldo se fecharam, impedindo o brilho dos olhos irradiarem luz, tenho me sentido cega para qualquer outra coisa além da dor. A ausência, a saudade e até o amor têm me dilacerado. Eu não vejo motivos para a vida, para viver.

Hoje a tristeza se encontra percorrendo cada traço da minha face e obrigando os lábios esconderem os dentes. É que em cada cômodo da casa eu sinto o perfume dele, em cada música eu me lembro das suas palavras, em cada filme eu revivo nossa história, e já se tornou mais do que insuportável só encontrá-lo em memória e não em abraços. A minha mente preenche o vazio do peito com porquês que não sei e raiva da vida por ter separado nossos dedos entrelaçados. O psicólogo disse-me que está recente e tais sentimentos e recordações são normais, entretanto parece que nunca irá se ausentar. Eu o sinto mais vivo que nunca aqui dentro, mesmo assim não basta, não supri quando o contrário se faz aqui na realidade física.

Eu estou abandonando tudo, Fê. Assim como a felicidade vez comigo. Não suporto mais dizer por ai que está tudo bem quando do lado de dentro o coração encontra-se revirado e estilhaçado. O travesseiro não agüenta mais minhas lágrimas tanto quanto eu não agüento essa espera pelo tempo que aliviará minha alma. A vida não se faz mais vida diante dos meus olhos depois que a dele se foi. E as lembranças apenas me matam mais, assim como aquele sentimento do coração que antes trazia vida e hoje a tira de mim.

Com desespero e solidão,
Pâm.

Incompleto.


Eu te desejei no meu dia mesmo que por algumas horas. Já faz algum tempo que você disse que voltava e não voltou. Não estou, nem quero te cobrar nada, você não me deve. Eu só queria expressar de alguma forma que seus sorrisos fazem falta. É que o dia hoje foi lindo, trouxe felicidade de sobra e eu quis dividir com você, como havia dividido comigo tempos atrás. Parece que multiplica quando o brilho nos olhos reflete nos meus e nos seus. E a nossa música tocou também, o coração ficou apertado. Ele precisava da adrenalina que você traz em cada toque, que acelera e faz festa. Mas não se preocupe, eu supri, mesmo que por pouco tempo, com umas doses de tequila e alguns chocolates. Na verdade eu só queria te contar que hoje houve sol, dentro e fora de mim. E que mesmo assim, não foi completo sem você.

Sempre dói.


E o que mais dói é a saudade. Não é o abandono, o desinteresse, o amor ou até a sua falta. É a saudade. Abrir os olhos pela manhã e sentir a lembrança percorrer todo o corpo até atingir o coração e rasgar o peito em ausências. Fechar os olhos ao anoitecer e ver cada detalhe seu invadir os meus sonhos e me roubar o sono ao trazer mais vazio. É te encontrar em cada pessoa, em cada palavra, em cada perfume. Sentir o frio e lembrar do teu calor, ausente. Ver o céu nublado e relacionar com a falta do seu sorriso, tantas vezes sol. Ter o coração pulsando lentamente, doído, sufocado. Afogar os olhos em sentimentos transbordantes, amargos. Ter nos lábios o azedo-desilusão ocupando o lugar do doce-beijo. É encontrar sempre a ausência tão presente ao invés do seu abraço para bani-la para sempre do meu peito.

"Quando você sente saudade demais de uma pessoa, então começa a vê-la nas outras, em todos os lugares, de costas, por um jeito de andar, de sorrir ou virar a cabeça de lado" (Caio F. Abreu)

31 de agosto de 2010

Tentar [des]amar.

O vento frio transformava em cristais de gelo a tristeza que a percorria a face. Já havia decidido que o esqueceria. Gritou aos quatro ventos que não o amava mais, todavia o coração a contradizia. Não que ele não desejasse transformar as palavras falsas dita pelos lábios em verdade acolhida pela alma, pois ele já estava exausto e úmido demais. Mas ele não sabia esquecer os sorrisos, apagar os momentos e abandonar os sentimentos enraizados. Era como abrir mão da vida, e doía a cada pulsar. Doía o amar e o tentar desamar. O pulmão rejeitava qualquer ar que não fosse o mesmo respirado pelo causador do amor e obrigá-lo a respirar se tornava mais difícil a cada avançar do relógio. Os olhos se apertavam e escondiam da visão as fotos, as cartas, mas as lembranças permaneciam vívidas. O sono se ausentara por muitas noites e nos breves momentos que surgia era para trazê-la sonhos incapazes de serem reais. E a angustia crescia na mesma proporção da saudade, do não poder saciá-la. Entretanto ela tentava criar vida a cada dia, maquiava um sorriso no rosto que negava toda a destruição que trazia no peito e esperava que nessa nova manhã conseguisse matar o amor dentro de si e renascer.


Depois daquela noite.

A lua iluminava o céu e a música alta fazia o corpo vibrar. Você me trazia sorrisos imutáveis e um sentimento voraz que eu tentava esconder atrás de um rosto corado. Mas o brilho no olhar me entregava sempre que nossos lábios se uniam naquela sintonia única e perfeita. As horas correram e o nascer do sol te levou com a lua que há muito não brilhava tanto. Nas noites que se seguiram meu coração te trouxe em sonhos através de cada instante registrado em lembranças. Cada palavra, cada olhar, cada toque gravado no peito. Entretanto as folhas do calendário foram passando e o coração sentindo que aqueles sentimentos escapavam por entre os dedos e que não voltariam fazer morada em mim. A estação mudou e nossos passos seguiram caminhos oposto onde a ausência só se preenchia por memórias. O corpo se adaptou à falta da sensação de estar nas nuvens e os pés voltaram a sentir o chão. Mas de repente sua voz trouxe de volta música aos meus ouvidos e despertam lembranças de uma noite além de palavras, estas mesmas que fogem sempre que tento traduzir tudo aquilo que você causou em mim. Os sentimentos inexplicáveis aceleraram o coração no mesmo ritmo de antes e vida se fez presente em cada parte do corpo.

29 de agosto de 2010

Em mais uma tarde.


Eu abro a porta e vejo você, como de costume, sentado na nossa mesa de sempre, bebendo um milk-shake de chocolate e me oferecendo aquele sorriso encantador que apaga o mundo. Sem intervir deixo meus passos me guiarem até você, não lembro quando, mas já faz tempo que meus pés me levam automaticamente a caminhos que se cruzam com os seus. Você me puxa para um abraço e me faz desejar permanecer envolvida por essa segurança para sempre. Conversamos sobre nossos dias, sobre as saudades que sentimos, sobre o tempo, sobre o amor que nunca nos abandona. E eu sinto o rosto ficar quente em resposta ao seu olhar invasor. Sempre é difícil sentir você ler todo esse amor em minha alma e ouvir suas palavras mudas no olhar dizendo que é recíproco. Sempre fica fácil quando você une nossos lábios e eleva minha mente a um paraíso singular, nosso. Como de costume nos perdemos assim, um no outro, em mais uma tarde, com os dedos entrelaçados e os corações unidos pelos lábios.

Eu gosto.

Eu gosto do som da sua risada. Da forma engraçada que ela surge, surpreendente, e da forma calma como ela se esvai. Gosto do seu olhar, de me perder nele e encontrar o mesmo alguém de anos atrás, aquele amigo com quem eu chorei e a essência de imperfeições perfeitas pela qual me apaixonei. Eu gosto da sua voz. Do som musical quando me chama e diz que estava com saudades. Gosto também das suas palavras. Da forma mágica que elas me envolvem e me fazem viajar. Eu gosto do seu abraço. Você tem uma forma única de me envolver em seus braços e fazer tudo externo a nós desaparecer. Eu gosto, muito, de como me sinto quando estou com você. Sabe aquela história de borboletas no estômago, mãos suando, coração na boca? Então, ela se ausenta inteiramente quando seus dedos ocupam o vazio entre os meus. Eu me sinto leve. Sinto aquela paz tomando meu corpo e elevando meus pensamentos. Não preciso de mais nada, não quero mais nada. Tudo pára, dentro e fora de mim. É ímpar. E eu gosto disso em você, do que você causa em mim.

Talvez, seja verdade e, eu realmente goste, tanto assim, de você.

Infeliz falta de sorrisos.

Eu tenho escrito tanto, reparado tanto, falado tanto sobre o sorriso alheio. Talvez seja por causa da chuva. Há tanta dentro de mim que talvez eu esteja buscando nos sorrisos alheios algo que me faça sorrir. Não muda muita coisa. Surge aquela faísca de empolgação pela felicidade, mesmo não pertencente a mim, e logo se apaga. Fica apenas a fumaça de lembrança, de esperança desfalecida. Dizem que esta é a última a morrer, como me encontro então? Sem vida assim como a alma aparenta e o corpo tenta esconder atrás de sorrisos mal maquiados. Ultimamente só acho que há vida, mesmo breve, pela raiva que ainda impulsiona esse coração. Raiva que percorre o corpo, faz correr o vermelho das veias. Raiva dessa busca inalcançável, superestimada imposta pela vida. Aquela interminável pela tal almejada felicidade.

26 de agosto de 2010

Vitória.


Eu venci. E eu precisava te contar. Na verdade apenas para você, pois é sobre você, sobre o que você causava em mim. Sim é o pretérito presente nas minhas palavras. Palavras, sentimentos e pensamentos. Essa é a vitória, meu bem. Eu consegui aplicar o tempo verbal adequado, guardar o que se foi a sete chaves e perdê-la por aí. Eu consegui ajustar as vírgulas, apagar as reticências e pôr um ponto final. Também consegui ler lembranças sem sentir os olhos transbordarem e entender errado por conta da visão embaçada. Eu consegui mudar a música, o ritmo e a dança dos meus pensamentos, eles ganharam novos pares. E no coração eu consegui fazer festa com direito a risos e gargalhadas. Festa de despedida, de re-começo, de novo(s) amor(es). Eu consegui. Eu venci. Eu te esqueci.

25 de agosto de 2010

Demais você.


Eu ando pensando demais você. Mais do que o aceitável, além do já imaginado. Como se cada parte do meu dia estabelecesse uma conexão automática com o que passamos. Eu sempre fecho os olhos, eu tento ignorar, sem sucesso. Eu ando sonhado demais você. Mergulhando em ilusões sem fim, revivendo aquela noite, imaginando tantas outras. Eu ando sentindo demais você. Sentindo o seu abraço gravado no peito, o seu beijo nos lábios, a sua voz na memória. Sentindo saudades, intermináveis. E eu ando escrevendo demais você. Todas as minhas palavras tem se resumido compulsivamente em ti, como se a minha capacidade de inventar histórias e reinventar sentimentos tivesse se ausentado de mim para dar espaço à todo esse sentimento sobre você. Talvez seja por isso que eu tenho evitado tanto transcrever o peito no papel. É difícil admitir que exista algo tão intenso assim aqui dentro, e que este se direcione totalmente a você.

Eu ando amando demais você.

24 de agosto de 2010

Alô?.


“Eu estava aqui tentando não pensar no seu sorriso,
mas me peguei sonhando com a sua voz ao pé do ouvido
e te liguei.” ( Isabella Taviani – Digitais )

- Alô?
(- Desculpa pela hora, sei que você devia estar dormindo, mas desde aquela (nossa) noite que a insônia tem invadido minhas noites e roubado o meu sono. Os meus pensamentos não deixam os seus olhos saírem da minha cabeça, ou o seu gosto dos meus lábios. Não, eu não estou apaixonada se é o que você pensa, (espero, ou não), eu apenas sinto falta dos meus sorrisos que só você sabe causar. E ultimamente tenho lembrado de ti com uma freqüência inédita, em cada música, em cada livro. Acho que são saudades. Eu sei que só se passaram dois dias, e que nos telefonamos todas as tardes desde então, ainda assim não é a mesma coisa de quando o mundo pára para eu me perder nos seus olhos e me encontrar em seus lábios. Bom, eu acho que já falei demais, não quero roubar-te o sono, já basta uma com noites de sol. Só queria ouvir sua voz mais uma vez... Boa noite. )
- Alô?
- Tu, tu , tu , tu (...)

Ela desligou o telefone em silêncio. As palavras se mantiveram emboladas com sentimentos no coração que vez ou outra se encontrava na garganta. Ainda assim ela tinha um sorriso enorme enfeitando a face. Ela havia ouvido a voz dele. Motivo de sobra para doces ilusões, coração acelerado e mais algumas noites em claro.

Quando surge a felicidade.


Ela andara por muitas ruas, esquinas, avenidas e nunca achara algo que a aquecesse, tremia de frio. Seus pensamentos se perdiam entre os céus sem estrela e o peito guardava aquele vazio esmagador. Era incomum passar por tantas pessoas e apenas passar. Sem aquele sentimento belo nascer no peito. Era sempre ausência, ausência, ausência. Passou a se ocupar com muitas coisas e qualquer coisa, deixou para lá o desejo incoerente por sentir. Havia muitas distrações, aquelas que ocupam vagamente a mente e deixam espaço, este que ela preenchia com vazios e mais do mesmo. Ela tentou se contentar e um dia até pensou ter encontrado a borboleta colorida de quando se é feliz. Equivocada foi. Um dia, um qualquer, daqueles que tem tudo para ser nublado, ele surgiu. Ele a sorriu. O frio passou e a pele estranhou o calor em um arrepio, surgiram estrelas no céu, o vazio se esvaiu de mãos dadas com o tentar se contentar. Ela conheceu a felicidade, sorriu, amou. Não queria nada menos.

Eterna primavera.

Ando me flagrando com os olhos fechados relembrando o seu rosto e todos os seus detalhes fixados na memória. Tantos invernos se passaram desde a concretização daquele sentimento e tanta coisa mudou. Hoje é paz que você me traz ao respirar, alma leve. E ainda sim sinto o sentimento de antes incendiar a cada abraço. Você está voltando a ser protagonista de meus pensamentos. É até estranha a forma que te vejo em tudo a minha volta. Conspiração do universo eu suporia, se não soubesse que já estava escrito muito antes de nos encontrarmos que nos completaríamos assim. Você apaga passado e futuro quando estamos juntos. Tudo muda. É tudo novo, tudo único. Surge aquele desejo de que dure para sempre fazendo festa em mim, me fazendo trocar palavras e gritar sorrisos. Com você eu me sinto assim, em eterna primavera. Os olhos brilham, eu confesso. Você sempre teve esse dom de fazê-los brilhar. As horas passam corridas sem se pronunciarem e eu sempre fico desejando ter mais tempo, ter mais você.

Eu não sei muito bem o que vou fazer em seguida, mas por enquanto olha pra mim e me ama.
(Clarice Lispector)

Logo você volta.!?

Já faz tempo que estou sentada aqui tentando avançar os minutos, horas e dias para ver se te encontro no meu futuro, pois meu coração não se alimenta mais de passado vivo em memória e não te ter aqui no presente faz com que as saudades corroam-me. É estranho esse vazio entre meus dedos e esse abraço de lembrança. O frio se aproxima a cada segundo que te procuro e não encontro. O silêncio grita ausência que fere. Suas desculpas ridículas para não sairmos da cama nunca pareceram tão certas. Eu passaria o resto dos tempos com você na cama agora, mas só encontro seu perfume entre os lençóis. A chuva bate lá fora, mas mantenho a porta fechada repetindo que você logo volta, mas sinto como se esta fosse se abrir a qualquer momento. Eu só preciso ouvir sua voz me dizendo que está tudo bem (que o amor continua fazendo morada em você assim como em mim) e que logo você volta. Logo você volta.!?

23 de agosto de 2010

Querido você,.

O que eu realmente queria era te dizer estas palavras bonitas que surgem quando penso em você, no seu olhar, no seu sorriso, entretanto não saem do papel. Na verdade quando você me envolve em seus braços as sinto nas linhas dos lábios, a um segundo de se pronunciarem, mas então elas voltam se embolam e formam um nó na minha garganta. Eu tenho medo. Eu tenho medo de dizê-las a você, entregá-las sem aviso e elas não causarem em você o mesmo que causam em mim. Pois há uma grande chance de que o que elas traduzem existir somente aqui, nessa confusão de sentimentos que me constituem e me dão vida. E mesmo sendo assim tão complicado tratar de ‘você’ e ‘eu’, sinto fácil imaginar ‘nós’. Sendo assim, sentindo tudo o que poderíamos ser juntos, passo a te odiar em tudo. Nessa forma que você tem de me abraçar, tão intensa que parece que não haverá fim e então você me solta. Desse jeito que usa as palavras para dizer que sente minha falta e em seguida desaparece. Com essa voz ao me chamar e com o silêncio que prossegue. Passo a te odiar demais. Ou quase. Talvez eu até pudesse se eu não te amasse tanto assim.

"E eu tenho vontade de segurar seu rosto e ordenar que você seja esperto e jamais me perca. E que entenda que temos tudo o que duas pessoas precisam para ser feliz”

22 de agosto de 2010

De certa forma, ele traz vida.

Então ele me sorriu com ar de veludo me roubando o fôlego. Seria loucura tentar evitar. Sorri em resposta automática. Ele causava isso em mim, felicidade de graça, nascente em cada parte do corpo. Conversamos várias voltas do ponteiro menor. Ele segurando meu olhar levou-me por aí. Entre céus azuis e arco-íris-alegria, palavras que expeliam vida. Era como se uma eternidade tivesse passado desde o último encontro, fazia-me gravar cada instante. No fim, anterior a mais uma partida que minha alma desejava ser breve, eu dei a volta ao mundo, num segundo que se eternizava em lembranças do peito, quando um último abraço ele me deu. Senti a distância de cada passo que ele dava, ao se aproximar do fim da rua, trazer um gosto de quero mais aos lábios, um desejo interminável de um segundo a mais imersa no sorriso dele. Entretanto ao ver sua imagem sumir na noite me satisfiz com o sorriso que ele deixou gravado no meu rosto.
"O sentimento do irreparável gelou-me de novo.
E eu compreendi que não podia suportar
a idéia de nunca mais escutar esse riso.
Ele era para mim como uma fonte no deserto".
(O Pequeno Príncipe)

Espera.

Ela tinha ansiedade mordiscando seu lábio inferior, olhando o celular a cada cinco minutos, trazendo sorrisos bobos, imaginando sonhos ilusórios. Tinha também aquelas borboletas que a desconcertava os passos enquanto corria para atender a campainha, numa esperança que brilhava nos olhos, esperando ser alguém em especial. Carregava na mente cenas que se repetiam milhares de vezes e no peito aquela sensação da pele arrepiando. Na boca ela escondia o gosto de quero mais, a mesma que se via em caps lock escrita nos olhos escuro-luz. Nas palavras encontrava sempre o mesmo nome. Na música uma relação quase-mística com o que passara. Os perfumes se viam neutros e as vozes comuns perto da que a memória revivia a cada avançar do ponteiro. E o ponteiro se arrastava, a fazia reviver lentamente em lembranças sensações únicas enquanto esperava com o coração percorrendo cada parte do corpo até escapar pela boca quando pudesse reviver além de sonhos todos os sentimentos ímpares que somente ele a fazia sentir.
"Que medo alegre, o de te esperar."
(Clarice Lispector)

20 de agosto de 2010

Ao contrário.

Eu olhava nos olhos dele e via o amor presente nos meus refletido no castanho profundo. Havia um vazio, um nada que só sabia refletir, sem sentir fazendo lágrimas nascerem no canto do espelho da minha alma. Aquele brilho de sorriso que antes radiava alegria em seu rosto, dava espaço a uma dor que eu não entendia. Era estranho olhá-lo e não sentir vontade de sorrir, era como concretização do que há muito se via impossível. E quando os lábios dele se abriram, um balde de água fria congelou-me trazendo sons opostos ao de costume. Sua voz era ríspida, forte, destruidora. Via-a claramente na minha feição que se fazia espelho e se despedaçava em mil cacos irreparáveis. Meus lábios se apertaram na tentativa de segurar a chuva nascente, transbordante. O silêncio abraçou a dor, tornou-a mais sufocante. Um grito fez-se nó na minha garganta. O coração debatia-se entre as paredes do meu peito querendo fugir, querendo refúgio, entretanto só havia vazio indiferente nos braços que se cruzavam na frente do peito dele. Era um muro reforçado com mil sentimentos devastadores que separava-nos, afastava-me mais e mais. E tudo ficou sem sentido. O calor congelou, o sorriso chorou, o amor machucou. E eu perguntei inocente, por que ele estava fazendo meu mundo girar ao contrário.

19 de agosto de 2010

Amor bandido.

Já faz tempo que todos os desejos que habitam meu ser se resumem a você e a este sentimento insaciável que me roubou o peito. Meu coração enlouquece num pulsar acelerado quando escuta seu nome, sua voz ou qualquer coisa que se relacione a você. E quando estás por perto perco o controle sobre palavras, atos e o coração comanda o ritmo que nos embala. Entretanto tal perca de controle traz conflitos internos quando a razão grita com o coração ferido no dia seguinte perante o telefone que se faz mudo. Vem aquela indiferença, vazio intenso que traz consigo uma dor imensa. É um vício a mente afirma. Quando seu olhar não está perto para alimentar as ilusões o corpo sofre abstinência de solidão profunda, que machuca e dilacera. Um vazio que engole os sentimentos e vontades como um buraco negro. Deixa-me sem saídas, sem alternativas. Amar-te foi lindo, foi bom, entretanto não saciava além das linhas de um coração iludido. Sendo assim devo-lhe dizer que mesmo doendo-me no peito abandono, ou tento, esse amor bandido.

Adeus.

17 de agosto de 2010

Ainda sinto você.

Ainda consigo sentir sua boca na minha, seu gosto, o calor daquele beijo. Ainda lembro-me de casa sorriso seu naquela noite, dos seus olhares e palavras ocultas. Ainda está marcado em mim o seu abraço inigualável. Quando fecho os olhos ainda vejo os seus olhos, ainda me afogo na lembrança deles. Ainda ouço seus sussurros encantadores que me arrepiavam de uma forma gostosa. Ainda revivo em sonhos o que vivemos ou quase-vivemos. Ainda sinto a doce/amarga ilusão me envolver, me levar. E eu ainda deixo. Deixo as lembranças, a dor, o amor. Deixo eles me entorpecerem até me afogar, até que eu transborde sentimentos. De certa forma te encontro neles, e te tenho mais perto, mesmo que na ilusão e no querer de
voltar naquela noite e te ter mais uma vez.

Eu to com raiva. Raiva de mim, dos meus pensamentos, dos meus sentimentos. To com raiva das palavras. Pois tudo que eu penso, sinto e escrevo se relaciona inteiramente com você. Com o que você causou em mim. Dá raiva admitir que exista tanto de você aqui dentro e que talvez não exista nada de mim aí.

Avesso.

Eles eram completamente diferentes. Avessos. Opostos em cada traço, físico e psicológico. Ele loiro, olhos azuis, alto, errado. Ela morena, olhos negros, baixa, certa. O estilo de música de um sendo rock e o do outro reggae. O gosto para filme ação contra romance. Um apaixonado por animais e o outro alérgico. Madrugada em shows e tarde em casa. Comida picante e comida sem sal. Verão e inverno. Calar e falar. Sorrir e chorar. Racionalizar e sentir. Tão opostos, tão díspares, que se encaixavam como quebra-cabeça. Sintonia, química perfeita. Daquelas que tiram o ar, eleva a mente, rouba o controle corporal e vira de ponta cabeça o emocional. Coisa de louco: loucura, diziam por aí. Mas eles entendiam, sentiam. Era perfeito e ímpar, da maneira deles.

Num abraço, num momento qualquer, eles extinguiam a disparidade e se tornavam um. Achavam o similar na forma de amar.
Bastava.

13 de agosto de 2010

O nosso inverno ensolarado.

Hoje encontrei em memórias antigas um inverno que pertenceu a nós. Surpreendi-me com os sorrisos constantes que você havia trazido aos meus lábios e ficaram guardados. Tanta coisa ficou guardada. Aquele sentimento inocente, bobo, contraditório e feliz também. Empoeirado, mas ainda sim bonito. Quando lembro, ele, ainda, traz aquele brilho aos olhos. E quando falo de brilho aquele dia ensolarado no meio do inverno me rouba os pensamentos. O céu estava nublado com nuvens que escondiam maquiavelicamente o sol, entretanto os seus olhos traziam vida, radiavam tudo em volta. Era incrível a capacidade que tinhas de me fazer sorrir com o olhar. E naquele dia na sorveteria do Sr. João, aconteceu nosso primeiro beijo. Foi enquanto você me olhava que eu me perdi no vermelho que cobriam minhas bochechas que, sem sucesso, tentava esconder o quão grande era o amor que eu tinha no peito e o quão era difícil admitir que fosse inteiramente dedicado a você.

Em silêncio nos olhávamos por cinco, dez minutos
Ela com as mãos na altura dos quadris
Agarrando, torcendo a própria saia
E corava pouco à pouco até ficar bem vermelha
Como se em dez minutos passasse por seu rosto uma tarde de sol
A um palmo de distância dela, eu era o maior homem do mundo
Eu era o sol. (Chico Buarque)

11 de agosto de 2010

Vida em palavras: história.

Em noites sem fim nasciam certas histórias e versos entre linhas tortas ao experimentar melodias não ideais ao lado de um copo com Johnny Walker até a boca, o mesmo que vestia a tristeza em traje de gala alegre. O Tempo havia se perdido entre dias, foi abandonado no caminho que se fazia tão extenso como tal. Então surgia a primeira letra, as primeiras palavras e o inicio de uma história que vagava por entre linhas que não lhe davam pista de quando/como viria/seria o fim. E este alfabeto reorganizado certas vezes encontrava gotas salgadas que borravam a tinta vinda da caneta azul e manchavam o papel há pouco branco. A emoção era trazida aos olhos pela embriaguez clara, a visão se tornava turva e as palavras atravessavam as linhas em curvas e espirais angustiantes. Era a história da vida a ser escrita. Destino mesclado com decisões. Ápices de felicidades seguidos por tristeza profunda. Era uma montanha russa incerta, altos e baixos eloqüentes, embrulho no estômago e palavras em voz entre lábios certa horas ríspidos e outras doces. Vôo sem asas, mas com alguns pára-quedas. Linhas e mais linhas preenchidas, transbordando sentimentos. E quando o fim da folha a palavra descobriu, as letras mudaram e se reorganizaram. A vida encontrou o fim da linha, tornou-se morte. Sem vírgulas. Com ponto. Era o fim de mais uma história.

Erro[s].

O meu erro foi ter confiado em você todos os meus sentimentos, meu amor. Meu erro foi ter depositado em você tantas expectativas, esperanças, ilusões. O erro foi ter esperado que você me fizesse feliz, quando na verdade a felicidade deveria vir der mim e os sorrisos leves, alegria momentânea ou até mesmo eterna, se tornasse conseqüência de estarmos juntos, lado a lado, abraçados. Deveria ter sido assim, mas não foi. Eu lhe entreguei de forma intensa, rápida, todo o amor que havia em mim, mesmo que não fosse causado ou pertencente a você. No fim toda aquela intensidade dilacerou as pétalas de rosa, meu coração em cacos ficou. Eu lhe fiz príncipe, moldei-te em meus sonhos ou os meus sonhos até caberem em você, enfim te fiz de quimeras, irreal. Quando a fantasia caiu e o devaneio se desfez veio aquela decepção úmida, sorrisos inversos. O que restou foi solidão, felicidade escapando pelos dedos, medo de sonhar. As nuvens densas esconderam o sol, trouxeram chuvas. E desde então nas madrugadas onde o calor se ausenta eu me encontro no canto do quarto olhando todo o vazio que sempre existiu, mas que por tanto tempo se escondeu. Nasce aquela necessidade de reinventar a felicidade, mas sem que eu encontre uma brecha se quer para a alegria. E eu relembro o que a memória guardou e vejo que o maior erro foi ter te feito único, pois agora, sem você, nada restou.

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